Os presidentes do Brasil, Lula, e dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reproução

O jornalista Reinaldo Azevedo afirmou que o governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, “pode facilitar reeleição de Lula” no Brasil. Em sua coluna no UOL, ele apontou que o petista está “tranquilo” para as eleições de 2026.

Para Azevedo, a fala do republicano de que o Brasil “precisa” mais dos Estados Unidos do que o contrário “pode criar dificuldades para o governo”, mas a “sabujice vergonhosa” de políticos de extrema-direita na relação com o presidente americano pode ser “um elemento facilitador da reeleição”.

Leia trechos do texto de Reinaldo Azevedo:

Donald Trump, para a surpresa de ninguém, contou uma penca de mentiras em seu discurso de posse. Não seria Trump se fosse diferente. Ele evoca uma realidade paralela, muito pior do que a original, em que seus adversários conspiram contra “a América” e seu povo, e se anuncia como o salvador, que vai devolver o país à Era de Ouro, desde que todos se unam à vontade do “líder”.

(…) Enquanto assinava seus primeiros decretos no Salão Oval da Casa Branca, Trump respondeu a perguntas da jornalista brasileira Raquel Krähenbühl, da Rede Globo. Deu-se o seguinte diálogo:

Raquel: O sr. falou com o presidente Xi [Jinping] sobre a guerra na Ucrânia? China e Brasil, juntos, têm uma proposta para trazer a Rússia e Ucrânia para conversar…

Trump: Por mim, tudo bem. Eu acho ótimo e estou pronto.

Raquel: E quando o sr. vai conversar com parceiros brasileiros?

Trump: O Brasil está envolvido? Eu não sabia. Você é brasileira?

Raquel: Sim.

Trump: Ah, ok. Então é por isso que eles estão envolvidos, eu acho.

Raquel: Quando o sr. vai falar com o presidente brasileiro? Como o sr. vê a relação com a América Latina e o Brasil?

Trump: Excelente! Deve ser excelente. Eles precisam de nós muito mais do que nós precisamos deles. Aliás, nós não precisamos deles. Todos precisam de nós.

Bem, dispenso-me de ter de explicar que os EUA são um parceiro fundamental para o Brasil. Notaram, no entanto, a arrogância e o sentido do verbo “precisar”? Um país não se relaciona com outro, salvo nos momentos de ajuda humanitária, como benemerência ou caridade. Digamos que os países se precisam…

E saibam: Trump não deu essa resposta como sinal de menoscabo ao Brasil. Em muitos aspectos, a Europa tem mais razões para se preocupar com seus delírios de potência. Num mundo multipolar, o falastrão se manifesta como se a vontade dos EUA fosse a da Roma imperial. Se os EUA ainda fossem o que Trump fantasia que são, convenham, o homem supostamente mais poderoso da Terra não estaria ameaçando o Panamá…

(…) Na reunião ministerial de ontem com ministros, Lula disse a coisa certa sobre as eleições americanas:
“Tem gente que fala que a eleição do Trump pode causar problemas para democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua. Para que o povo americano melhore e que os americanos possam continuar sendo um parceiro histórico”. E ainda: “Porque, da nossa parte, nós não queremos briga com ninguém. Nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China, nem com a Rússia. Nós queremos paz”.

Lula estava bastante sereno. Destaco que, sem ser hostil aos EUA, evidenciou que existem outros atores no mundo, não é mesmo? Anunciou ainda que está muito bem de saúde. Traduzo: é evidente que sua vontade é disputar e reeleição em 2026.

Não havia tensão nenhuma da voz de Lula. Uma especulação: o líder brasileiro pode até estar um tantinho mais tranquilo do que antes.

A extrema-direita e mesmo alguns que se querem direitistas democráticos tratam o presidente americano com sabujice vergonhosa, ainda que a uma razoável distância.

Em mãos habilidosas, pode ser relativamente fácil passar adiante a leitura de que o embate de 2026 se dará entre Lula, “um líder que defende os interesses nacionais”, e Fulano (ou Fulana) de tal, um subalterno do chefão americano, aquele que faz cara de mau. Trump pode criar dificuldades para o governo, sim, mas pode ser, involuntariamente, um elemento facilitador da reeleição de Lula.

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Last Update: 21/01/2025