A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), concedeu entrevista à Tutaméia TV, nesta quarta-feira (8), dia que marcou os dois anos da invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília, por extremistas de direita. A parlamentar tratou da tentativa de golpe de Estado, do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, da guinada à direita da Meta, da necessidade de regulação das redes sociais no país, do papel a que se prestou Campos Neto à frente do Banco Central (BC), do cenário internacional, entre outros assuntos.

Na avaliação de Gleisi, os ataques de 8 de janeiro de 2023 foram resultado de ações perpetradas por golpistas e, por isso, a cerimônia desta quarta (8), no Palácio do Planalto, representou uma resposta a todos que atentaram contra o país. A deputada também descartou qualquer possibilidade de anistia aos envolvidos nos ataques contra a democracia. Ela previu ainda, dadas as evidências levantadas pelas investigações da Polícia Federal (PF), punição dura para Bolsonaro e seus aliados.

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“Tinha um processo que foi construído para que eles voltassem ao poder. E o 8 de janeiro foi a última etapa. O que eles queriam ali? Criar uma situação tal que fosse importante, ou que fosse necessário, decretar uma GLO […] passando o comando do país às mãos dos militares. Acho que o presidente Lula foi muito firme, não permitiu isso. E teve o apoio irrestrito dos presidentes dos Poderes, tanto do Supremo como do Congresso Nacional”, argumentou a presidenta do PT.

“Foi uma vitória importante, mas é óbvio que nós temos que estar sempre alerta e vigiando. O fato de termos vencido essa etapa não quer dizer que a gente tenha uma democracia sólida”, advertiu.

A Meta é desinformação

Gleisi disse temer que a guinada à direita da Meta – conglomerado estadunidense de tecnologia responsável pelo Facebook – possa minar o Estado Democrático de Direito no Brasil. O dono da rede social, o bilionário Mark Zuckerberg, comunicou, no início da semana, o fim do serviço de checagem de fatos, alinhando-se ao notório extremismo do novo presidente dos Estados Unidos, o magnata republicano Donald Trump.

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Para a parlamentar, a regulamentação das redes sociais pelo Congresso tornou-se inadiável. “O que fica claro é que o Zuckerberg está fazendo uma aliança política com o Trump. Tanto que, pelo menos no noticiário de imprensa, dizem que essa forma de atuação da Meta vai se dar, praticamente, nos Estados Unidos, apenas, pelo menos, por enquanto […] Mas é muito ruim, porque se dá em um país que tem um grande poder no mundo inteiro”, lamentou.

“Veja, até agora, a gente não conseguiu colocar para votar o projeto de regulação das redes sociais, que é, na realidade, regulação das plataformas, a forma como elas agem, quais são as responsabilidades que têm que ter, enfim. Tem um lobby muito pesado, tem uma disputa muito pesada, mas o caminho é a regulação”, ponderou a deputada.

“Eu espero que agora, na volta do Congresso, esse seja um tema prioritário, principalmente depois dessa manifestação do Zuckerberg”, completou.

A presidenta do PT entende a eleição de Trump como um “reforço” à extrema direita no Brasil. De acordo com ela, isso é perceptível na fachada que os Bolsonaro tentam manter de proximidade em relação ao presidente dos Estados Unidos, como se fossem amigos íntimos. “Nós vamos enfrentar uma batalha muito pesada. Fortalecer a democracia é muito importante”, enfatizou.

Disseminação do ódio

Sobre o envolvimento de Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado e sobre o indiciamento do ex-presidente pela PF, Gleisi foi categórica: “Tenho certeza que tem muita responsabilidade sobre isso e […], se esses processos forem levados à frente como estão sendo levados, vai ter um fim de punição bem severa”.

“O Bolsonaro, na realidade, é o grande condutor de tudo isso que está acontecendo no Brasil, é ele. O condutor das mentiras, do ódio, da maneira de fazer política, o jeito que ele fez política no Brasil, principalmente como ele agiu como presidente da República, e, depois, quando perdeu a eleição”, elencou a deputada, antes de descrever as agressões do extremista de direita contra as urnas eletrônicas que o elegeram.

As prisões do general da reserva do Exército Walter Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, e de outros militares de alta patente também foram abordadas pela presidenta do PT durante a entrevista.

“O Braga Netto não foi preso pelas denúncias que têm contra ele, porque ele estava sendo investigado […] Uma vez considerado culpado, tem que pagar pelos seus erros, não importa se é civil ou se é militar, se vai ter desconforto ou não vai ter desconforto. A farda não pode ser um salvo-conduto para ninguém. No caso do Braga Netto, ele foi [preso] porque ele estava interferindo no processo de investigação, o que é muito grave”, avaliou Gleisi.

“Cavalo de Troia”

A petista condenou, mais uma vez, o papel deletério a que se prestou Campos Neto – ex-presidente do BC considerado o “Cavalo de Troia” herdado por Lula de Bolsonaro – na escalada dos juros e na disparada do dólar. Segundo Gleisi, o novo chefe da autarquia federal, Gabriel Galípolo, não vai sabotar o governo como seu antecessor.

“Desde abril do ano passado, o Campos Neto tem feito uma articulação e um posicionamento para conduzir as expectativas do mercado para o pessimismo. Nós não tínhamos isso. Nós assumimos o governo, vocês vejam que o mercado achava que a gente ia crescer 0,8% em 2023. A gente cresceu 3,2%”, denunciou a deputada.

“Aumentamos renda, aumentamos emprego, a economia foi se estabilizando. E aí o Campos Neto resolveu fazer o boicote, essa foi a verdade, ao governo do presidente Lula e botar a carga toda da expectativa do mercado em cima da questão fiscal […] Nós nunca tivemos bagunça nas contas públicas.”

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Da Redação

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Last Update: 09/01/2025