Após a posse de Nicolás Maduro, em seu terceiro mandato como presidente da Venezuela, o imperialismo decidiu aumentar as sanções contra o país latino-americano. Uma medida que ataca completamente, não apenas a soberania do país, mas de toda a América Latina.
Maduro foi eleito pelo povo venezuelano, com apoio da população armada, derrotou o golpe de Estado orquestrado pelo imperialismo através da oposição ao governo que alegou, sem provas, fraude eleitoral.
Ao contrário do Brasil, a Venezuela não tem urnas eletrônicas e as eleições podem ser auditáveis. Mesmo assim, a oposição não conseguiu comprovar que as eleições foram fraudadas. O imperialismo, no entanto, tratou de divulgar, em seus jornais oficiais, uma suposta ilegalidade, as eleições venezuelanas do ano passado. Os mesmos jornais que, quando a extrema direita, contesta algum resultado, chamam os descrentes na lisura das eleições de “negacionistas”, defendendo uma intensa perseguição estatal aos que criticam os pleitos.
No dia 10 de janeiro, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e União Europeia — isto é, o bloco mais poderoso do imperialismo mundial — anunciaram novas sanções a funcionários do governo venezuelano.
A União Europeia aumentou os ataques a 69 funcionários, congelando seus ativos, proibindo o fornecimento de fundos e viagens ao continente. Os representantes do bloco europeu — sob controle dos banqueiros alemães e franceses — declaram que “essas decisões foram tomadas à luz das ações persistentes que minam a democracia e o Estado de direito, bem como das contínuas violações dos direitos humanos e da repressão da sociedade civil e da oposição democrática”.
A nota mostra todo o cinismo do imperialismo europeu, que apoia o genocídio promovido por “Israel” contra os palestinos, além de golpes de Estado ao redor do mundo, mas vai a público falar em defesa da “democracia e o Estado de direito”… Na França e na Alemanha, onde as manifestações contra as políticas imperialistas e neoliberais são brutalmente reprimidas pela polícia, além dos vários recentes casos de ataque à liberdade de expressão e outros direitos democráticos.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos — país no qual tudo o que foi dito sobre o imperialismo europeu se aplica, mas exponencialmente pior —- anunciou sanções a oito autoridades venezuelanas de agências econômicas e de segurança “que possibilitam a repressão e a subversão da democracia”.
Trata-se de um cinismo ainda maior. Não apenas pelo que já foi dito sobre a Europa e se aplica nos EUA, mas pelo fato de, há mais de um século, apenas dois partidos (controlados pelos banqueiros, ainda que Donald Trump tenha saído do esquema) terem se alternado no poder em eleições indiretas para presidente. E também pelos EUA, ainda mais que a Europa, ser o país que mais implementaram golpes e ditaduras ao redor do mundo na história.
As restrições impostas pelos EUA incluem bloqueio de propriedades e de entrada em território norte-americano. Em nota, o país mais antidemocrático do mundo, que prendeu e perseguiu inúmeros manifestantes que se manifestaram no Capitólio em 2021, afirmou que “Maduro e seus representantes continuaram sua repressão violenta em uma tentativa de manter o poder, e ignoraram os apelos do povo venezuelano por responsabilidade democrática”.
Um ingênuo poderia acreditar que os países imperialistas estão realmente preocupados com a “democracia”. Mas não se trata disso. Primeiro, sendo mais direto, porque não reconhecem a eleição legítima de um presidente, apoiando a “legitimidade” daqueles que foram derrotados nas eleições.
Em um comunicado, a UE reforçou a tese golpista de que Edmundo González (funcionário da CIA) derrotou Maduro nas eleições. “As autoridades venezuelanas perderam uma oportunidade decisiva de respeitar a vontade do povo e assegurar uma transição democrática transparente com garantias para todos. Consequentemente, Nicolás Maduro carece da legitimidade de um presidente eleito democraticamente”, disse a nota.
Já o Canadá sancionou pessoas ligadas ao governo Maduro e que “violaram os direitos humanos” depois da “eleição ilegítima de Nicolás Maduro”. “As ações descaradas de Maduro demonstram que a democracia e o estado de direito não podem ser tomados como garantidos […] O Canadá apoiou e continuará apoiando o povo da Venezuela e seu desejo de viver em uma sociedade pacífica e democrática”, disse a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly.
O Canadá, finalmente, é isso. Enquanto Trudeau faz demagogia colocando pessoas com turbantes em seu ministério, apoia completamente a política de rapina realizada pelos EUA.
O Reino Unido, que proibiu viagens e congelou contas de 15 altos funcionários do governo venezuelano por “irregularidades significativas e falta de transparência”, afirmou que “não ficará parado enquanto Maduro continua a oprimir, a minar a democracia e a cometer flagrantes violações dos direitos humanos”, conforme afirmou o secretário de Relações Exteriores inglês, David Lammy.
A declaração de Lammy é esclarecedora. Não vão ficar parados. Afinal, o que significa isso?
Isso nos leva ao segundo ponto. Um dos principais jornais do imperialismo norte-americano, o New York Times publicou um artigo defendendo abertamente um golpe contra Maduro. Apenas o título, “Depor Maduro”, já revela qual vai ser a política do imperialismo para o país, iniciando uma nova onda de golpes de Estado na América Latina.
Segundo o NYT, “um objetivo que está atrasado” e “é moralmente correto e atende aos nossos interesses [dos EUA] de segurança nacional” seria “derrubar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, por meio de diplomacia coercitiva, se possível, ou pela força, se necessário”.
Quer dizer, a imprensa imperialista oficial já faz abertamente uma política em defesa do ataque à soberania venezuelana, em defesa do uso da força militar para derrubar Maduro. O motivo? “Maduro continua a se aliar aos nossos inimigos, começando pelo Irã, que supostamente estabeleceu uma ‘base de desenvolvimento de drones’ em uma base aérea venezuelana”.
As relações da Venezuela com o Irã não dizem respeito em nada aos EUA. O jornal, desta forma, coloca às claras toda a política de dominação do imperialismo, que se coloca contra o governo Maduro por ele ter independência em relação aos interesses dos capitalistas norte-americanos.
O artigo continua: “o que poderia derrubar o regime? No primeiro mandato, Trump tentou sanções econômicas punitivas. Elas não funcionaram. A administração Biden aliviou algumas dessas sanções na esperança de um comportamento melhor de Maduro. Isso também não funcionou. A eleição do ano passado claramente não surtiu efeito. Uma recompensa de 25 milhões de dólares pela captura de Maduro, imposta este mês pelos Estados Unidos, também não funcionará, pois serve apenas como um incentivo para que Maduro se apegue ainda mais ao poder”.
Para os brasileiros, isso é um sinal muito claro. O imperialismo irá investir em golpes pela América Latina para impor seus interesses, através da força se necessário. O governo Lula e do PT, que já está muito fraco pela política de adesão a algumas políticas impostas pelo imperialismo e pela burguesia em geral, também está ameaçado. Mas, ao contrário da Venezuela, onde Maduro tem apoio popular, o golpe aqui pode ser relativamente bem sucedido justamente pela posição na qual o governo do PT se colocou.