Por Guilherme Guilherme
Setor de Comunicação do MST-SP
Ainda diante do barulho ensurdecedor da perda dos companheiros tombados na sagrada luta pela terra no Brasil, o MST marchou e se reuniu em Tremembé, interior de São Paulo, onde moravam Valdir, Gleison e os companheiros e companheiras atingidos pela violência e pela sanha dos que querem acabar com as conquistas do povo organizado.
Fotos: MST
Depois de um café preparado com frutos da terra, o ato teve início com uma forte mística, em que os sem terrinhas e os companheiros e companheiras mais próximos de Valdir e Gleison declamaram seus poemas e lembranças, mostrando a todos e todas presentes o tamanho da perda do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, das famílias, do território, da regional e do estado de São Paulo. Ficou mais claro ainda o compromisso e a responsabilidade de todos e todas que seguem, em lutar por justiça para Valdir, Gleison e os outros hospitalizados, mas também na continuidade da luta pela terra, agora com os “aprendizados gravados no coração”, como disse uma assentada do Olga Benário, território onde aconteceu o crime.
Fotos: MST
Debaixo de 33 graus, mas sem arredar o pé, o Ato por Reforma Agrária, Vida e Justiça seguiu com um momento ecumênico interreligioso. As diversas fés do povo brasileiro estiveram presentes, se unindo em benção, oração e axé aos familiares, amigos e a luta pela terra. Esse momento contou com pastores evangélicos, padres católicos, reverendo protestante e representantes da fé de matriz africana.
Representando a dimensão da corrente de solidariedade que se formou ao redor do MST, o ato seguiu com diversos momentos em que aliados e aliadas da Reforma Agrária Popular reafirmaram o seu compromisso com o programa da Reforma Agrária, a luta pela terra e a justiça com os que tombaram nessa luta. Delegações numerosas de sindicalistas, metalúrgicos, professores, parlamentares, líderes partidários, juventude, fizeram o uso da fala, estenderam suas bandeiras, juntando seus símbolos aos nossos.
Além disso, membros do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o próprio ministro estiveram presentes, posicionando o governo federal como participante ativo do solucionamento do caso. Para o Ministro Paulo Teixeira, é a prisão dos autores desse crime que vai dizer que a Reforma Agrária no Brasil não vai se intimidar. Nesse mesmo sentido, Sabrina Diniz, superintendente do INCRA em SP, avaliou que esse não é um caso isolado. Para ela, há uma disputa por territórios em todo o país, e uma tentativa de avanço contra territórios conquistados pela luta do povo organizado.
Fotos: MST
No encerramento do ato, Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do MST, foi ainda além. Para ele, esse ataque mostra que não haverá justiça, paz e fim da violência no campo no Brasil enquanto não houver Reforma Agrária. Mais: mostra que sem uma revolução, na sociedade como um todo mas também na agricultura em particular, o mundo vai perecer, já que o modelo da agricultura capitalista e o modo capitalista de produção deixam cada vez mais claro, a cada dia que passa, sua capacidade destruidora, de vidas, do meio-ambiente, dos trabalhadores.
Fazendo coro com as falas precedentes, que exigiam investigação profunda e o acompanhamento do caso, Gilmar Mauro encerrou sua fala com a pergunta que todos estão fazendo: os que querem encerrar as investigações nesse momento, a partir de conclusões simplistas, estão querendo proteger a quem?
Não se trata de uma “simples disputa de lotes”, como a narrativa da direita paulista tenta insinuar. Se trata da violência no campo que se intensifica, avançando até sobre as conquistas que parecem mais consolidadas.
Fotos: MST
Nesse sentido, a questão da reforma agrária não é uma questão para o MST, ou apenas para acampados. É uma questão que exige a atuação de toda a classe trabalhadora e dos que acreditam em uma transformação social profunda.
Digno de nota, o ato por Reforma Agrária, Vida e Justiça foi o primeiro que mobilizou o Deputado Estadual Eduardo Suplicy após seu tratamento, que ressaltou: “Este é o meu primeiro ato público após o início do meu tratamento, e estou aqui pelo povo Sem Terra, pela família de Valdir e Gleison, para saudar todos aqueles que lutam por uma vida mais justa e digna”.
Fotos: MST
O ato, por fim, se encerrou após uma marcha e o plantio de um Jacarandá Mimoso e um Cedro, com sementes vindas do Assentamento Conquista, também em Tremembé. As sementes mostram a preocupação com um mundo novo e com o legado dos companheiros Gleison e Valdir. Legado que foi plantado no país todo, com sementes, sonhos, povo organizado e vontade de lutar.