Na última edição do programa Análise Política da 3ª, transmitido pela Rádio Causa Operária no YouTube, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, analisou a política econômica do governo Lula, a situação da população brasileira e, no âmbito internacional, abordou o Oriente Médio e a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
Economia
Rui Costa Pimenta destacou que a política neoliberal empurrou cerca de 100 milhões de brasileiros para condições de vida desesperadoras. Ele mencionou os trabalhadores informais, como os entregadores de aplicativos, que, em suas palavras, vivem “em uma situação de escravidão”. Segundo ele, essa política condena esses trabalhadores a um futuro sem perspectiva, enquanto serviços essenciais como saúde e educação são sistematicamente destruídos.
Além disso, Pimenta criticou a questão do salário mínimo no Brasil, enfatizando que o País possui um dos piores salários mínimos do mundo. Nesse sentido, condenou a política do atual governo, que não tem promovido aumentos reais no salário mínimo, contrariando uma das principais promessas do presidente Lula.
“É um fenômeno histórico. Foi criada uma economia industrial em um País onde a economia era agrária, baseada em uma exploração gigantesca da mão de obra. O ponto de partida do trabalhador mais pobre era a escravidão. O cidadão vivia praticamente em troca de um prato de comida. Na segunda fase da industrialização, durante as décadas de 1950 e 1960, pessoas fugiam da fome no nordeste para trabalhar em setores atrasados da indústria, onde os salários eram muito baixos. As lutas sindicais não conseguiram mudar essa realidade. O salário mínimo foi conquistado, mas nunca foi suficiente.
O que é ruim é ter um governo de esquerda que adota uma política de achatamento do salário mínimo. Lula sempre se orgulhou de aumentar o salário mínimo, mas agora o aumento é mínimo e ele estabeleceu um teto”, afirmou.
O cessar-fogo em Gaza
Sobre o cessar-fogo em Gaza, Rui Costa Pimenta criticou duramente a posição de setores da esquerda brasileira. Ele destacou que grupos como o PSTU tratam o episódio com pessimismo, tentando minimizar a vitória da resistência palestina. Para Pimenta, isso revela uma incompreensão sobre a natureza revolucionária da luta palestina. “O custo humano é algo inevitável em uma guerra contra o imperialismo”, declarou, enfatizando que a resistência em Gaza deve ser vista como uma “vitória revolucionária extraordinária”.
“Uma coisa é certa: eles não enxergam isso como uma vitória. Adotam uma visão negativa, dizendo, por exemplo, que ‘apesar do enfraquecimento, a resistência recrutou novos membros’. Ou seja, segundo eles, a resistência estava quase destruída. Isso é um absurdo. Outros grupos não falam absolutamente nada, como o PCB, enquanto os outros ditos trotskistas permanecem em silêncio.
A esquerda pequeno-burguesa que se diz revolucionária não tem a mínima capacidade de reconhecer um movimento revolucionário. O que aconteceu em Gaza é uma vitória revolucionária extraordinária”, declarou.
Ele também denunciou a política da Autoridade Palestina (AP), que colabora com “Israel” reprimindo a resistência na Cisjordânia, agindo como uma “polícia do sionismo”. Pimenta criticou ainda as tentativas da burguesia de desmoralizar a vitória palestina. “Enquanto os palestinos festejam, em ‘Israel’ o caos é total”, concluiu.
Trump
O grande destaque da edição desta terça-feira (21) foi a posse de Donald Trump. O Diário Causa Operária (DCO) apresenta, abaixo, a transcrição do que Rui Costa Pimenta falou sobre o assunto na Análise da 3ª:
“A primeira movimentação de Trump mostra aquilo que já havíamos dito: ele não responde à política do setor fundamental do aparelho de Estado norte-americano, do imperialismo. Ele tem uma política que está em contradição com essa linha em vários pontos.
Sobre [a derrota do sionismo em] Gaza, eu diria que não é nem uma novidade política, mas um reconhecimento do imperialismo de que era impossível continuar com a guerra. ‘Israel’ não estava aguentando. Tudo indica que Trump aposta na ideia de que os interesses dos Estados Unidos não estão nas guerras. Vamos ver como isso vai se desenvolver.
Uma coisa que precisamos considerar sobre Trump é que muitas de suas declarações têm um caráter teatral. Mas, de modo geral, trata-se de uma mudança de política.
Na questão da censura, ele parece disposto a atacá-la com toda a força. Deu anistia a 1.500 pessoas envolvidas nos protestos de 6 de janeiro e prometeu acabar com a perseguição da oposição pelo Estado. Vamos acompanhar.
Logicamente, um governo Trump é muito contraditório. É um governo dos Estados Unidos, do imperialismo. Mesmo que não tenha sido a escolha principal do próprio imperialismo, ele é parte desse sistema. Agora, as contradições de Trump com o imperialismo são muito grandes, e isso, em geral, é positivo, porque o imperialismo é o grande inimigo dos povos e da classe trabalhadora mundial.
Parte da esquerda brasileira criou a ficção de que o principal inimigo é a extrema direita, e não o imperialismo. Isso não é verdade. O inimigo principal é o imperialismo — sempre foi, sempre será. Não importa se o imperialismo tenta se apresentar como democrático; ele continua sendo o inimigo. Então, devemos considerar que, na medida em que o governo Trump dificulte a ação do imperialismo, isso é positivo. Não que o governo em si seja positivo, mas esse aspecto é.”