É curiosa a análise das políticas sociais apenas sob o prisma dos custos monetários. O potencial de um país é dado pela soma das potencialidades realizadas de seu povo. Quantos talentos não se perdem por falta de oportunidade, nem um desperdício sem tamanho de uma das culturas mais criativas do planeta.
Vamos a dois exemplos, que me foram passados por Marcelo Khayat, um dos grandes violonistas da história.
O primeiro é Plínio Fernandes. Era um rapaz pobre de Itanhaém, litoral santista. Tentou estudar na melhor escola de música da Europa, o Royal College of Music, de Londres. Passou na prova de graduação. Mas, em teoria, é impossível bolsa para a graduação.
Para sorte dele, seu pai conhecia alguém da TV Globo, em Santos. Deu tema para uma reportagem mostrando-o batendo bola na praia, e a chamada “rapaz pobre de Itanhaém ganha vaga na escola da Rainha”. Não era bem isso, mas valeu.
No dia seguinte, ele recebeu uma ligação da Secretária do Ministro da Educação, Aloísio Mercadante, informando o lançamento do Ciência Sem Fronteiras, e que Plínio tinha exatamente o perfil que procuravam.
Plínio tornou-se a única pessoa a ganhar uma bolsa para artes do Ciência Sem Fronteiras, uma bolsa integral para 4 anos de graduação. Em valores de hoje, seriam 37 mil libras, menos de 250 mil reais para formar um dos grandes novos talentos do violão brasileiro.
Agora, nesse país em que em se plantando música, tudo dá, surgiu outro talento. Segundo Khayat, é daqueles talentos que surgem um em cada geração. Seu nome é Ederaldo Sueiro, de família pobre de agricultores do interior do Paraná.
Em apenas três semanas aprendeu uma das peças mais complexas de Aranjuez. Aqui, duas peças, o Estudo Número 7 de Villa Lobos e o Caprice n 7 by Luigi Legnani.