A vitória de Ainda estou aqui no Globo de Ouro deixou claro que o filme é uma operação golpista da família Moreira Salles, do Itaú. O golpe em dois sentidos, primeiro para melhorar a imagem do próprio Itaú, a instituição “brasileira” mais odiada do país. Segundo, golpista no pior sentido possível, de orquestrar um golpe contra a classe trabalhadora. O que esperar de um banqueiro?
Aqui o principal não é o filme em si, mas a operação de propaganda feita em conjunto com a imprensa burguesa e o imperialismo norte-americano, que controla o Globo de Ouro. Isso é crucial de entender pois o filme em si não é o aspecto mais importante, apesar de politicamente apesar uma crítica direitista à Ditadura Militar. Lembrando que o aspecto político do filme não é algo que o define como obra de arte, apesar de interferir de uma forma ou de outra na obra.
A questão crucial é: o filme é uma propaganda da defesa da “democracia”. Mas não da democracia que se defendia contra a ditadura militar, é uma defesa da “democracia” atual, ou seja, do Partido Democrata dos EUA. No Brasil isso é a defesa do PSDB, da imprensa burguesa, do Itaú e do principal setor da burguesia brasileira. Supostamente em oposição ao bolsonarismo, mas acima de tudo, em oposição aos trabalhadores.
Essa é a campanha em torno do filme que deve ser denunciada mas que não aparece em quase nenhuma análise da esquerda. Setores mais surrealistas da esquerda afirmam que o Globo de Ouro vai derrotar o fascismo. Seria bom mostrar um caso na história do movimento operário que um prêmio de arte foi capaz de derrotar a extrema direita.
A crítica política em relação ao filme é que ele não tem nada de esquerda ou de nacionalismo. O deputado Rubens Paiva, que é torturado e assassinado, era do PTB, o partido da esquerda nacionalista do Brasil. Óbvio que o filme não tem obrigação de mostrar o programa político do PTB, é uma obra de arte não um panfleto. Mas o oposto também é um erro. Um filme sobre um deputado que não fala absolutamente nada de política também é absurdo.
Isso porque o banqueiro não quer que sua peça de propaganda tenha um viés de fato combativo, de esquerda. O sequestro do embaixador aparece como algo quase fora da realidade, uma ação na televisão muito mal explicada. O amigo de Rubens, que explica por que ele colaborou com a resistência apenas afirma “não dá para fazer ficar parado sem fazer nada”.
Ou seja, a ditadura é ruim porque ela é repressiva e só. Mas esse não era o maior problema da ditadura, essa era a consequência da sua política. O período da ditadura foi o mais reacionário da história do Brasil pois ele freou a ascensão gigantesca que acontecia há 34 anos com a Revolução de 1930 e iniciou a destruição da economia nacional. O Brasil crescia para se tornar uma potência como a China está se tornando, os militares acabaram completamente com isso e o País nunca voltou a apresentar esse crescimento. Para isso foi necessário esmagar completamente todo o nacionalismo e toda a esquerda. Como dito acima, o filme não tem a obrigação de falar isso como um panfleto, mas ao não falar nada sobre, mostra o seu direitismo.
Já os comentários propriamente políticos do filme são todos direitistas. Eunice volta a aparecer já mais velha criticando a construção da transamazônica, ou seja, os militares eram ruins porque destruíram o meio ambiente, uma crítica ridícula. Depois o filme revela que ela trabalhou até no Banco Mundial e também na ONU. Ou seja, faz propaganda para as organizações do imperialismo.
Em suma, o filme não tem nada de esquerda ou de nacionalista a não ser o fato de que mostra a barbaridade dos centros de tortura dos militares. A sua mensagem mais política é a defesa do imperialismo, ou seja, a política do Itaú. A isso se soma toda a campanha da imprensa burguesa e do próprio imperialismo que controla o Globo de Ouro.
No fim esse filme não se difere muito dos demais filmes nacionais que têm relação com as grandes produtoras. O problema é a esquerda não perceber que ele faz parte de mais um golpe, e assim endeusar o filme. É mais uma manifestação do endeusamento dos golpistas que tem como seu ápice o elogio a Xandão, o homem que mandou prender o presidente Lula e assim elegeu Bolsonaro.
Para completar, um comentário sobre o caráter artístico. O uso do filme como ferramenta política dificulta muito uma análise. A ambientação é bonita, os figurinos também, Torres atua bem, a cena da polícia acabando com sua vida é impactante. Mas diante do Itaú tentando mais uma vez saquear o Brasil fica difícil pensar no filme como uma obra de arte.