A Central Operária Boliviana (COB), maior e mais representativa organização sindical do país, convocou greve geral por tempo indeterminado em defesa da democracia e contra a empreitada golpista liderada por oficiais do Exército levada a cabo na quarta-feira (26).
“Convocamos a todas as organizações sociais e sindicais a todos os trabalhadores e trabalhadoras da Bolívia e o povo em geral a levantar-se contra esses grupos de golpistas e violadores dos direitos humanos, políticos e democrático”, proclamou a entidade em nota.
A paralisação teve início na própria quarta-feira e tem por objetivo derrotar os propósitos antidemocráticos e “nefastos” dos golpistas, que também desta vez estão sendo instigados e orientados pelos Estados Unidos.
“Como organização nacional representativa de todos os trabalhadores e trabalhadoras e diferentes camadas sociais da classe camponesa e do proletariado, bem como da classe média, dos estudantes universitário e da juventude trabalhadora rechaçamos e nos opomos vigorosamente a este novo atentado à democracia e ao nosso governo constitucional”, proclama a COB.
O povo reagiu prontamente quando o chefe do Exército, o general golpista Juan José Zuñiga, e militares controlaram a entrada da sede do Governo, o Palácio Quemado, que chegou a ser arrombada por um tanque militar, além de manter franco-atiradores em prédios no entorno.
A praça do palácio, tomada por militares, recebeu uma multidão que se formou em poucos minutos em repúdio à tentativa de golpe no país sulamericano.
Desta vez a OEA condenou os golpistas
Não é a primeira vez que o país latino-americano, cuja população é composta majoritariamente por povos indígenas, é vítima de forças reacionárias e golpistas apoiadas e orientadas por Washington.
Em novembro de 2019 Evo Morales, que acabara de ser eleito presidente, foi deposto por um golpe militar liderado por um seleto grupo de generais fascistas.
A ação antidemocrática foi apoiada pelos Estados Unidos, que na ocasião mobilizaram até a Organização dos Estados Americanos (OEA) a apoiar o golpe sob o pretexto de fraude no pleito presidencial, que logo se revelou falso.
Sofrendo forte oposição popular e cometendo assassinatos e toda sorte de arbitrariedades na tentativa de manter o poder, o governo golpista não chegou a completar um ano.
Em outubro de 2020, Luis Arce, do Movimento Ao Socialismo (MAS), foi eleito presidente e Morales, que estava exilado, pode voltar ao país.
Desta vez, foi diferente. Os países integrantes da OEA, condenaram a tentativa de golpe de estado em resolução votada na manhã desta quinta-feira (27).
Segundo informações, “a Organização dos Estados Americanos expressou ´grave preocupação´ com a ação de militares, que tentaram invadir com tanques uma antiga sede do governo, onde estava o presidente Luiz Arce, na tarde de quarta-feira (26). Arce e o general responsável pela tentativa, Juan José Zúñiga, chegaram a se enfrentar cara a cara”.
O documento foi aprovado pelos países que participam da 54ª assembleia da OEA e destaca três pontos:
Condena a ação ilegal de unidades do Exército boliviano;
Denuncia tentativa de desestabilizar instituições democráticas do país;
Expressa solidariedade ao governo e ao povo boliviano.
“Condenar veementemente a mobilização ilegal de unidades do Exército do Estado Plurinacional da Bolívia na cidade de La Paz, o que constitui uma ameaça ao regime constitucional do Estado Plurinacional da Bolívia e uma insubordinação flagrante às ordens expressas publicamente pelo presidente constitucional, Luis Arce Catacora”.
O documento foi apresentado pelas Delegações de Antígua e Barbuda, Brasil, Chile, Colômbia, Mexico, Paraguai e Uruguai e aprovada por consenso.
No texto, os países citam o 4º artigo da Carta Democrática Interamericana e afirmam que o “exercício efetivo da democracia representativa é a base do Estado de Direito e dos regimes constitucionais dos Estados membros da Organização dos Estados Americanos (OEA)”.
Golpista preso
Militares com blindados invadem o Palacio Presidencial durante tentativa de golpe ao Governo do Presidente Luis Arce. O presidente boliviano, Luis Arce, encontrou-se cara a cara com o líder da empreitada golpista, nas portas do Palácio Presidencial, e se nega a entregar o cargo ao comandante do Exército, general Juan José Zuñiga . Foto: Reprodução de TV via Fotos Publicas
Zúñiga, o general golpista, ficou isolado e foi preso na entrada da sede do Estado-Maior. Além dele, Juan Arnez Salvador, ex-comandante da Marinha, também foi detido.
No dia anterior, Zúñiga havia sido destituído do cargo de comandante do Exército após fazer ameaças a Evo Morales — ele afirmou que prenderia Morales caso o ex-presidente volte ao poder.
Na discussão entre Arce e o general, o presidente ordenou que o ex-comandante do Exército desmobilizasse as tropas. Zúñiga não respondeu.
Após cerca de quatro horas de tensões, o movimento foi desmobilizado por ordem de Arce, e os militares que participaram da tentativa de golpe deixaram o local, cercados por soldados que se mantiveram fiéis ao governo.
Interferência dos Estados Unidos
Dois dias antes da iniciativa golpista, o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia convocou a encarregada de negócios dos Estados Unidos, Debra Hevia, para “conscientizá-la e apresentar denúncia sobre uma série de pronunciamentos e ações realizadas por funcionários da Embaixada dos Estados Unidos, que são consideradas interferência nos assuntos internos”.
“O Estado Plurinacional da Bolívia promove uma política externa baseada nos princípios da igualdade, da não ingerência e do respeito à soberania, no âmbito das normas do direito internacional que regulam as relações diplomáticas. Nessa linha, rejeita qualquer tipo de ação que promova ingerência em nosso país”, disse o governo em nota oficial.
Em 2023, a Bolívia fechou uma parceria bilionária com a Rússia e a China para exploração das reservas de lítio existentes no país, envolvendo a construção de unidades fabris para extração e exploração do minério, segundo a CNN Brasil.
O lítio é fundamental para a construção de componentes eletrônicos, como chips e semicondutores, além de ser necessário na bateria de carros elétricos. A parceria com a China despertou a ira imperialista em Washington, cuja política externa é hoje guiada pela obsessão irracional de conter a qualquer preço a China, o que ainda pode custar ao mundo uma nova e devastadora guerra mundial.
Durante as gestões democráticas e soberanas do indígena Evo Morales (2006 a 2018) a Bolívia foi o país com maior crescimento na América Latina. O PIB subiu em média 5% ao ano. A pobreza diminuiu consideravelmente. Em 2004, 63% da população era pobre. Em 2015, esse índice passou a 39%. A distribuição de renda melhorou nesse período, de acordo com dados do FMI. A Bolívia passou de país mais desigual da América do Sul a uma posição média no continente.
Isto ajuda a explicar o forte apoio popular aos governos liderados pelo MAS (Movimento Ao Socialismo, criado por Evo Morales), assim como o ódio dos imperialistas e das forças reacionárias bolivianas.
Foto: O presidente Luis Arce e seu gabinete saúdam a população em La Paz. Crédito: Gustavo Ticona, Bolivia, via @MidiaNinja na rede social X