Policial rodoviário federal forçando a paralisação de ônibus em estrada. Foto: reprodução

Por Leonardo Sakamoto

A Polícia Federal indiciou quatro ex-diretores e coordenadores da Polícia Rodoviária Federal por conta dos bloqueios que tentaram impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação no segundo turno de 2022, informa Aguirre Talento, no UOL. O Brasil avança contra golpistas enquanto, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump perdoa cerca de 1,5 mil de seus seguidores que tentaram melar, na base da porrada, o resultado da eleição de 2020, que ele havia perdido.

A comparação é importante, pois a atual gestão em Washington quer reafirmar para o resto do mundo a imagem vendida pelos EUA de farol de democracia e liberdade. Mas há uma democracia muito da fajuta se as regras são assassinadas sob a justificativa da liberdade absoluta, inclusive a criminosos que tentam golpes de Estado.

Criminosos que, depois, são perdoados como heróis ou mártires da pátria. Aliás, por curiosidade, quem usa a mesma nomenclatura são grupos fundamentalistas religiosos.

A PF já havia indiciado o ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, que amargou quase um ano no xilindró. O caso dos bloqueios, principalmente em regiões do Nordeste onde Lula havia surfado no primeiro turno, inaugurou a temporada de golpismo bolsonarista no Brasil.

Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, e Bolsonaro. Foto: reprodução

Naquele 30 de outubro de 2022, o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, ameaçou Silvinei de prisão se não liberasse as estradas em 20 minutos. “Ou você para os bloqueios ou você vai para a cadeia”, relatou reportagem da revista Piauí que narrou o encontro entre os dois no dia do segundo turno.

Em junho de 2023, o ex-diretor da PRF tratou os parlamentares da CPMI dos Atos Golpistas como idiotas ao dar justificativas toscas para os bloqueios nas estradas. “É um crime impossível, que não ocorreu, não tem como. Como falaríamos com 13 mil policiais explicando essa forma criminosa sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem uma reunião, sem nenhum e-mail enviado?”, questionou.

Cinismo em estado mais puro. Basta que algumas pessoas da cúpula foquem os bloqueios sem informar a real intenção.

A partir do momento em que o diretor-geral da PRF começou a agir como cabo eleitoral de Jair, ele deveria ter sido afastado de suas funções. Como não foi, a corporação foi usada pelo bolsonarismo em duas tentativas de golpe. Na primeira vez, emperrou o transporte de eleitores mais pobres. Na segunda vez, a PRF fez vistas grossas aos protestos golpistas que trancaram rodovias em todo o país nas semanas seguintes à vitória do petista.

A PRF, que sempre fez um excelente trabalho em ações de combate ao trabalho escravo e ao tráfico de seres humanos, alinhou-se à ideologia extremista do presidente e passou a transmitir a imagem de uma instituição que servia para a contenção dos mais vulneráveis e para ações golpistas. Exemplo disso foi a morte de Genivaldo de Jesus Santos, negro, desarmado, que dirigia uma motocicleta velha e vivia com uma doença mental, assassinado por policiais rodoviários federais que o trancaram em um porta-malas de uma viatura junto com uma bomba de gás em Umbaúba (SE).

PRF intercepta ônibus para fiscalização. Foto: reprodução

Desde que assumiu, Bolsonaro atuou para sequestrar instituições de monitoramento e controle. Sem ter conseguido garantir o apoio irrestrito da Polícia Federal, apelou à sua irmã. Inclusive a PF foi solicitada a ajudar a PRF nos bloqueios, mas não topou. Transformada em polícia política da extrema direita, a PRF teve papel fundamental, ajudando a colocar a República em estado de alerta.

Avançando com a punição aos golpistas do processo que culminou no 8 de janeiro de 2023, com a invasão e destruição das sedes dos Três Poderes, em Brasília, as instituições daqui dão um exemplo às dos Estados Unidos. Com os perdões de Trump, punição pela invasão golpista de 6 de janeiro de 2021 ao Congresso norte-americano também cai por terra.

Naquele dia, o presidente empurrou seus seguidores para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden. Com isso, ele não está salvando a democracia e a liberdade de expressão, mas aliviando a barra de criminosos. Pois é isso o que golpistas são em uma democracia: bandidos.

O processo contra Trump sobre esse caso não deve caminhar enquanto ele for presidente, cargo que ele vai deixar aos 82 anos – quando dificilmente seria punido. A sua vitória eleitoral também o ajudou a afastá-lo da punição.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falando com expressão séria
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – Reprodução

No Brasil, Jair Bolsonaro está inelegível até 2030 após ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações por abuso de poder durante as eleições de 2022. Os EUA não têm Justiça Eleitoral como a nossa. Além disso, avança de forma mais sólida a investigação e indiciamento de envolvidos no processos golpista de 2022 e 2023. Temos até general preso de forma preventiva.

Isso não significa que não exista uma forte ação coordenada para aprovar uma anistia no Congresso ou pressionar o Supremo Tribunal Federal a pegar leve com Jair e outros planejadores do golpe no julgamento que deve acontecer neste ano. Então, as instituições e a sociedade precisam estar atentas.

Até para garantir que o que estejamos vendo nos Estados Unidos hoje não seja o nosso futuro em dois anos, tal como o 6 de janeiro antecedeu em dois anos o 8 de janeiro.

Publicado originalmente no Uol

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Last Update: 22/01/2025