O Gabinete de Segurança de Israel deu aval nesta sexta-feira (17) para o governo de Benjamin Netanyahu aprovar o acordo com o Hamas de cessar-fogo na Faixa de Gaza e neste domingo (19) aconteceu a primeira troca de prisioneiros. Antes de uma análise inicial do acordo vamos entender o que está previsto em seus termos, de forma resumida.

Mediado pelo Catar, país sede das negociações, pelo Egito e pelos EUA, o acordo prevê três fases, sendo que apenas a primeira fase está, em tese, com as negociações concluídas.

A primeira fase teve início no domingo, com os sionistas comprometendo-se a não promover novos ataques em Gaza. Esta fase deve durar cerca de 42 dias, durante os quais Israel deverá libertar centenas de palestinos que se encontram em centros de detenção do país, todos eles mulheres e crianças, além de homens maiores de 50 anos. Em troca, o Hamas se compromete a entregar 33 israelenses capturados no contra-ataque do dia 7 de outubro de 2023.

A segunda fase – Os detalhes para a implementação da segunda fase do acordo serão negociados a partir do décimo sexto dia da primeira fase. A expectativa é que incluam a libertação de todos os demais reféns, um cessar-fogo permanente e a retirada completa das tropas israelenses do enclave.

Terceira fase – A terceira fase, igualmente ainda a ser negociada, daria início à reconstrução de Gaza, que seria supervisionada por representantes do Egito, do Catar e da Organização das Nações Unidas (ONU).

O cessar-fogo é uma inequívoca vitória da resistência palestina capitaneada pelo Hamas. Lembremos que Benjamin Netanyahu prometeu, depois dos eventos de 7 de outubro de 2023, “destruir o Hamas”.

Na ocasião, havia muitos elementos concretos a sustentar essa promessa. O regime sionista, financiado a fundo perdido pelo imperialismo estadunidense, equipado com as armas terrestres e aéreas mais sofisticadas, direcionava todo o seu poder contra um enclave onde pouco mais de 2 milhões de pessoas viviam cercadas há quase duas décadas, sem exército regular, marinha ou aeronáutica, tendo um cotidiano marcado pela opressão e pela pobreza.

Além de tudo isso, logo após o 7 de outubro de 2023, os EUA deslocaram porta-aviões e submarinos nucleares para a região com o anúncio explícito de que não permitiriam que Israel fosse derrotado.

Depois de 470 dias de genocídio promovido por Israel, o saldo é macabro: Gaza está, em boa parte, reduzida a escombros, mais de 58 mil palestinos foram assassinados, incluindo 22 mil crianças (isso sem contar os corpos infantis que continuam soterrados nos destroços de prédios, hospitais e escolas), mais de mil médicos mortos e cerca de 200 funcionários da ONU assassinados.

Mesmo assim, com tudo isso, o regime sionista foi OBRIGADO a negociar com a resistência e a fazer concessões. Gaza, entra assim, para a história da humanidade, como um exemplo de heroísmo e sacrifício, que será, ao longo das próximas décadas, tema de poemas, livros, canções e filmes, exaltando a capacidade de luta de um povo, que mesmo confrontando o imenso poder a serviço do crime e da infâmia, vence, sobretudo, pela inquebrantável vontade de resistir.

Isso posto, não cabe, por outro lado, qualquer ilusão. O governo de extrema-direita de Israel já planeja não cumprir o acordo. Isso fica claro nas declarações de membros proeminentes do gabinete governamental e do próprio Netanyahu, que no sábado (18), em pronunciamento público, enfatizou que o cessar-fogo é temporário e que as forças armadas sionistas continuarão atuando em território palestino até que “todos os seus objetivos de guerra sejam concluídos”. Ou seja, de início, o chefe sionista já promete boicotar a fase dois, que supostamente implementaria um acordo de cessar-fogo permanente.

Mesmo com essas ameaças, um partido de extrema-direita que fazia parte da coalizão de Netanyahu, Força Judaica (Otzma Yehudit), liderada pelo ministro da Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir, renunciou ao governo israelense no domingo, informa o site Monitor do Oriente.

