A educadora Diva Guimarães, que ganhou notoriedade após um forte depoimento contra o racismo na edição 2017 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) morreu no último sábado 18, aos 84 anos, em Curitiba (PR). A causa da morte não foi divulgada.
Formada em Educação Física, Diva nasceu em Serra Morena (PR), filha de uma lavadeira e neta de escrava.
Na Flip de 2017, ela participava como ouvinte de uma mesa com o ator Lázaro Ramos e a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques. Quando os debatedores abriram o evento para perguntas, Diva passou a narrar a sua própria trajetória e descreveu as suas lutas pessoais contra o racismo.
“Fui a primeira pessoa da minha família a ter acesso à escola. Isso fez com que despertasse cedo para a minha condição. Minha mãe lavava roupa para outras pessoas em troca de material escolar”, contou.
“Numa das escolas onde estudei, as freiras contavam que Deus teria feito um rio por onde todos teriam que atravessar”, continuou. “Os primeiros, mais fortes e mais inteligentes, ao passarem por esse rio teriam perdido a cor tornando-se o que hoje são os bancos. Já nós, os negros, seríamos burros e preguiçosos, por isso teríamos atravessado quando restava apenas a lama do rio. Por isso é que apenas as nossas palmas das mãos e dos pés seriam claros”, afirmou a educadora.
O momento foi um dos mais marcantes da Flip daquele ano. Emocionado, Lázaro Ramos chegou a chamar a educadora para o palco. Anos depois, já como diretor, Lázaro chamou Diva para participar do filme Medida Provisória, de 2020.
Nas redes sociais, o artista lamentou a morte da educadora e relembrou as suas lições. “Até o final, a sua presença me ensinou alguma coisa, como, por exemplo, a importância da amizade. Ver suas amigas com a senhora, lhe apoiando, te levando alegria e conforto até o fim, foi emocionante demais”.
O perfil oficial da Flip também recordou a trajetória da educadora. “Sua voz, carregada de emoção, coragem e sabedoria, ecoou por Paraty e por todo o país, tocando fortemente o público”, disse o perfil. “A presença de Diva atestou a força da palavra e a importância de se compartilhar histórias”, complementou o texto.
Quem também lamentou a morte de Diva Guimarães foi o presidente Lula (PT). “Com 40 anos de magistério, Diva expôs o racismo que ainda persiste e precisa ter um fim. Ela deixa um legado de luta e ensinamentos que permanecerá vivo em seus alunos, familiares e admiradores, a quem presto minha solidariedade”, registrou o presidente.