A suposta candidatura de Gusttavo Lima: A extrema direita e o desafio da esquerda revolucionária 

A extrema direita não é algo exclusivo do Brasil, antes ela é fruto da crise estrutural do capitalismo em escala global, que gerou condições para seu surgimento e que continua as gerando para seu fortalecimento como uma força política duradoura. Este fenômeno é um sintoma claro da decadência do sistema capitalista, que se expressa por meio de carestia de vida e baixos salários; precarização e desemprego crescentes; sucateamento contínuo de serviços públicos e privatizações; pandemias e crises ambientais cada vez mais frequentes; guerras e conflitos imperialistas se intensificando.

Em nosso país, o ano de 2024 foi marcado por resultados expressivos da extrema direita nas eleições municipais. No entanto, ele trouxe também eventos significativos que a enfraqueceram. Em especial, a descoberta da conspiração para assassinar Lula, Alckmin e Moraes, como parte de um plano golpista anterior à posse do atual presidente. Isso explicou os verdadeiros objetivos dos acampamentos bolsonaristas em frente aos quarteis, e os eventos de 8 de janeiro de 2023, confirmando a tentativa de golpe de Estado.

Estes acontecimentos, no entanto, especialmente porque não desencadearam o apoio que seus idealizadores esperavam, frustraram-se, colocando a extrema direita sob intensa pressão judicial e política, com o consequente desgaste político.

É neste contexto, já em 2025, que surge a especulação sobre uma possível candidatura do “cantor sertanejo” Gusttavo Lima à Presidência da República para as eleições de 2026. Trata-se de uma evidente tentativa de renovação da extrema direita, particularmente de um setor do agronegócio. Por meio de uma figura jovem e popular, buscam se distanciar da face protofascista do bolsonarismo, sem, contudo, romper com os interesses econômicos que este defende e sua essência reacionária.

É crucial entender que, independentemente da figura que represente a extrema direita, seu conteúdo permanece fundamentalmente o mesmo: a defesa intransigente dos interesses da burguesia e do imperialismo, em detrimento da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos.

Nova extrema direita e o lulopetismo representam os interesses dos ricos

O verdadeiro desafio para a esquerda que não faz parte do governo Lula, ou seja, a esquerda revolucionária, não é apenas se opor à extrema direita e ao governo Lula. Buscamos construir um diálogo com a classe trabalhadora e todos os setores explorados da sociedade, através de suas lutas, demonstrando que, tanto um quanto o outro, governam para os ricos, para manter os lucros dos capitalistas, jogando o preço da crise nas costas da classe trabalhadora e dos pequenos comerciantes e mais: que essa crise não é devido o país ser governado pela esquerda ou pela direita, mas sim por ser governado para os bilionários, tanto da indústria, como das grandes redes de comércio e donos de bancos e também do agronegócio.

Por que nem o governo Lula, nem a extrema direita, são alternativas aos trabalhadores

O governo Lula e o PT:  Mantêm a política econômica neoliberal, que beneficia o grande capital em detrimento da classe trabalhadora. Vejamos, por exemplo, o arcabouço fiscal e o pacote de Haddad. O arcabouço fiscal, implementado em 2023, impõe limites rígidos aos gastos públicos, comprometendo investimentos sociais essenciais. Já o  pacote econômico de Haddad, anunciado no início de 2024, priorizou a chamada “responsabilidade fiscal” cortando direitos dos trabalhadores e sucateando sérvio públicos. Além disso, o governo Lula não revogou as reformas trabalhista e da previdência e continua com as privatizações, como vimos com a Eletrobras e outras estatais estratégicas.

A extrema-direita (velha e nova): A extrema direita, seja em sua versão tradicional ou em sua roupagem mais recente (Marçal, Nikolas, Gusttavo Lima), continua a representar uma ameaça aos interesses da classe trabalhadora e dos setores oprimidos da sociedade. Seu programa político e econômico é um verdadeiro ataque aos direitos conquistados com tanta luta. Defendendo abertamente os interesses dos grandes empresários e do agronegócio, propõem políticas que não só atacam direitos trabalhistas e sociais, mas também aprofundam as desigualdades existentes. O discurso de ódio contra minorias e movimentos sociais permanece como uma de suas marcas registradas, criando um ambiente de divisão e intolerância.

Além disso, sua postura negacionista em relação à ciência e sua minimização dos problemas ambientais representam um perigo real para o futuro do planeta e da humanidade. A política econômica ultraliberal que defendem, quando implementada, só faz aumentar o abismo entre ricos e pobres, precarizando ainda mais as condições de vida da maioria da população. Em suma, a extrema direita, em todas as suas formas, representa um retrocesso em termos de direitos sociais, ambientais e trabalhistas, e uma ameaça à própria democracia, por mais limitada que esta seja no sistema capitalista.

Construir uma alternativa socialista e revolucionária

O que se vê do quadro acima é que tanto a esquerda governista / reformista (governo Lula) como a extrema direita, apesar das diferenças entre eles, quando no governo, implementam medidas que visam garantir os lucros e os interesses dos bilionários. Bolsonaro e Lula, por exemplo, apesar da diferenças no discursos e no trato com os direitos democráticos, não questionam a estrutura capitalista e a dependência do Brasil ao imperialismo, seja esse o estadunidense, seja ao chines e/ou europeu; Mantêm intactos os privilégios dos banqueiros, dos grandes empresários e dos latifundiários / agronegócio. Não propõem mudanças estruturais na economia e na sociedade. Usam discursos populistas para ganhar apoio, mas na prática defendem interesses das elites

O que, é preciso, no entanto, é construir uma alternativa que coloque os interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos em primeiro lugar, que estatize os bancos e 100 maiores empresas do país, colocando-as sob controle dos seus trabalhadores e da sociedade. Defenda uma reforma agrária radical e o fim do latifúndio. Busque um plano econômico que priorize as necessidades sociais e não o lucro. Que construa um modo de governar baseado em conselhos de trabalhadores e das comunidades. 

Só essa alternativa pode oferecer uma saída real para a crise que vivemos. É isso que nós, do PSTU, propomos e lutamos para construir junto com todos os que vivem de sua força de trabalho, a chamada classe trabalhadora, e todos os setores oprimidos da sociedade.

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