Em seu balanço dos dois anos da manifestação bolsonarista de 8 de janeiro de 2023, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), por meio de seu jornal Opinião Socialista, revelou uma vez mais que a sua opinião é simplesmente a mesma que a da rede Globo. O artigo intitulado 8J: Os desafios colocados à classe trabalhadora 2 anos após a tentativa golpista, apresenta exatamente a mesma versão da burguesia sobre os acontecimentos daquela data: que teria havido uma tentativa de golpe de Estado e que esta tentativa foi impedida graças aos esforços das instituições “democráticas”.
Essa ideia aparece logo no início do texto do PSTU:
“Nesses dois anos que nos separam daquele 8 de Janeiro até aqui, uma verdadeira enxurrada de provas e evidências vieram à tona mostrando a organização, e a implementação, de um plano golpista. Tanto que 2024 foi encerrado com a prisão de Braga Netto, na primeira vez que um general de 4 estrelas vai para a cadeia na Nova República.
Se já era difícil argumentar que o 8 de janeiro de 2023 não passou de um ato espontâneo de quebra-quebra, como passou a argumentar a extrema direita diante do fracasso do plano, hoje essa versão é ainda mais desmoralizada. Não só o 8J foi arquitetado e organizado por setores da cúpula das Forças Armadas, com a ajuda e financiamento de setores da burguesia como o agro, como ele foi um capítulo numa sequência de planejamentos e tentativas de perpetuar a extrema direita no poder, para instaurar, na prática, uma ditadura no país. Até mesmo o assassinato de Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, foi aventado e, por pouco, não foi concretizado.”
Distinguir se houve uma tentativa de golpe ou não em 8 de janeiro de 2023 não é uma mero debate formal. A caracterização do que houve naquele dia é determinante para estabelecer que política a esquerda deve ter frente ao regime político. Vejamos.
Quando o PSTU fala em “enxurrada de provas e evidências”, ele está, em primeiro lugar, fornecendo um atestado de confiança às instituições mais conspirativas e golpistas do País. Afinal, quem apresentou essa “enxurrada” foram a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF). Os mesmíssimos responsáveis pela prisão do presidente Lula.
Mas não é só isso. As “provas” não são, de fato, provas. Argumenta-se que dezenas de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam discutido um plano para assassinar Lula e outras pessoas ligadas ao presidente da República. Discutir plano, no entanto, não é crime algum. Da mesma forma, invadir as sedes dos Três Poderes desarmado não é tentar derrubar os poderes constituídos.
O PSTU, ao apresentar isso como provas, está colaborando para o estabelecimento de um regime arbitrário. Um regime em que a Lei não vale de absolutamente nada. E quem serão os maiores prejudicados? A esquerda e os trabalhadores, que são, por definição, inimigos do regime político.
Quando o PSTU diz que “não só o 8J foi arquitetado e organizado por setores da cúpula das Forças Armadas, com a ajuda e financiamento de setores da burguesia como o agro, como ele foi um capítulo numa sequência de planejamentos e tentativas de perpetuar a extrema direita no poder”, surge um novo problema. Afinal, se havia a intenção de dar um golpe de Estado, por que esse golpe não aconteceu?
A única conclusão a qual poderíamos chegar é que o golpe não aconteceu porque as instituições que o PSTU tanto ama – Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) – teriam enfrentado os generais e impedido o golpe. O PSTU, por mais que acuse o governo Lula de colaborar com a burguesia – o que de fato faz -, é, na prática, um partido que terceirizou a luta contra a extrema direita para os seus principais financiadores.