Ben-Gvir e outros ministros de seu partido enviaram suas cartas de renúncia ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, segundo reportou o jornal Haaretz, citado pelo Monitor do Oriente.

A partir deste momento, o Partido Otzma Yehudit não é mais membro da coalizão”, disse o partido em um comunicado, atribuindo o fato à decisão do governo de aprovar o acordo de cessar-fogo em Gaza e à libertação de centenas de palestinos das prisões israelenses.

A extrema-direita sionista, dividida e sanguinária, cedeu apenas diante da pressão externa exigindo o fim do massacre e da cobrança interna pela libertação dos prisioneiros israelenses, entretanto, tudo fará para que o acordo de cessar-fogo não avance.

Tal fato estaria em linha com toda a história de não cumprimento de resoluções e compromissos internacionais por parte de Israel, bastando para isso citar os acordos de Oslo e o recente acordo de cessar-fogo no Líbano.

A Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), em nota oficial, destaca o “heroísmo do povo palestino”, afirma que “o cessar-fogo é bem-vindo e há de ser celebrado”, defende a necessidade de “se alcançar a desejada unidade palestina, acordada por todas as forças em julho passado, em Pequim, do qual resulte um governo de unidade nacional emergencial, inclusive para administrar e reconstruir Gaza”, mas adverte: “Os gangsters de Tel Aviv já deixaram claro a intenção de não cumprir o acordo e retomar a matança após a primeira fase prevista da trégua”.

A sensação de vitória parcial alcançada pelo cessar-fogo não pode enfraquecer ou desmobilizar a solidariedade internacional com o povo palestino que, pelo contrário, nunca foi tão necessária.

Afinal, Israel jamais esteve tão isolado internacionalmente e a denúncia vigorosa dos planos sionistas de rasgar o acordo e de retomar o genocídio tão logo seja possível, pode tornar os custos políticos de tal atitude muito elevados para Israel e EUA, o que ajudará a aproximar do horizonte um objetivo que antes do 7 de outubro de 2023 parecia completamente esquecido: a constituição de um Estado palestino livre e soberano.

Los Angeles e Palestina

A edição do Avante! desta última quinta-feira (16) traz uma interessante reflexão de Margarida Botelho sobre as tragédias humanitárias ao redor do mundo e a forma de encará-las. Seguem os principais trechos:

A dimensão da destruição causada pelos fogos em Los Angeles impressiona: 12 mil habitações destruídas, 150 mil deslocados, 24 mortos (…).

As reportagens sobre a tragédia sucedem-se. As histórias das vítimas, do medo, da fuga, da dor de quem perdeu família e amigos, a casa, são impressionantes. Tal como o são os gestos de solidariedade. A interrogação que fica é porque é que não há tratamento noticioso igual em situações de tragédia humanitária de dimensão semelhante, ou piores ainda, noutros pontos do globo. (…) 

Na Palestina, por exemplo, onde o número de habitações destruídas, de pessoas deslocadas, de mortos e feridos é muitíssimo superior, não há nenhum desses meios para fazer notícias para as televisões. Em primeiro lugar porque o país que ocupa e prática genocídio não só não deixa entrar jornalistas estrangeiros, como tem por alvo os que resistem no território. Mas as histórias terríveis das vítimas existem e são possíveis de ver, até no celular de cada um. E os seres humanos que as vivem, iguais na sua humanidade aos de Los Angeles, sentem a mesma dor, o mesmo medo.

Da próxima vez que falarmos de desumanização, tantas vezes deliberada, pensemos neste exemplo. Seria possível fazer horas de reportagens igualmente terríveis com vítimas de guerras e catástrofes noutros pontos do mundo. Talvez isso tornasse a paz mais urgente e a guerra mais insuportável.

O que diz Cuba sobre a retirada do país da lista de patrocinadores do terrorismo

No anúncio dos EUA sobre a retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, feito no dia 14 de janeiro, o então presidente Joe Biden alegou que tal gesto estaria ligado à soltura de presos nos protestos contrarrevolucionários financiados por Washington. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, afirmou que conceder liberdade a mais de 500 pessoas punidas por diversos crimes foi uma decisão unilateral e soberana, “se trata de uma prática comum no sistema jurídico cubano, razão pela qual tomamos a decisão unilateral e soberana de conceder liberdade a 553 pessoas punidas por vários crimes”, afirmou o presidente cubano na rede social X.

