Por Elias Tavares

Nos últimos anos, uma tendência tem se destacado no cenário político brasileiro: o desaparecimento da palavra “partido” dos nomes das legendas. Podemos, Avante, Cidadania e Republicanos são exemplos emblemáticos dessa estratégia que reflete uma tentativa clara de reposicionamento. Sob o ponto de vista do marketing político, essa decisão não é meramente semântica; trata-se de uma mudança calculada para conectar-se com um eleitorado cada vez mais desiludido com as instituições tradicionais.

O termo “partido”, associado à burocracia e à rigidez institucional, carrega consigo o peso de crises políticas, escândalos e uma percepção generalizada de distanciamento das necessidades reais da população. Ao abandonar o “P”, muitas legendas tentam se apresentar como algo mais dinâmico, moderno e acessível. A mensagem implícita é clara: não somos mais “partidos”, mas sim movimentos, espaços de conexão e representação direta.

Alguns exemplos reforçam essa tendência. O Partido Trabalhista Nacional decidiu se tornar Podemos, adotando uma marca mais moderna e inspirada em movimentos internacionais. O Partido Trabalhista do Brasil passou a ser chamado Avante, buscando transmitir dinamismo e proximidade com o cidadão. Outro caso significativo foi o do Partido Popular Socialista, que agora atende por Cidadania, enfatizando valores mais amplos e menos associados à tradicional política de massas. Já o Partido Republicano Brasileiro adotou o nome Republicanos, reforçando um tom mais institucional e distante de conotações partidárias clássicas.

Além desses, o Partido Progressista optou por ser chamado Progressistas, enquanto o Partido Social Democrata Cristão (PSDC) adotou o nome Democracia Cristã. Essas mudanças reforçam a tentativa de adaptação das legendas à nova dinâmica do eleitorado, cada vez mais avesso às estruturas tradicionais.

No entanto, essa tendência não se limita aos partidos já consolidados. Entre os novos partidos que tentam obter registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maior parte também evita o uso do “P” em seus nomes. Apesar de ainda não haver dados conclusivos, a percepção inicial indica que a maioria das legendas em formação, como o Movimento Consciência Brasil, Ordem e Educa Brasil, busca transmitir valores específicos e ligados a causas diretas, contrastando com os nomes genéricos do passado.

Entretanto, é essencial não nos limitarmos à superfície dessa questão. Mais do que uma questão de nomes, essa mudança deve ser analisada à luz de um contexto político que exige cada vez mais transparência e compromisso efetivo com a democracia. O rebranding dos partidos é um reflexo de como a política busca se adaptar às demandas de um novo tempo. Mas ele também deve vir acompanhado de mudanças estruturais e programáticas que justifiquem essa nova identidade.

No fim das contas, o sumiço do “P” é um símbolo dos desafios enfrentados pelas instituições políticas em um cenário de mudanças. Resta saber se essa reforma é apenas estética ou se representa o começo de uma transformação mais profunda na relação entre as legendas e a sociedade. Como cientista político, fico com a provocação: mudar o nome é fácil, mas mudar a prática é o verdadeiro desafio.

Elias Tavares é cientista político.

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Last Update: 16/01/2025