O terceiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva apresenta os mesmos tipos de confronto vistos no início da gestão: analistas e boa parte da imprensa hegemônica dizem que existem dois brasis que caminham em direções opostas.
Em análise publicada no site da Fundação Perseu Abramo, a economista Lígia Toneto, assessora na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, destaca que tal divergência de cenários tem causa e efeitos – e sua motivação nem sempre se limita às questões econômicas.
De um lado, o Brasil dos dados apresentados pelo governo conta com o combate da extrema pobreza, criação recorde de empregos, retomada do PIB (Produto Interno Bruto) e organização das contas públicas, enquanto o Brasil do poder de mercado (representado por grandes empresários e parte da imprensa) se recusa a celebrar avanços.
“Estruturalmente a situação fiscal do país está muito melhor do que estava no governo anterior. Teremos em 2024 um déficit de apenas 0,1%, muito melhor do que o resultado apontado pelo mercado de déficit de 1%. Mas é importante lembrar que nos dois primeiros anos grande parte do trabalho foi para reorganizar as receitas e cobrir o rombo deixado por Bolsonaro”
“O principal fator que separa o que é esse Brasil dos números deste movimento que aponta que o Brasil vai quebrar é quem prioriza cada um dos indicadores de quem deixa propositadamente de olhar para eles”, diz Lígia Toneto.
Alimentos e comunicação
Para 2025, uma das preocupações do Ministério da Fazenda é não deixar que a alta dos preços dos alimentos afete o que já foi conquistado até agora – e será preciso adotar medidas que não façam esse item afetar principalmente as famílias de baixa renda.
Uma medida estrutural para resolver a questão foi apresentada na proposta de Reforma Tributária aprovada recentemente: a redução ou exclusão dos impostos em todos os produtos da cesta básica, incluindo carnes.
Além das medidas previstas na Reforma Tributária, outro desafio é aumentar o poder de compra das famílias – com a alta do dólar e o aumento do preço dos alimentos, o salário do trabalhador ainda não tem rendido como o esperado.
Outro ponto que tem afetado o apoio da população às medidas adotadas pelo governo é o ruído na comunicação e, na última semana, o ministro Fernando Haddad admitiu que ocorreram graves falhas de comunicação no anúncio do pacote fiscal no ano passado.
Na visão de Lígia Toneto, esses ruídos na comunicação são a causa da dificuldade do governo de conseguir apoio em categorias formadas por trabalhadores informais, como motoristas de aplicativo, entregadores, entre outros.
“Precisamos fazer com que estas categorias se sintam contempladas pelo nosso governo e isso passa por uma adequação na linguagem para se comunicar com elas (…)”, pontua a economista, citando como exemplo o programa Acredita, voltado para o crédito a pequenos negócios. “Mesmo para quem não tem como oferecer garantia, o Acredita oferece esses benefícios. É literalmente o governo dizendo a esses trabalhadores que acredita neles”.