Anúncio de ano novo, prenúncio de tempestades
por Dora Incontri
O ano de 2025 se anunciou sombrio. Trump querendo anexar países e territórios; incêndios devastadores na California, como mais um sinal de que adentramos estágios mais problemáticos do aquecimento global; Zuckerberg anunciando as suas redes sociais como terra sem lei, onde podem trafegar todos os tipos de crime, ideologias extremistas, discriminações diversas, “sem censura”. Leia-se sem controle, sem nenhum princípio de ética ou de respeito ao ser humano e à verdade. Uma fábrica de produzir fanáticos, manipulados, racistas, homofóbicos. A população do mundo sob as rédeas de milionários, como Zuckerberg e Elon Musk, que dominam a comunicação sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma proposição de proteger quem quer seja: crianças, adolescentes, mulheres, o cidadão comum; e nem respeitar qualquer valor humanista e humanitário.
No macro, temos graves questões climáticas; o avanço assustador da extrema direita em inúmeros países, inclusive na Alemanha, onde ela fez trágicos estragos cem anos atrás; ameaças de novas guerras além daquelas que já nos dão pesadelos, mesmo à distância… e tantos outros assombros.
E na vida individual de cada um de nós, temos nossos lutos e lutas de cada dia, no empenho da sobrevivência, no cuidado com os que amamos, nas piruetas que temos de fazer para permanecermos lúcidos, ativos e minimamente saudáveis física e psiquicamente.
Alguns podem alegar que o mundo sempre foi assim, “um vale de lágrimas”. Sim, sempre houve sofrimento em qualquer época da humanidade: guerras, miséria, exploração, invasões, incêndios, dilúvios, pestes. Mas nunca houve uma partilha diária, ao vivo, de todas as dores e injustiças em curso. Nunca estivemos mergulhados 24 horas em notícias, informações e deformações, em imagens e vídeos tentando nos vender coisas e nos convencer de outras tantas. Estamos exaustos, estamos desnorteados.
Quando vem então um discurso cínico e indecente de um Zuckerberg, dono das redes de que muitos de nós dependemos para divulgar nossas ações, ideias e produções, bate um desânimo extremo.
E não tenhamos ilusões, pelo menos nos próximos anos, as coisas tendem a piorar, porque a extrema direita está tomando conta de inúmeros países, a crise climática também vai se tornar cada vez mais aguda, aos ecos de guerra talvez também se façam mais fortes. Depois, acredito e espero, que viraremos a página do mundo. Contemos que esses sejam os estertores finais do capitalismo.
Mas enquanto estamos no auge do caos, temos que saber o que fazer para resistirmos e alcançarmos a outra margem da história. Em primeiro lugar, não perder a esperança, mesmo que tudo nos leve a crer em rumos trágicos, insuperáveis para a humanidade. Para mantermos viva a esperança, é preciso que cuidemos de nossa mente, de nosso corpo, de nosso coração. Muita arte, muitos encontros e toques afetivos, orações para quem é de rezar, meditações para quem é de meditar, terapia, análise, mas também conversa boa com amigos e gente querida. Tudo isso nos cria imunidade psíquica contra o adoecimento, a depressão, a ansiedade e coisas mais graves.
E algo que precisamos recuperar urgentemente: a união na resistência, a luta coletiva. O individualismo feroz do sistema capitalista atingiu mesmo os que são (ou se julgam ser) de esquerda. Os movimentos de esquerda se dividem, criam seitas, massacram-se com pautas morais que vêm do sistema vigente… se não há confiança, lealdade, amor mesmo, entre os que lutam por um amanhã melhor, dificilmente chegaremos lá.
Façamos a nossa parte e busquemos alianças, mantendo o coração aberto!
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.