Foto: Saul Loeb/Pool/AFP via Getty
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Lucio Massafferri Salles* (Pragmatismo Político)

Vivemos uma época caracterizada por ideias, práticas e estratégias de comunicação promovidas por pensadores/CEOs que moldaram a grande Rede, que se encontra colonizada como um Eldorado.
Estes empresários do Vale do Silício são líderes das maiores Big Techs do planeta. Foram pioneiros na dita “colonização da internet”, em que os mais bem equipados tomaram a frente, transformando-a em um espaço dominado por suas visões próprias de sociedade, mundo e interesses particulares.
Se veem como uma espécie de contracultura tecnológica desejosa de acabar “com tudo isso que tá aí”, inspirando, influenciando e amplificando movimentos políticos e culturais de costumes conservadores, relativamente atualizados, sempre em busca de dinheiro e poder.
Pela perspectiva da psicopolítica, essa chamada “nova extrema-direita” brota do solo de um capitalismo surrado, do século XX, não exatamente como consequente “evolução natural”, na direção de um neoliberalismo da era digital.
Esse neoliberalismo líquido, de relações superficiais (Baumann), ou de uma sociedade em rede (Castells) que se funda em uma lógica de controle na qual os muros, barras e espaços confinados, são trocados por senhas que autorizam (Deleuze), regulam e identificam pessoas qualificadas, quantificadas e perfilizadas nos Big Data.

Reagindo à máquina do caos 7 / O DNA da sociedade digital e a “nova extrema-direita”

O neoliberalismo multi-uber é o da paisagem zumbi, ou do vício propositalmente condicionado nos smartphones e embolhamentos narcísico futuristas, de aprisionados nesse panóptico digital.
Muito se tem discutido sobre o porvir desta segunda posse de Donald Trump como presidente dos EUA e do seu alinhamento com os líderes das mais poderosas big techs do planeta, como Jeff Bezos, Elon Musk e Mark Zuckerberg.
A primeira eleição de Trump, em 2016, foi totalmente impulsionada pela força da comunicação massiva e de longo alcance do Facebook, que serviu como plataforma para a propagação de conteúdos provenientes de sites como Breitbart assim como de toda uma cultura memética nascida em espaços virtuais como a plataforma imageboard 4chan.
Nessa época, os filtros nas redes sociais eram praticamente inexistentes. E hoje, embora até há pouco ainda aplicassem uma ou outra restrição, estas parecem ser superficiais.

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Os líderes das grandes empresas tecnológicas do Vale do Silício e primeiras startups que vingaram como bem sucedidas plataformas de rede social, sempre nutriram a ideia de estarem à frente de uma espécie de contracultura revolucionária, baseada na tecnologia informatizada e numa nova concepção de sociedade, em rede, com contatos, perfis, postagens, dispositivos de validação social, cujo objetivo seria, também, o de reconfigurar o “status quo” do século XX; construindo uma nova ordem à imagem das suas concepções hierarquizadas de mundo.
Porém, ao invés de promoverem uma revolução popular de base, de baixo para cima — como seria uma mobilização voltada contra as desigualdades e pela defesa de direitos suprimidos —, o que se vê é um movimento direcionado de cima para baixo: uma transição de poder concentrado em elites para novas elites, mantendo intactas as hierarquias e exclusões estruturais.

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Creio que dois pontos importantes para começar a enfrentar, de fato, esse “novo poder” estão sendo negligenciados.
O primeiro é a subestimação do alinhamento ocorrido, há décadas, entre a ciência da psicologia e a cibernética, voltado para a influenciação, manipulação e controle das mentes.
Trabalhando em conjunto, Psicologia e Cibernética/Ciência da Computação puseram a arte de conquistar corações e mentes na era das guerras híbridas do século XXI.
O segundo foi a necessidade de se criar plataformas de redes sociais, nacionais, capazes de, com o tempo, escapar do jugo das big techs estrangeiras; promovendo paralelamente políticas públicas de letramento digital.
Nesse sentido, não há novidade no alinhamento entre Meta, Alphabet e Tesla, com governos como o de Trump.

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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista. Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU. Criador do Portal Fio do Tempo (YouTube).

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Last Update: 20/01/2025