Em 1942, o filósofo Max Horkheimer escreveu: quem não tem disposição de criticar o capitalismo deveria se calar sobre o fascismo.

Sua lógica era simples: o nazifascismo, expressão do colonialismo clássico em território europeu, é o capitalismo que decidiu comer sem garfo e faca. Propagandistas liberais, como Ludwig von Mises, reconhecem isso ao atribuir méritos ao fascismo por, segundo ele, ter salvo a civilização europeia da ameaça bolchevique.

O fascismo, no fim das contas, é uma alavanca de emergência que o capitalismo aciona em momentos de crise. Não é um ponto fora da curva, mas uma medida extrema da qual se lança mão para proteger as classes dominantes do avanço do povo trabalhador organizado.

A tradição de Hitler e Mussolini é a tradição do imperialismo dos séculos XIX e XX. Em virtude de suas unificações tardias, Alemanha e Itália chegaram atrasadas na partilha do mundo. Hitler admirava publicamente a colonização britânica na Índia, tendo manifestado, por mais de uma vez, o desejo de replicá-la. Até suas ambições imperialistas baterem de frente com as do Reino Unido, contava com a admiração pública de gente como Winston Churchill.

Por isso, o gesto de Elon Musk na posse de Donald Trump foi coerente. Musk, que já fez campanha pelo partido AfD, gestor do espólio nazista na Alemanha, é um bilionário herdeiro de uma mina de esmeraldas na Zâmbia. É membro destacado da classe social que costuma recorrer ao fascismo para manter seus privilégios. O fato de não ter se constrangido é, por si só, sintoma de uma derrota histórica cujas feridas seguem abertas.

O revés do Eixo na 2ª Guerra Mundial e o surgimento da URSS como potência internacional pareceram desativar a alavanca do fascismo. Ainda, a existência de um bloco socialista estimulando revoltas anticoloniais em países periféricos forçava o Ocidente capitalista a adotar parâmetros mínimos de civilização tanto internamente quanto internacionalmente. Foi nesse contexto que antigas colônias como Vietnã, Cuba, Argélia, África do Sul, Angola e Moçambique tornaram-se independentes.

Com o fim da União Soviética, os países centrais ficaram à vontade para jogar sua coleira civilizatória no lixo, avançando para formas ainda mais predatórias. No rescaldo do enfraquecimento da classe trabalhadora em todo o planeta, a alavanca do fascismo voltou a ficar visível – inclusive em suas premissas racistas. Basta notar que os louvores da turma de Trump a uma suposta supremacia do Ocidente liberal e capitalista é, na verdade, um ataque aos “bárbaros orientais” da China, hoje a maior pedra no sapato dos EUA.

“Não há uma canalhice cometida por Mussolini entre 1922 e 1940 que não tenha sido louvada e guindada aos céus pelas mesmas pessoas que agora prometem levá-lo a julgamento”, escreveu George Orwell em 1943.

Mais cedo do que tarde, esta sentença deve ser atualizada com novos nomes.

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Last Update: 22/01/2025