A crise climática afeta toda a humanidade, mas os responsáveis pelos efeitos mais danosos têm origens e posições sociais distintas. Em outras palavras, a parcela mais rica da população mundial é responsável por emissões de carbono significativamente superiores às da população mais pobre.

É o que revela uma nova análise da Oxfam, divulgada nesta sexta-feira 10. Segundo o estudo, o 1% mais rico da população global consome sua parcela do orçamento global de carbono em apenas dez dias. Já a metade mais pobre da população levaria 1.022 dias — quase três anos — para atingir o mesmo nível de emissões.

O orçamento global de carbono refere-se à quantidade máxima de CO2 que pode ser emitida sem ultrapassar o limite de 1,5°C no aumento da temperatura média global. Conforme os dados da Oxfam, a parcela mais rica emite mais que o dobro de carbono do que a metade mais pobre da humanidade.

Essa disparidade é um dos fatores que levam o planeta a uma situação crítica, descrita como “por um fio” por Nafkote Dabi, líder de Política de Mudanças Climáticas da Oxfam Internacional. “Os super-ricos continuam desperdiçando as chances da humanidade com estilos de vida extravagantes, investimentos poluentes e influência política nociva. Isso é um roubo puro e simples: uma pequena elite está roubando bilhões de pessoas de seu futuro para alimentar sua ganância insaciável”, afirmou.

Consequências para o futuro

Sem mudanças concretas no enfrentamento da crise climática, o futuro torna-se ainda mais desafiador. O levantamento aponta que, se o nível atual de emissões de CO2 do 1% mais rico for mantido até 2050, perdas agrícolas suficientes para alimentar 10 milhões de pessoas no Leste e Sul da Ásia ocorrerão anualmente.

A inércia diante do problema também agravará as temperaturas extremas. A Oxfam destaca que 80% das mortes por calor extremo ocorrerão em países de baixa e média-baixa renda — justamente aqueles que menos contribuem para as emissões de carbono.

Esse fenômeno é conhecido como “desigualdade do carbono”. Para ilustrá-lo, a Oxfam apresentou dados alarmantes. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o orçamento anual de carbono por pessoa deveria ser de 2,1 toneladas de CO2 para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. Contudo, o 1% mais rico emite, em média, 76 toneladas anuais por pessoa. Já a metade mais pobre da população global emite apenas 0,7 tonelada. A disparidade torna-se ainda mais evidente ao observar os 50 bilionários mais ricos do mundo: eles emitem mais carbono em apenas uma hora e meia do que uma pessoa média durante toda a sua vida.

“Os governos precisam parar de servir aos interesses dos mais ricos. Esses grandes poluidores devem ser responsabilizados. É hora de taxar, reduzir emissões e proibir excessos como jatos particulares e iates de luxo. Líderes que não agirem estarão escolhendo ser cúmplices dessa crise”, alerta Dabi.

Soluções possíveis

A Oxfam propõe medidas que, embora discutidas em instâncias especializadas, enfrentam resistência para serem implementadas. Entre elas está a taxação sobre renda e patrimônio do 1% mais rico, uma ideia que já é defendida pelo governo Lula (PT). Outra medida sugerida é ampliar o financiamento climático para os países mais pobres.

No discurso, lideranças globais prometeram 300 bilhões de dólares anuais para combater o problema. No entanto, a chamada “dívida climática” dos países ricos, segundo a Oxfam, já ultrapassa 5 trilhões de dólares.

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Last Update: 10/01/2025