Em 11 de janeiro de 2020, autoridades de saúde da cidade de Wuhan, no centro da China, anunciaram que um homem de 61 anos havia morrido devido a complicações de pneumonia causada por um vírus até então desconhecido. A revelação ocorreu depois que as autoridades relataram dezenas de infecções ao longo de várias semanas com o vírus que, mais tarde, passou a ser chamado de SARS-CoV-2, causador da doença Covid-19.

Nas semanas seguintes, a propagação do vírus desencadeou uma pandemia que já matou mais de 7 milhões de pessoas e alterou profundamente estilos de vida em todo o mundo, inclusive na China.

Neste sábado 11, a imprensa estatal, controlada por Pequim, não emitiu uma comunicação oficial sobre o assunto. O Partido Comunista Chinês encerrou o debate público e evitou qualquer discussão sobre as restrições sanitárias draconianas no país desde que abandonou subitamente as regras, no fim de 2022.

Perto de um antigo hospital improvisado nos arredores de Wuhan, tudo está deserto. Os prédios foram deixados abandonados, atrás de cercas que os tornam inacessíveis.

“Em Wuhan, se uma pessoa era infectada, geralmente toda a família era afetada. Se alguém morria, geralmente era a família inteira que desaparecia. Depois, quando vimos as notícias nas redes sociais, tudo ficou mais alarmante”, recorda-se Tang, motorista de táxi, à enviada especial da RFI à cidade, Clea Broadhurst.

“Vimos mensagens e ouvimos o som das sirenes das ambulâncias. Com o passar do tempo, o medo começou a tomar conta porque não podíamos sair, e aqueles três meses foram realmente difíceis de superar.”

Mercado de Wuhan nunca mais reabriu

Protegido por grandes placas azuis, o famoso mercado de Wuhan nunca mais reabriu, a exemplo de tantos outros negócios que sofreram com a pandemia e não conseguiram se recuperar.

“Esses últimos três anos apagaram tudo. Essa é a realidade. Toda a economia de Wuhan entrou em colapso. Antes, eu ganhava 1.000 yuans por dia, e agora são apenas 400”, disse um morador. “Muitas lojas, especialmente aquelas nas esquinas, fecharam para sempre.”

Cinco anos depois, a amargura ainda é presente, mas todos dizem querer virar a página do vírus. Nas redes sociais, muitos usuários parecem ignorar o aniversário de cinco anos das mortes por Covid. Alguns vídeos que circulam no Douyin (a versão chinesa do TikTok) mencionam a data, mas repetem a versão oficial dos acontecimentos.

Ao contrário de outros países, a China não construiu grandes monumentos para aqueles que perderam suas vidas durante a pandemia.

Lembranças na internet

Na popular plataforma Weibo, os usuários que frequentam a antiga conta de Li Wenliang — o médico que alertou sobre o vírus e foi investigado pela polícia por espalhar informações iniciais sobre o assunto — não se referiram diretamente à data.

“Dr. Li, mais um ano se passou”, dizia um comentário no sábado. “O tempo voa tão rápido.”

As lembranças online também foram raras em Hong Kong, onde Pequim abafou as vozes da oposição quando impôs uma abrangente lei de segurança nacional no território semiautônomo em 2020.

Poucas informações foram divulgadas sobre a identidade da primeira vítima da Covid, além do fato de que ela era uma visitante frequente de um mercado de frutos do mar em Wuhan, onde se acredita que o vírus tenha circulado durante o surto inicial.

Nos dias seguintes à sua morte, outros países relataram os primeiros casos da doença, mostrando que os esforços oficiais para conter sua disseminação haviam falhado. A China foi posteriormente criticada por governos ocidentais por supostamente encobrir a transmissão inicial do vírus e apagar evidências de suas origens, embora Pequim tenha afirmado que agiu de forma decisiva e transparente.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a China relatou oficialmente quase 100 milhões de casos de Covid e 122 mil mortes até o momento. O número real provavelmente nunca será conhecido.

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Last Update: 11/01/2025