A invasão de milhares de bolsonaristas à Praça dos Três Poderes, atacando os espaços públicos do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso e do Palácio do Planalto, completa hoje dois anos.

A depredação dos espaços de patrimônio nacional, gerando danos materiais milionários, foi minimizada pelos defensores e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro como um mero protesto.

Mas além da selvageria em si, os invasores tinham como claro objetivo ocupar os espaços de Poder, pedindo a derrubada do presidente Lula e o fechamento do Supremo Tribunal Federal, bandeiras explicitadamente de golpe de Estado.

Sob diversas críticas e polêmicas constatadas naquele dia, após muitas horas, as forças de segurança conseguiram conter os manifestantes e, em alguns dias, retomar a segurança dos centros de poder em Brasília.

Em dezenas de reportagens, o GGN fez uma ampla cobertura da cronologia do dia 8 de janeiro de 2023 e os dias que se seguiram. Abaixo, fazemos um compilado do que foi o dia que ficou marcado para a história do Brasil como o atentado golpista por seguidores de Jair Bolsonaro, confira:

Por volta das 14h30 da tarde daquele domingo de janeiro, os manifestantes golpistas já haviam adentrado boa parte das instalações das sedes do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF.

Lula não se encontrava no Palácio, sede do Executivo, e cumpria agenda no interior de São Paulo. Naqueles primeiros minutos, foi possível observar que os manifestantes entraram livremente nos espaços de Poder, uma parte deles portando armas, e iniciando as depredações e ataques.

Cerca de 30 minutos depois das invasões, que não foram inicialmente barradas pelas polícia, o Exército assumiu a área, juntamente com a cavalaria da Polícia Militar (PM).

Alguns agentes da Segurança, incluindo policiais militares, o batalhão de choque e militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), contudo, foram flagrados auxiliando bolsonaristas e até mesmo tirando fotos com os mesmos, sem deter os atos de violência e depredação.

Ainda no dia anterior, sábado, sem sequer previsões de que os ataques ocorreriam, o então ministro da Justiça, Flávio Dino, acionou a Força Nacional para atuar em Brasília, ao constatar a chegada das centenas de transportes e multidão que se assomava à área.

Eram milhares de bolsonaristas, calculados inicialmente em 3,9 mil, que chegaram de centenas de ônibus de diversas regiões do Brasil para Brasília.

A Polícia Federal também estava atenta aos movimentos, uma vez que soube das possibilidades de ataques de grupos bolsonaristas às vésperas da invasão. Notificado, Flávio Dino já havia, previamente, solicitado ao governador Ibaneis Rocha que adotasse procedimentos de segurança.

Já passadas 3 horas da inação das forças de segurança do Distrito Federal, incluindo a Polícia Militar, o presidente Lula determinou a intervenção federal no Distrito Federal, convocou o Polícias Militares e Civis de outros estados do Brasil, que se dirigiram à Brasília, e determinou a atuação da Polícia Federal e da Força Nacional.

Paralelamente, as forças de Segurança Parlamentar também atuaram, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, e prenderam algumas dezenas de golpistas que estavam no Senado Federal.

Após às 17h daquele domingo, com boa parte dos espaços públicos destruídos, o governador Ibaneis Rocha pressionou para que as forças de segurança de seu governo atuassem, prendessem e esvaziassem as sedes de poder.

No dia da invasão, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, estava de viagem nos Estados Unidos. Após ser pressionado, o governador anunciou a demissão de Torres, por volta das 18 horas do dia 8 de janeiro.

Assim que assumiu o controle do Distrito Federal, o interventor Ricardo Cappelli, nomeado pelo presidente Lula para tomar conta do Distrito Federal em substituição a Ibaneis, afirmou que Anderson Torres deveria ser responsabilizado, uma vez que a invasão foi viabilizada por um ato de sabotagem do ex-secretário de Segurança Pública.

