Mark Zuckerberg, CEO da Meta. Foto: Reprodução

Pedro Bariano, ex-funcionário da Meta, empresa de Mark Zuckerberg, usou as redes sociais na última terça-feira (7) para fazer um desabafo relacionado ao anúncio recente do CEO. Ele relatou as denúncias que realizou durante seu tempo na empresa sobre fake news e irregularidades nas lives do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que violavam as políticas da plataforma, e detalhou como a chefia reagiu:

Eu nunca falei sobre isso aqui, mas agora vai um desabafo de um ex-funcionário: Eu trabalhei quase 6 anos nessa empresa. Comecei atuando no Brasil e eventualmente fui transferido pros EUA. Logo quando entrei vimos o escândalo da Cambridge Analítica.

Naquele momento, o movimento interno e externo era de assumir a culpa e dizer que ia se esforçar pra melhorar. E, independentemente da sua função na empresa, o discurso era de atuarmos juntos…

E veio a eleição de 2018 no Brasil. Fizeram uma força-tarefa, porque seria o primeiro grande ciclo de eleições pós escândalo.

Eu não fui chamado pra participar, era muito peixe pequeno, mas lembro de muita gente envolvida e vocês sabem qual foi o resultado… Muita fake news e Bolsonaro presidente.

Durante esse ciclo, percebi que por mais que alguns funcionários estivessem dedicados ao problema não existia uma estrutura capaz de cobrir o tamanho do buraco. Eu nem sei o que seria necessário, mas certamente os esforços feitos (no Brasil e no mundo) não foram suficientes.

Quando começaram as lives semanais do Bolsonaro como presidente às quintas-feiras, eu comecei a ativamente denunciar os absurdos que iam claramente contra às políticas da plataforma. O negócio é que ele sabia EXATAMENTE o limite do que dizer pra evitar uma suspensão.

Até esse momento, a empresa tinha encontros semanais no fim da tarde das quintas-feiras em que algumas pessoas apresentavam projetos sendo executados e ao final poderíamos fazer perguntas aos líderes do negócio. Uma espécie de Happy Hour com Q&A.

Infelizmente, ou não pra alguns, esse espaço de perguntas e respostas foi bastante impactado quando a pandemia nos levou pro trabalho remoto. Por mais que o encontro semanal continuasse online, a distância impactava no quórum presente e no poder da voz dos funcionários.

Eu sempre usei esse espaço pra cobrar posicionamentos das lideranças. E eu não parei quando o formato ficou online. Mas após mais uma pergunta sobre revisão de live do Bolsonaro – que acabei fazendo muito mais na pandemia por motivos óbvios – a paciência da liderança acabou.

Eu já tinha recebido feedbacks de gestores diretos de que eu poderia estar sendo visto como muito incisivo. Que a empresa era aberta às opiniões, mas que eu deveria ter cautela pra não ultrapassar o limite. Mas nesse dia um diretor altíssimo no BR me chamou no chat.

Ele é um cara do bem, nunca tive nada com ele antes desse dia. Mas nesse momento ele já deveria estar de saco cheio de eu não deixar o negócio pra lá, e ele provavelmente não tinha capacidade de mudar a situação, então ele foi um escroto (e tenho provas disso)

Fui aconselhado por um advogado a recuar, pq o risco ali não era só a Meta querer brigar contra mim e sim o meu nome vazar e os bolsonaristas começarem a ir atrás da minha família. Já tínhamos visto casos parecidos com diretores que se posicionaram nas eleições por exemplo.

Como empregador, a empresa foi sensacional comigo. Mas eu tinha sérias questões morais de continuar trabalhando pra eles. Eu cheguei à conclusao de que os produtos fazem mais mal do que bem pro mundo, e me via contribuindo ativamente pra isso.

Eventualmente, entrei em depressão pouco depois de ser expatriado. Uma mistura desse sentimento de culpa com a falta de adaptação no exterior e uma mudança de chefia repentina tudo ao mesmo tempo. A empresa me deu uma licença médica justa e disso não tenho o que reclamar.

Mas hoje, olhando as medidas que a Meta tomou na última semana, eu vejo que nunca iria me sentir bem trabalhando pra eles. Eu sei que corporações não tem valores, apesar de estar escrito no site delas alguma coisa aleatória, mas ela mostrou mais uma vez de que lado esta.

A empresa está do lado dela, do que for fazer bem pro futuro dela e dos shareholders, e é isso. Todo o papo de inclusão e diversidade, por exemplo, foi desmascarado na época dos layoffs (que nem tratei aqui, mas foi um absurdo atrás do outro por essa ótica).

Se quando existia algum esforço, mesmo que insuficiente só pra dizer que fazia algo, já era difícil… imaginem o que teremos pela frente.

Devo acabar apagando tudo isso, mas no momento me senti incomodado ao ponto de escrever aqui o que nunca tinha escrito nem pra mim mesmo.

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Last Update: 08/01/2025