A terceira década do século XXI deve começar a visualizar um novo arranjo de distribuição das responsabilidades globais, com o clima nas capitais europeias oscilando entre o pânico e a resignação diante da aproximação da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
“Mas acordos ad hoc não responderão à grande questão que paira no ar: o que outra presidência de Trump significará para a cooperação global?”, questionam os economistas George Papaconstantinou e Jean Pisani-Ferry em artigo publicado no site Project Syndicate.
Em um primeiro momento, ambos consideram a eleição de Trump uma “má notícia para aqueles que acreditam que todos nós temos um dever para com os bens comuns globais e que a interdependência deve ser administrada com regras claras, estáveis e consistentes”.
Tal visão leva em conta a visão nacionalista de Trump, que considera a governança global “um obstáculo à primazia americana”, e existem muitas razões para pensar que o republicano é “uma expressão aberrante de uma mudança fundamental nas atitudes dos EUA em relação à liderança global”.
Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA abraçaram o papel de líder global. Por um lado, o país obtém grandes benefícios com a supremacia do dólar norte-americano enquanto assume a responsabilidade monetária e financeira global.
Contudo, os EUA não aceitam mais esse “contrato implícito” e, embora o país seja a única superpotência financeira, o governo norte-americano não quer mais arcar com as obrigações advindas dessa liderança.
Diante disso, os articulistas dizem que o mundo deve mudar “para novos arranjos pelos quais as responsabilidades globais sejam mais amplamente distribuídas” em termos ambientais, no que tange à macroeconomia e também ao comércio internacional.
“Em todas essas questões e mais, os formuladores de políticas terão que se adaptar a um mundo em que nenhum poder único está no comando. Isso requer definir, para cada campo, quais formas de governança global são mais adequadas a um terreno irreversivelmente mais diverso e mais fragmentado”, ressaltam Papaconstantinou e Pisani-Ferry.