No artigo “Xadrez de como o PCC substitui o Estado, e o Estado invade o mercado de drogas” abordei dois fenômenos.

O primeiro, a Governança Criminal do PCC nas áreas dominadas por ele, com base em tese de doutorado de Bruno Pantaleão de Oliveira, para a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Através de instituições informais, o PCC conseguiu pacificar as regiões dominadas, reduzir as mortes, abrir espaço para o empreendedorismo e para a geração de empregos. Ao mesmo tempo, definiu regras internas de controle que reduziram as disputas presentes em outras organizações, como o Comando Vermelho, na qual a ascensão de um novo grupo se dá em cima de conflitos e assassinatos com o grupo hegemônico. Consegue-se a paz nas comunidades.

A guerra é deflagrada por milícias ligadas à Polícia Militar e à Polícia Civil, que buscam avançar nos mercados controlados pelo PCC. A prova maior é a ascensão de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach – o delator assassinado no Aeroporto de Guarulhos – e, posteriormente, seu assassinato, 8 dias depois de delatar PMs junto à corregedoria da corporação.

Manifestei minha desconfiança de que, o fato de, finalmente, a corregedoria ter se manifestado e detido 14 PMs se devia, muito mais, ao receio de que a Polícia Federal assumisse o caso e as delações saíssem do controle, podendo chegar a militares próximos do governador Tarcísio de Freitas e do Secretário de Segurança Guilherme Muraro Derrite.

Ontem, no Estadão, o repórter Marcelo Godoy contou a história do motorista de Derrite, suspeito de ligação com o PCC.

O 3º Sargento José Roberto Barbosa de Souza, o Barbosinha, era o cabo Barbosa, que trabalhava na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Lá, foi motorista de Derrite. Conseguiu espaço nas redes sociais e, em 2022, conseguiu vaga para disputar mandato de deputado pelo União Brasil.

Em 5 de junho de 2021, Derrite entrevistou o cabo Barbosa no seu programa Papo de Rota. O início do programa foi revelador: “Olá amigos do nosso canal, Papo de Rota! Hoje é um dia especial; eu estou muito à vontade, que eu estou trazendo um grande amigo aqui, um grande policial, um grande piloto de Rota. Depois de muita insistência, está aqui o cabo Barbosa, o Barbosinha.” O convidado responde: “Tamos junto, comandante!”

Depois que o jornal pediu informações à Secretaria de Segurança, o vídeo passou a ser privado, tornando-se indisponível.

Segundo Marcelo, “Barbosa cresceu na zona leste da cidade. Trabalhou no 8.º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento do Tatuapé, mesma região que, desde 2018, tornou-se o epicentro da guerra mafiosa que provocou a morte de chefões do tráfico do PCC. Todos viviam ali no bairro, assim como o delator da facção, o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, executado por policiais militares a soldo dos bandidos, no aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro de 2024”.

É mais um indício forte da parceria do governo do Estado, através de seu Secretário de Segurança, com a banda podre da PM.

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Last Update: 21/01/2025