O Escândalo do Convite Apócrifo

por Petronio Portella Filho

O Ministro Alexandre de Moraes divulgou o print do e-mail que teria sido recebido por Eduardo Bolsonaro com o “convite” a seu pai para a posse de Donald Trump, que irá se realizar em 20 de janeiro. 

O advogado do Mito anexou tal “convite” a um requerimento ao Supremo pedindo a devolução do passaporte do ex-presidente para a viagem. 

 Algumas observações sobre o “convite”: 

1) o nome do futuro presidente e vice estão incompletos, só Trump e Vance. Quando morei nos EUA, notei que todos lá se apresentam em eventos sociais com nome e sobrenome, exceto as garçonetes. O autor do convite tratou o presidente-eleito e o vice como garçonetes.

2) o nome do “convidado de honra” está incompleto e incorreto. Ele se chama Jair Messias Bolsonaro, não “Presidente Bolsonaro”. 

 3) o convite faculta ao homenageado levar mais uma pessoa de sua escolha, um convidado extra cujo nome sequer foi mencionado. A segurança da Casa Branca autorizaria um político brasileiro a levar um convidado surpresa na posse de um presidente que sofreu atentado quatro meses atrás? 

 4) [email protected], o e-mail do remetente, não tem gov no nome, logo não é do governo americano. Trata-se quando muito de um site de informações que distribui convites simbólicos para eventos abertos ao público. 

 5) se o convite foi uma deferência especial a Jair Bolsonaro, como afirma o filho, ele deveria ter sido entregue, impresso, pela embaixada dos EUA no endereço do homenageado, ou no gabinete do deputado Bolsonaro, que fica a 5 minutos da embaixada. 

 6) o texto do convite é lacônico, apenas seis linhas, e contém várias lacunas. Não há referência a nenhum horário, local, documentos, ritual de apresentação, ou o nome de algum organizador ou membro do cerimonial. 

 7) enfim, o “convite oficial” tem redação e formatação de nível ginasial e não contém nenhuma assinatura ou carimbo. Ele é escandalosamente apócrifo.

 Das duas uma. Ou o convite é fake ou a Casa Branca virou a Casa da Mãe Joana. 

 Acredito na primeira hipótese. Tudo leva a crer que o pedido de liberação do passaporte, baseado num convite pessoal inexistente, era parte de um plano de fuga para o exterior. Podem ter tentado enganar o Supremo Tribunal Federal com uma falsificação grosseira. Isso não deveria ser investigado pela Polícia Federal? 

 Causa perplexidade que órgãos da grande imprensa brasileira, diante de falsificação tão escandalosa, tenham noticiado o evento, não com indignação, mas aparentando falsa neutralidade. 

Na verdade, vários jornais e sites de notícias concederam amplo espaço para que o deputado federal Eduardo Bolsonaro espalhe mentiras para os leitores e dirija ameaças ao Ministro Alexandre de Moraes. 

 Petronio Portella Filho – Consultor concursado do Senado Federal, formado em Economia pela UnB, com mestrado na University of Minnesota e doutorado na Unicamp. É autor dos livros A Moratória Soberana, Os Sapatos do Espantalho e Mentiras que contam sobre a Economia Brasileira. 

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 13/01/2025