“A responsabilidade central no domingo foi a falta de comando. Foi uma operação estruturada de sabotagem comandada pelo ex-ministro de Bolsonaro Anderson Torres, que deixou a secretaria sem direção, sem liderança e fugiu para o exterior”, disse, à época, o interventor.

Outras atuações das forças de segurança naquele dia levantaram suspeitas. Um dia antes dos ataques, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) publicou uma portaria dispensando um pelotão de 36 homens do Batalhão da Guarda Presidencial, para que não trabalhassem.

Assim, no dia seguinte, o efetivo que foi convocado no domingo para a segurança local foi muito inferior. Quando os bolsonaristas já estavam dentro das sedes dos Três Poderes, depois das 15h do domingo, é que o chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), general Henrique Dutra Menezes, ativou mais 133 homens e equipementos de choque para o Planalto.

Documentos e depoimentos revelaram que o Exército também atuou incisivamente a favor dos invasores bolsonaristas. Os militares impediram a Polícia Militar de atuar contra o acampamento de bolsonaristas em frente ao quartel-general do Distrito Federal em três episódios.

Nos dias e semanas que se seguiram ao episódio, o governo Lula realizou uma ampla varredura no Gabinete de Segurança Institucional de seu governo, além de diversos membros do Ministério da Justiça e da Defesa, ligados a militares e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ao final daquele 8 de janeiro, o presidente Lula, que havia assumido o Poder uma semana antes, afirmou: “O que eles querem é golpe, e golpe não vão ter”. “Nós não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos”, assegurou o presidente.

Confira, abaixo, o cronograma da tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023:

– Ainda na tarde de sábado (07), o ministro da Justiça Flávio Dino havia autorizado o uso da Força Nacional, com a assinatura de uma portaria, em meio ao avanço de grupos radicais em Brasília.

– Os bolsonaristas romperam a barreira de segurança da Praça dos Três Poderes por volta das 14h30 deste domingo.

– Sem efetivo policial suficiente no local e com alguns agentes auxiliando os criminosos, os grupos avançaram rapidamente para o Congresso Nacional, o Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

– O responsável pelas forças policiais, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, estava nos Estados Unidos, aonde também se encontra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O governador Ibaneis Rocha (MDB) foi cobrado pela omissão e demitiu Torres do cargo.

– Quase três horas após o início da invasão e sem reação do efetivo policial, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, decretou intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal.

– Lula nomeou Ricardo Cappelli como o interventor da Segurança em Brasília, até o dia 31 de janeiro de 2023. Capelli era secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em discurso, Lula afirmou que a cena ocorrida “não tem precedente na história do nosso país” e garantiu a punição.

– Juntamente com o ato de Lula, a Advocacia-Geral da União (AGU) emitiu uma série de solicitações judiciais, entre elas a prisão de Anderson Torres, que se encontrava nos EUA, o monitoramento e identificação dos criminosos bolsonaristas, a remoção de suas redes sociais e a prisão e identificação de todos os responsáveis.

– Após as medidas do presidente, o governador do Distrito Federal decidiu intimar todas as forças de segurança do DF a atuarem na Praça dos Três Poderes. Com o comando, em menos de 2 horas, as forças de segurança conseguiram esvaziar as sedes públicas e prender em flagrante cerca de 150 criminosos.

– Lideranças de todo o mundo repudiaram os atentados contra a derrubada de Lula no Brasil, solidarizando-se e oferecendo ajuda e suporte para combater os atos terroristas e restabelecer a ordem no país.

– Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden caracterizou o vandalismo como “ultrajante” e deputados dos EUA defenderam a extradição de Jair Bolsonaro.

– O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, gravou um vídeo com um pedido de desculpas a Lula e indicou ter sido pego de surpresa com os atos, apesar do avanço dos grupos bolsonaristas ainda nos dias anteriores e a chegada à cidade de centenas de ônibus com milhares de integrantes criminosos para a invasão.

