As reservas de lítio da China quase triplicaram (de 6% para 16,5%), tornando o país o segundo maior detentor mundial do metal essencial para tecnologias de energia renovável, anunciou o Ministério de Recursos Naturais da China, na última quarta-feira (8). Com a descoberta de novos depósitos e avanços tecnológicos na extração, o país agora detém 16,5% das reservas globais, ficando atrás apenas do Chile e ultrapassando Austrália, Argentina e Bolívia, de acordo com o Serviço Geológico da China.

Esse salto foi possível graças às descobertas em um cinturão de lítio de 2.800 quilômetros que se estende pelas regiões de Kunlun, Songpan e Ganzi, no oeste do país. O cinturão, sozinho, possui reservas comprovadas de mais de 6,5 milhões de toneladas, com potencial de recurso superior a 30 milhões de toneladas. Essa região também enriquece a diversidade de minérios de lítio da China.

Este conquista reflete não apenas a descoberta de novos depósitos, mas também o aprimoramento de técnicas que permitem a extração do metal de minerais antes considerados inviáveis. O lítio é um elemento essencial na produção de baterias de íons de lítio, que alimentam veículos elétricos e eletrônicos, setores em rápida expansão na China.

Importância estratégica do lítio

A China é o maior consumidor global de lítio, essencial para a produção de baterias e eletrônicos, especialmente para veículos elétricos. Segundo a agência Xinhua, o país buscava reduzir sua dependência de importações para atender à demanda crescente. Essa dependência elevava os custos de produção e limitava o desenvolvimento de setores como armazenamento de energia, comunicações e tratamentos médicos.

As aplicações do lítio vão além das baterias. Indústrias emergentes como armazenamento de energia, comunicações, tratamentos médicos e combustíveis para reatores nucleares também dependem do metal. O crescimento da indústria de energia renovável e a transição para veículos elétricos aumentaram ainda mais a demanda global por este recurso.

Avanços tecnológicos impulsionam extração

A expansão das reservas também foi impulsionada pelos avanços na extração de lítio de lagos salgados e da mica de lítio. Os recursos de lagos salgados identificados recentemente somam mais de 14 milhões de toneladas, posicionando a China como o terceiro maior centro de lítio de lagos salgados do mundo, atrás do Triângulo do Lítio na América do Sul e do oeste dos EUA.

A extração de lítio da salmoura desses lagos, além de ser de baixo custo, também apresenta menor impacto ambiental, tornando-se uma opção sustentável. Por outro lado, as inovações tecnológicas na extração de mica superaram desafios como altos custos e processos complexos, adicionando 10 milhões de toneladas às reservas comprovadas.

Líder na produção de baterias

Com cadeias industriais completas, a China também lidera a produção de baterias de íons de lítio, alcançando 890 gigawatts-hora entre janeiro e outubro de 2024, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Durante o mesmo período, foram produzidos mais de 200 gigawatts-hora de baterias para armazenamento de energia e aproximadamente 405 gigawatts-hora para veículos de nova energia.

Lin Boqiang, diretor do Centro Chinês de Pesquisa em Economia de Energia da Universidade de Xiamen, destacou que as cadeias produtivas completas garantem maior competitividade no mercado global. A integração de tecnologias de ponta também impulsiona a inovação no setor.

Contexto global do mercado de lítio

No cenário global, o Triângulo do Lítio — formado por Bolívia, Argentina e Chile — lidera em reservas, com a Bolívia possuindo 23 milhões de toneladas. O Brasil, embora tenha reservas menores, é o quinto maior produtor de lítio, extraindo 4,9 mil toneladas em 2024. A maior parte do lítio brasileiro é exportada para a China, que o utiliza na produção de baterias, inclusive para carros elétricos como os da BYD.

Com avanços tecnológicos e novas descobertas, a China fortalece sua posição como líder na transição para energia renovável e no mercado de alta tecnologia.

“Petróleo branco” e a dinâmica global

O lítio, conhecido como “petróleo branco” por sua importância no desenvolvimento da energia verde, tornou-se um dos minérios mais disputados do mercado. Apesar de sua descoberta no século XIX, foi apenas com o avanço das baterias que suas reservas passaram a ser intensamente exploradas. Em 2010, apenas 23% do lítio extraído era usado em baterias, percentual que saltou para 84% em 2023, segundo dados do United States Geological Survey (USGS).

Impactos para o Brasil

Embora o Brasil tenha reservas mais modestas, com cerca de 800 mil toneladas mapeadas, o país é o sexto maior produtor mundial, com 4,9 mil toneladas extraídas em 2024. A produção brasileira se concentra em Minas Gerais e no Nordeste, em regiões ricas em espodumênio. Boa parte do lítio brasileiro é exportada para a China, onde o mineral é transformado em baterias.

A gerente de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Aline Nunes, destaca que a combinação de logística, custos e qualidade permite que o Brasil seja um player relevante no mercado. Além disso, o Ministério de Minas e Energia investe em pesquisas para identificar novas reservas no país.

Com a ascensão da China no ranking global de reservas de lítio, o país reforça sua posição estratégica no setor de energia renovável, ao mesmo tempo em que desafia outros grandes players, como Austrália e América do Sul, a buscarem avanços tecnológicos e geopolíticos para manterem sua relevância no mercado.

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Last Update: 09/01/2025