João Parahyba, Fritz Escovão e Nereu Gargalo tocavam juntos desde 1966, mas tratam 1968 como o ano de fundação do Trio Mocotó. Naquele começo de estrada, o trio formava uma banda de apoio de Jorge Ben Jor, que conheceu o grupo tocando no Jogral, uma casa noturna paulistana.
Foi Jorge Ben quem sugeriu o nome de Trio Mocotó, em uma referência à sua música Eu Também Quero Mocotó. O grupo fazia uma batida diferente de samba, que casava com o violão muito pessoal de Jorge Ben.
“Somos grooveiros. É muito dançante. O que a gente sempre fez foi groove”, disse João Parahyba a CartaCapital. A levada swingada acabou nomeada como samba-rock.
O Trio Mocotó fez história na década de 1970 com o lançamento de três discos na fusão entre o samba, o rock, o funk e o soul. Isso ajudou a impulsionar a música negra no Brasil, que vivia em ascensão com o surgimento de bailes no Rio de Janeiro e em São Paulo.
“O movimento foi ganhando uma força muito grande e nos adotaram como representantes da black music no Brasil”, conta João. Depois, o movimento da black music sofreu um apagamento na história da música brasileira — e o fundador do Trio Mocotó reconhece que a luta continua. “É uma mentira que acabou o racismo ao negro.”
O grupo se abalou com a morte, no ano passado, do guitarrista Marco Antônio Gonçalves dos Santos, o Skowa, que substituiu em 2003 Luiz Carlos de Souza Muniz, o Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó, também falecido no ano passado.
“Eram duas cabeças importantíssimas. O Fritz compunha muitas músicas e era um grande cantor. E o Skowa era um Fritz moderno, um fora de série. Foi bem pesado perder os dois no mesmo ano”, diz Parahyba. O Trio Mocotó agora tem na guitarra Melvin Santhana.
Para o segundo semestre, o grupo planeja até o lançamento de um novo disco. “Talvez a gente faça um disco com músicas históricas. Os DJs estão pedindo. Temos muitos amigos DJs. De 2000 para cá eles, junto com o Clube do Balanço, relançaram o samba-rock.”
Os últimos discos do Trio Mocotó foram Beleza, Beleza, Beleza!, de 2003, e um com o trompetista norte-americano Dizzy Gillespie, que era uma gravação dos anos 1970, mas foi lançada somente em 2010.
João Parahyba acompanhou todas as mudanças do mercado fonográfico, do disco de vinil até o streaming. O setor, segundo ele, “afunilou para as big techs“.
“Quanto eram gravadoras, elas tinham grandes prédios com grandes advogados. Ou a gente assinava o contrato daquele jeito ou não gravava e não aparecia”, relembra. “Hoje, a gente grava quando quer, o que quer, como quer, mas quem distribui são as grandes techs. Elas ganham 99%. É ridículo o que pagam para gente. É a colonização musical.”
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