– O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de uma investigação para detectar e punir os responsáveis e envolvidos nas invasões. O procurador também acionou o comitê de crise do Ministério Público Federal (MPF), orientou todas as unidades do país para atuar de forma conjunta e pediu a criação de um canal para recebimento de denúncias.

– Na noite de domingo, o ministro da Justiça Flávio Dino responsabilizou a falta de reação do governo do Distrito Federal e anunciou que haviam sido presos mais de 200 golpistas e apreendidos 40 ônibus, com a identificação dos financiadores destes veículos.

– Dos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou quase 7 horas após o início dos atentados. Nas redes sociais, não repudiou explicitamente os criminosos e disse somente que atos assim “fogem à regra”. Também atacou Lula por ter atribuído a ele responsabilidade nos atos.

– Em nota, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que “foi levado a efeito um complexo plano criminoso de abolir, violentamente, o Estado Democrático de Direito” e que “todos precisam ser punidos”, principalmente “as autoridades omissas”.

– Ao retornar do Palácio do Planalto, o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, deu seu relato sobre as obras de arte perdidas e danificadas, em valores incalculáveis: “Eu tinha acabado de montar, na sexta-feira, o 3º andar, remontamos a sala do presidente e a gente teve, realmente, muito vandalismo. Temos uma situação como a tela do Di Cavalcanti, enorme e muito importante, rasgada em 7 pontos.”

– Na madrugada de (09 de janeiro), o ministro Alexandre de Moraes acatou a um dos pedidos da AGU e determinou ao afastamento de Ibaneis Rocha do governo do Distrito Federal. Moraes falou em “omissão e conivência de diversas autoridades da área de segurança e inteligência ficaram demonstradas com a ausência do necessário policiamento, em especial do Comando de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal.”

– Moraes também determinou a desocupação e dissolução dos acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis generais do Exército no prazo de 24 horas. Os golpistas foram presos em flagrante pelos crimes de “atos terroristas, inclusive preparatórios”; “associação criminosa”; “abolição violenta do Estado Democrático de Direito”; golpe de Estado; “ameaça”; “perseguição”; e “incitação ao crime”.

– Após a determinação, a Polícia e o Exército desmontaram o acampamento bolsonarista em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Ao menos 1.200 bolsonaristas foram levados presos e 87 veículos foram apreendidos.

– Movimentos sociais e instituições progressistas, como universidades e sindicatos, convocaram atos pela democracia em todo o Brasil para o dia seguinte, 9 de janeiro. As concentrações terão início entre às 16h e 18h, em todas as regiões do País.

– O senador Renan Calheiros (MDB-AL) pediu o retorno imediato de Jair Bolsonaro ao Brasil, com um pedido de extradição encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), para incluir o ex-presidente nas apurações sobre o terrorismo daquele domingo.

– Diante da “infiltração” de bolsonaristas e da omissão dos comandos da Polícia Militar do Distrito Federal, o governo Lula negociou com estados do Nordeste o envio de tropas para auxiliar na segurança da capital federal. Efetivos do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte embarcaram rumo a Brasília para somar esforços às forças de segurança que estavam sob intervenção federal.

– O atentado a golpe no Brasil foi manchete de jornais de todo o mundo. Os mais reconhecidos jornais estamparam os bolsonaristas nas capas: “Teste de golpe”, “vírus do Trumpismo”, “populacho de Bolsonaro”, “alegação de fraude eleitoral sem nenhuma evidência” foram algumas descrições usadas pelos norte-americanos, britânicos, espanhóis, franceses, italianos, portugueses e latino-americanos.

– O ministro da Justiça Flávio Dino informou, na tarde de segunda (9), que no to total, houve 1.500 prisões em Brasília. Dino afirmou à imprensa que o GSI precisa explicar porque seu efetivo não protegeu o Palácio do Planalto. O ministro vê “responsabilidade política” de Bolsonaro, por ter fomentado ataques ao STF por vários anos. 

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 08/01/2025