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba divulgou a posição oficial da nação caribenha sobre a retirada de Cuba da lista de países supostamente patrocinadores do terrorismo. O texto, ao mesmo tempo em que registra que este é um passo positivo, não descarta a possibilidade de que tal avanço possa ser temporário, pois o novo presidente estadunidense, Donald Trump, que tomou posse nesta segunda-feira (20), pode voltar a incluir Cuba na espúria lista, “sabe-se que o governo dos Estados Unidos poderia reverter no futuro as medidas adotadas hoje, como já aconteceu em outras ocasiões e como sinal da falta de legitimidade, ética, coerência e razão em sua conduta contra Cuba”.  Leia os principais trechos da nota do MRE cubano:

Em 14 de janeiro de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou a decisão de: 1) excluir Cuba da lista do Departamento de Estado de países que supostamente patrocinam o terrorismo; 2) fazer uso da prerrogativa presidencial para impedir que se possa tomar ação nos tribunais norte-americanos contra os processos judiciais apresentados sob o Título III da Lei Helms-Burton; e 3) eliminar a lista de entidades cubanas restritas que designa um grupo de instituições com as quais cidadãos e instituições norte-americanas estão proibidos de realizar transações financeiras, o que teve efeito em terceiros países”.

Apesar de sua natureza limitada, é uma decisão na direção correta e em linha com a demanda sustentada e firme do governo e do povo de Cuba, e com o apelo amplo, enfático e reiterado de numerosos governos, especialmente na América Latina e no Caribe, de cubanos que vivem no exterior, de organizações políticas, religiosas e sociais, e de numerosas figuras políticas nos Estados Unidos e em outros países. O governo cubano agradece a todos por sua contribuição e sensibilidade”.

Esta decisão põe fim a medidas coercitivas específicas que, juntamente com muitas outras, causam sérios danos à economia cubana, com graves efeitos sobre a população. Esta é e tem sido uma questão nos intercâmbios oficiais de Cuba com o governo dos EUA”.

É importante observar que o bloqueio econômico e boa parte das dezenas de medidas coercitivas implementadas desde 2017 para reforçá-lo continuam em vigor (…) Para citar apenas alguns exemplos, continua a perseguição ilegal e agressiva ao fornecimento de combustível que Cuba tem o direito legítimo de importar; continua perseguição cruel e absurda aos acordos legítimos de cooperação médica internacional de Cuba com outros países, ameaçando privar milhões de pessoas de serviços de saúde e limitando o potencial do sistema de saúde pública de Cuba. As transações financeiras internacionais de Cuba ou de qualquer cidadão relacionado a Cuba continuam sob proibição e represálias. Os navios mercantes que atraquem em Cuba também continuam sob ameaça”.

A decisão anunciada na terça-feira pelos Estados Unidos corrige, de forma muito limitada, aspectos de uma política cruel e injusta. É uma correção que está sendo feita agora, na iminência de uma mudança de governo, quando deveria ter sido feita anos atrás, como um ato elementar de justiça, sem exigir nada em troca e sem fabricar pretextos para justificar a inação, se tivesse querido agir corretamente. Para excluir Cuba da lista arbitrária de Estados patrocinadores do terrorismo, deveria ter sido suficiente reconhecer a verdade, a total ausência de razões para tal designação e o desempenho exemplar de nosso país na luta contra o terrorismo, que até mesmo as agências governamentais dos EUA admitiram”.

Cuba continuará enfrentando e denunciando essa política de guerra econômica, os programas de interferência e as operações de desinformação e descrédito financiadas todos os anos com dezenas de milhões de dólares do orçamento federal dos Estados Unidos. Da mesma forma, continuará disposta a desenvolver uma relação de respeito com esse país, baseada no diálogo e na não interferência nos assuntos internos de cada um, apesar das diferenças”.

