A esquerda mundial enveredou por um caminho sem volta no que diz respeito ao problema da liberdade de expressão. Sob o manto da “luta contra o fascismo”, muitos órgãos de imprensa “progressistas” aparecem defendendo o que pode, inclusive, significar o seu próprio fim, mostrando uma ingenuidade absurda e uma falta de perspectiva inacreditável. É o caso do órgão ICL Notícias, pertencente ao Instituto Conhecimento Liberta, do empresário Eduardo Moreira.

Em matéria publicada no dia 12 de janeiro deste ano, intituladaA simbiose entre o fascismo e fake news”, o jornal procura justificar através de supostos exemplos  históricos que o principal  meio de se combater o que ele considera uma ascensão do fascismo no Brasil seria através da instituição da censura total na Internet.

Para justificar sua tese, o articulista cita o exemplo de um caso ocorrido na Alemanha em 1939, que teria ficado conhecido como o “incidente de Gleiwitz”, ele relata que um grupo de soldados da SS nazista tomou de assalto uma emissora de rádio na pequena cidade de Gleiwitz, localizada na fronteira entre Alemanha e Polônia e de lá teriam lido um falso comunicado em polonês, onde anunciavam uma invasão da Alemanha.

Segundo o ICL, isso teria servido como “insumo para uma campanha mentirosa cujo objetivo era construir uma narrativa de que a Alemanha havia sido violada pela Polônia”. A tese é que teriam sido expedientes como esse que levaram ao maior conflito armado de que se tinha tido notícia na história. Ele defende que “A cena falsa criada em Gleiwitz incendiou a opinião pública alemã e criou a justificativa de que o líder nazista precisava para iniciar sua expansão rumo ao Leste europeu. Foi com esse estopim falso que Hitler deflagrou a Segunda Guerra Mundial”.

Embora tal história tenha um efeito folclórico e um tanto quanto cômico que acabam ficando marcados por sua peculiaridade, é um tanto absurdo e simplista resumir o poder destrutivo e bélico do imperialismo alemão sob a liderança do mais famoso líder fascista de todos os tempos a meras histórias falsas propagadas em programas de rádio locais.

Diante do cenário de crise do imperialismo que se desenrolava naquele momento e da gigantesca tensão que havia entre as potências europeus naquele momento, se os alemães invadiram a Polônia depois de uma mentira contada no rádio ou se o fizeram se utilizando de qualquer outro pretexto, é um aspecto totalmente secundário da questão.

Logo abaixo, O articulista do ICL Notícias menciona a elaboração de Hitler a respeito do funcionamento da propaganda política (a qual não passa de uma banalidade): ‘“A propaganda, tanto pelas suas ideias como pela forma, deve ser organizada para alcançar as grandes massas populares e a sua justeza só pode ser avaliada pelo êxito na prática”, escreve o ditador nazista. Ou seja: a régua da propaganda não tem uma escala moral, pois é a eficiência que vai chancelar sua justeza’. Trata-se de uma ideia óbvia: em propaganda, a mensagem deve ser passada de modo que atinja às massas populares. Qualquer órgão de imprensa político deve atuar conforme essa tese se quer que suas ideias tenham algum alcance. Não é nada novo

O articulista utiliza esses argumentos para procurar demonstrar que a extrema-direita atual age conforme os ensinamentos de Hitler ao publicar mentiras na Internet. É um pouco estranho porque toda a imprensa burguesa vive de contar mentiras – e não é apenas na Internet, mas na televisão, rádio, jornais impressos – e eles não recebem a pecha de aprendizes de Hitler.

O autor afirma que “mais do que nunca é importante que os democratas, todos eles, de qualquer vertente do espectro ideológico, se unam para denunciar e protestar contra a manipulação da opinião pública pretendida pelos fascistas”. Ele não explica quem seriam os tais “democratas”, no entanto, a experiência indica que seriam, além da esquerda pequeno-burguesa, apoiadores da política do imperialismo e do “centro”, seguidores do identitarismo e do Partido Democrata dos EUA.

No entanto, ele não diz que os setores mais poderosos do grupo dos “democratas” – o imperialismo norte-americano – é um dos maiores propagadores de notícias falsas, mentiras, manipulações de todo o planeta. Eles fazem essa propagação em escala mundial, dominando o aparato da grande imprensa de todos os países do mundo.

Em uma clara demonstração de que o ICL Notícias não compreende esse fato, ele cita abaixo um caso acontecido durante processo eleitoral nos próprios EUA, mas denunciando as notícias falsas de russos e trumpistas: “A eleição de 2016 nos Estados unidos foi fortemente influenciada por fake news patrocinadas pelo governo russo contra Hillary Clinton e a favor de Donald Trump. Desde então, o atrabiliário alaranjado move uma cruzada contra a imprensa profissional e a favor do uso indiscriminado de notícias falsas”.

Infelizmente, a última gestão Biden não serviu para que esse setor da esquerda compreendesse que esses “democratas” são os maiores assassinos e sanguinários do planeta, além de defenderem uma política totalmente falida, pois estão sendo derrotados em todos os principais países imperialistas – EUA, França, Alemanha, Inglaterra etc.

Como a política desses democratas é a de defender a censura e a perseguição na Internet a todo custo, o autor insiste que qualquer tentativa de diminuir essa censura seria uma política fascista, por ser uma forma de facilitar a propagação de “notícias falsas”, como se isso já não existisse na grande imprensa pertencente ao setor mais poderoso do imperialismo.

Ele conclui, chamando os setores da esquerda a defenderem o fim da liberdade de expressão na Internet brasileira: “É preciso tirar da gaveta o PL 2630, que as bigtechs conseguiram arquivar em 2023. É urgente que STF declare a inconstitucionalidade do Art. 19 do Marco Civil da Internet. Não há tempo para procrastinação, pois o que está se armando no horizonte é uma mega Operação Himmler contra as democracias ocidentais”.

O ICL utiliza o “fascismo” como um espantalho político, para induzir a esquerda a apoiar a política, essa sim fascista, de acabar com o pouco de liberdade de expressão que resta nos meios virtuais. Ele não se lembra de considerar que os períodos em que houve maior cassação da liberdade de expressão em todos os lugares foi justamente nos governos fascistas. E o fascismo só conseguiu a proeza de censurar todos porque o terreno já havia sido preparado pelos “democratas” e pela esquerda “bem intencionada” em suas épocas. É preciso seguir defendendo a liberdade de expressão total e irrestrita na internet, apesar das loucuras da esquerda pequeno-burguesa.

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Last Update: 20/01/2025