A filósofa e ativista norte-americana Angela Davis participou recentemente do Festival LED, no Rio de Janeiro (RJ). No evento que ocorreu no Museu do Amanhã, Davis defendeu a importância do espaço escolar como instrumento de libertação pela formação de cidadãos críticos, especialmente para negros e pobres.
O alerta é fundamental para a sociedade brasileira, onde o discurso da extrema-direita contra a educação e pela militarização do ensino tem se disseminado nos últimos anos.
Conforme apontou a ativista, a educação deve ser prioridade e seu direito deve ser uma luta constante em qualquer país. Nesse sentido, destacou a necessidade de que a educação seja antirracista para se desenvolver, além de ofertar condições básicas aos alunos, como alimentação e segurança.
Ao abordar este aspecto, também lembrou da importância da valorização profissional, ao colocar os professores como as pessoas mais importantes em uma sociedade e que devem ter seu valor reconhecido com melhores salários.
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Ao elevar o papel dos educadores, não deixou de lembrar do patrono da educação brasileira Paulo Freire, que tem sua obra reconhecida internacionalmente, sendo um dos intelectuais mais citados em obras acadêmicas.
Davis disse que aprendeu com o brasileiro que não se deve ensinar de um lugar de superioridade, pois o professor deve se colocar no mesmo nível para aprender com os educandos: “Você tem que estar no mesmo nível e aprender com seus alunos”.
Essa é a medida oposta do que o capitalismo tenta nos empurrar no cotidiano, observa, pois existe dentro do modelo econômico em que vivemos uma certa imposição de superioridade dos que têm estudo sobre os que não tiveram oportunidade. Portanto, é fundamental sair dessa posição e assumirmos que devemos aprender com quem não se graduou, como forma de todos apreendermos e a sociedade avançar.
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Na oportunidade, a filósofa ainda condenou o policiamento de obras literárias em escolas por certos movimentos que classificam alguns temas – essenciais para o debate – como impróprios para alunos, quando na verdade querem aumentar o grau de alienação da sociedade e atacar a liberdade de expressão sobre tudo que não está em seu espectro.
Aqui no Brasil casos lamentáveis ocorreram em alguns estados promovidos por extremistas ideológicos que tentam censurar livros e debates latentes na sociedade, como racismo, violência, sexualidade, precarização do ensino, entre outros temas.
O Avesso da Pele, livro de Jeferson Tenório, ganhador do Prêmio Jabuti, foi incluído no Programa Nacional do Livro Didático, mas proibido por certo tempo em uma escola do Rio Grande do Sul. O livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, chegou a ser barrado em escolas de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, e em outros estados. Também houve o caso do governo de Santa Catarina que tentou censurar 9 livros em escolas. Estes são apenas alguns episódios que pululam no Brasil na última década.
Segundo Davis, situações como estas são vergonhosas e visam reverter conquistas nos direitos sociais e na educação, pois o movimento que prega o conservadorismo tem “medo” que mais pessoas acessem o conhecimento – ou seja, tem medo de perder seus privilégios sustentados em uma sociedade desigual.
*Informações O Globo. Edição Vermelho, Murilo da Silva.