Algumas observações sobre as investigações das relações entre Policiais Militares paulistas e o PCC.
- Pela primeira vez, há uma ação objetiva da corregedoria da PM paulista. E por uma razão simples: se não mostrar seriedade na apuração, entra em cena a Polícia Federal, e aí a PM perderá para a PF controle sobre os desdobramentos das investigações, o teor das delações premiadas etc.
- Os principais acusados pertencem ao BOPE, a brigada barra pesada, da qual o membro mais ilustre e sangrento é o próprio Secretário de Segurança Guilherme Muraro Derrite, o Capitão Derrite, com quase duas dezenas de mortes conhecidas – e não apuradas – nas costas.
- O delator Antônio Vinícius Gritzbach foi assassinado dias depois de prestar depoimento sigiloso à própria corregedoria.
- Até hoje não se sabe da punição de um único PM acusado de assassinato ou violência contra cidadãos. A cada denúncia vem a resposta padrão de que o militar foi afastado de suas funções e está sendo investigado.
- O governador Tarcísio de Freitas pertenceu a um governo com relações estreitas com o crime organizado do Rio de Janeiro.
- Até hoje não foram esclarecidas as circunstâncias do episódio de 17 de outubro de 2022, que levou à morte de Felipe Silva de Lima, de 27 anos, em Paraisópolis, em comício de Tarcisio. A investigação conduzida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu que não foi possível determinar de qual arma partiram os tiros que vitimaram Felipe. Testes balísticos realizados nas armas dos policiais presentes não foram conclusivos. O inquérito foi encaminhado à Justiça e ao Ministério Público para as devidas providências.
- Em março de 2024, o MInistério Público Eleitoral (MPE) denunciou dois jornalistas por supostamente divulgarem informações inverídicas relacionadas ao tiroteio. O promotor Fabiano Augusto Petean alegou que as reportagens continham informações inverídicas que poderiam prejudicar a campanha de Tarcísio. Ao mesmo tempo, membros da equipe de Tarcísio solicitaram a um cinegrafista da Jovem Pan que apagasse imagens do tiroteio. Jornalista da Folha que publicou a notícia também foi alvo de denúncia de Petean. Posteriormente, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo trancou os inquéritos abertos pelo promotor Petean.
A gestão Derrite-Tarcísio passou incólume pelo assassinato de dezenas de jovens de periferia. A rotina de assassinatos esbarrou, agora, no assassinato de um jovem estudante de medicina, filhos de pais médicos e de uma mãe imbuída do sentimento da indignação cívica.
O assassinato de Gritzbach começa a expor as vísceras do esquema criminoso que se infiltrou na PM paulista, em uma quadra da história em que o PCC se tornou uma força econômica pujante, infiltrando-se nas corporações públicas e nas prefeituras municipais.
É preciso lupa nas investigações conduzidas pela corregedoria da PM, para que não fique apenas na arraia miúda cooptada pelo PCC.
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