Havana, 14 de janeiro de 2025

Leia a íntegra da nota clicando aqui.

A reação do Brasil – O Itamaraty registrou que o governo brasileiro “recebeu, com satisfação, a decisão do governo dos Estados Unidos de revogar sua designação unilateral de Cuba como Estado patrocinador do terrorismo, suspender a aplicação do Título III da Lei Helms-Burton e eliminar restrições para o relacionamento entre indivíduos e entidades norte-americanos com congêneres cubanos.

O governo brasileiro sempre sublinhou, tanto em suas manifestações públicas nos foros multilaterais e regionais, quanto em seu diálogo com o governo norte-americano, ser injusta e injustificada a manutenção de Cuba em uma lista unilateral de países que promovem o terrorismo, quando é de amplo conhecimento que Cuba colabora ativamente para a promoção da paz, do diálogo e da integração regional.

As medidas de alívio adotadas pelos Estados Unidos vão no sentido correto e constituem ato de reparação e de restabelecimento da justiça e do direito internacional.

O governo brasileiro faz votos de que essas medidas possam apontar o caminho para um padrão de relacionamento construtivo entre Cuba e Estados Unidos, baseado no diálogo, na cooperação e no respeito às normas internacionais”.

Gálio, germânio e antimônio: uma vingança chinesa

A China é alvo de inúmeras sanções do governo estadunidense nos últimos anos, incluindo algumas recentes dirigidas contra mais de 140 empresas chinesas do setor de semicondutores. Com o governo Trump 2, tudo indica, essa prática pode atingir níveis ainda mais elevados. No entanto, a China tem meios eficazes de resposta.

Por exemplo, no último dia 3 de dezembro, o governo chinês proibiu exportações para os Estados Unidos de minerais essenciais como gálio, germânio e antimônio.

O domínio da China na produção mundial de minerais estratégicos dá a Pequim uma vantagem considerável: 94% do gálio, 83% do germânio e 48% do antimônio provêm de minas chinesas. Esses três minerais são a espinha dorsal da indústria de semicondutores e das tecnologias militares avançadas.

No caso do antimônio, este mineral raro é usado para fabricação de munições, mísseis infravermelhos, armas nucleares, óculos de visão noturna, baterias, e dezenas de outras aplicações estratégicas.

O preço do antimônio aumentou nos mercados mundiais em 228%.

Segundo o site MPR 21, O Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que as perdas potenciais para a economia norte-americana superem os 3 bilhões de dólares, embora o cálculo não leve em conta o efeito cascata sobre os setores dependentes desses materiais, desde fabricantes de celulares até as indústrias de armamentos.

Segundo o MPR 21 “a batalha agora se estende além dos microchips para toda a cadeia de produção tecnológica. Diante de uma iminente escassez de materiais críticos, os fabricantes norte-americanos começaram uma corrida contra o tempo para garantir novas fontes de abastecimentoA Casa Branca, que vinha tentando conter a China em inteligência artificial e armamentos, agora se vê obrigada a repensar sua estratégia industrial. A guerra econômica está redefinindo as alianças estratégicas globais e forçando cada lado a desenvolver cadeias de produção independentes. O custo dessa reorganização forçada das cadeias de abastecimento pode transformar permanentemente o panorama industrial mundial”.

O caráter incontestavelmente revolucionário da imensa maioria dos movimentos nacionais é tão relativo e peculiar, como o é o caráter possivelmente reacionário de alguns movimentos nacionais determinados. Nas condições da opressão imperialista, o caráter revolucionário do movimento nacional de modo algum implica necessariamente na existência de elementos proletários no movimento, na existência de um programa revolucionário ou republicano do movimento, na existência de uma base democrática do movimento. A luta do emir do Afeganistão pela independência de seu país é, objetivamente, uma luta revolucionária, apesar das ideias monárquicas do emir e dos seus adeptos, porque essa luta enfraquece, decompõe e mina o imperialismo.”

Josef Stálin – Sobre os Fundamentos do Leninismo- 1924

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Last Update: 20/01/2025