No ano de 1534, em Paris, França, em meio aos acontecimentos da Reforma Protestante e ao início da Contrarreforma Católica, desenrolou-se o que ficou conhecido como o “caso dos cartazes”.
Na noite de 17 para 18 de outubro daquele ano, foram fixados cartazes de 37 por 25 cm que criticavam a celebração da missa tal como era realizada na época. A questão da encenação da morte de Cristo não era aceita pelos protestantes, que fundamentavam sua posição na Epístola de Paulo aos Hebreus. Para eles, essa representação da eucaristia era uma blasfêmia.
Esses cartazes desencadearam uma reação brutal por parte da Igreja Católica e do imperador francês Francisco I, que representava o Estado absolutista da época. Protestantes foram presos e assassinados. Em janeiro de 1535, foi organizada uma procissão tenebrosa pelas ruas de Paris. A procissão parava em seis locais distintos, onde, em cada um, o rei, a corte e o clero assistiam à queima na fogueira de um dos acusados pela afixação dos cartazes no ano anterior.
Esse episódio marcou o aumento da perseguição aos protestantes na França, que, até então, eram tolerados em certo grau.
Do século XVI, saltamos para o XXI, e observamos que, apesar do passar do tempo, pessoas continuam sendo “queimadas vivas” por expor suas ideias. Felizmente, não literalmente como no passado, mas de uma forma que se assemelha mais à queima de livros promovida pelos nazistas no século XX.
Calar a população sempre foi o objetivo dos poderosos que têm seus interesses contrariados ou que veem seu poder ameaçado. Hoje, mesmo em questões de ciência, filosofia etc., está em voga a “queima” dos opositores, que se assemelha à dos “cartazistas”.
Chegou-se ao ponto em que o direito democrático de se opor a determinadas ideias está sendo substituído por uma inquisição de tipo religiosa.
Seja no humor, na ciência, na sociologia, na filosofia, no direito ou em praticamente qualquer assunto, tudo que vai contra a “cartilha” do imperialismo é motivo para todo tipo de perseguição e punição, desde o “linchamento” público até a prisão.
Em alguns casos, nem se sabe o motivo pelo qual uma pessoa foi perseguida — simplesmente é.