O presidente Lula (PT) sacramentou, nesta terça-feira 7, a chegada do publicitário baiano Sidônio Palmeira à Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que vinha sendo comandada desde janeiro de 2023 por Paulo Pimenta (PT-RS).
É sintomático que a primeira alteração ministerial de 2025 atinja a comunicação. Lula virou o ano fazendo críticas à área, sob a avaliação de que o governo não consegue transmitir devidamente suas realizações à população.
“Há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem”, disse o presidente em um evento do PT em 12 de dezembro.
A decisão não surpreende. Sidônio, atuando há meses como consultor informal do presidente, já vinha ganhando mais nacos de poder no governo. Teve papel determinante, por exemplo, no desenho da estratégia de comunicação para o anúncio da nova faixa de isenção do Imposto de Renda junto ao pacote fiscal, medida que buscou reforçar a narrativa de alívio econômico para a classe média.
Sidônio e Pimenta participaram juntos de eventos importantes nas últimas semanas de 2024, como a confraternização de Lula em 20 de dezembro e a gravação do pronunciamento de fim de ano, exibido em 24 de dezembro. Além disso, Sidônio delineou as diretrizes do anúncio oficial da chegada de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central. No vídeo, ao lado de Galípolo e dos ministros Fernando Haddad, Rui Costa e Simone Tebet, Lula afirmou: “Você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve.”
Com larga experiência em marketing político, Palmeira é visto como alguém mais capaz de reagir às frequentes e complexas demandas da comunicação social em tempos de polarização, desinformação e desregulação da internet. Seu desafio número será reverter o marasmo na avaliação popular para que o governo chegue forte em 2026, ano em que Lula pode disputar a reeleição. Mas há outros, como o intrincado jogo de poder entre a primeira-dama, Janja, e a rede de aliados e assessores de alta cúpula do presidente. A dança das cadeiras já começou e, entre os mais chegados, apenas o fotógrafo Ricardo Stuckert, hoje no comando de uma secretaria, está garantido no no cargo.
As pesquisas indicam certo descompasso entre bons indicadores econômicos e a percepção da pública. Um levantamento da Quaest divulgada no início de dezembro revelou que, embora 51% das pessoas tenham expectativas positivas para 2025 e relatem certa melhora econômica, há uma preocupação persistente com o aumento do custo de vida – para 68%, por exemplo, o poder de compra encolheu, contra 61% que diziam o mesmo em outubro; 78% disseram que o preço dos alimentos subiu, contra 65% na pesquisa anterior. “Tem um gap que precisa ser resolvido”, reconheceu o agora ministro meses atrás, em entrevista a CartaCapital.
Esse diagnóstico é há tempos repetido nos corredores do Planalto. O tempo para o tratamento, porém, é cada vez mais curto. Um caminho seria articular estratégias que incluam a “repolitização” da comunicação, como sugere o historiador João Cezar de Castro Rocha. Ele sustenta, por exemplo, que o presidente deve recorrer com maior frequência às cadeias nacionais de rádio e televisão, a fim de explicar medidas como o reajuste real do salário mínimo, um avanço frente aos anos de Michel Temer (MDB) e Bolsonaro, além de mobilizar de forma mais efetiva manifestações públicas de apoio.
“Um segundo tempo”
Em meio à troca de bastão da Secom, Palmeira voltou a destacar a importância de alinhar as expectativas, os feitos do governo e a percepção pública. “É um segundo tempo que estamos começando”, declarou o publicitário nesta terça-feira. “É nesse sentido que vamos trabalhar, com muito afinco e muita transparência, procurando que a comunicação chegue na ponta.”
Ele também enfatizou que a comunicação não é uma tarefa exclusiva da Secom, mas de todo o governo (“Tem a política, tem a gestão e tem a comunicação. Esses três entes são interligados.”), e apontou a necessidade de modernizar a gestão. “As pessoas colocam algumas vezes até que [a comunicação do governo] é analógica. Acho que a gente precisa evoluir nisso. Já é um início, mas precisa ter uma evolução, e é importante. Isso é um papel do governo: comunicar. É um papel e uma obrigação do governo comunicar o que foi feito.”
Sidônio Palmeira tem também posição clara sobre o impacto das redes sociais no debate público. Para ele, a desinformação e os discursos de ódio permanecem como os principais motores de engajamento no ambiente digital. Ele defende a regulamentação das plataformas digitais, o que o Supremo Tribunal Federal pode fazer neste ano, ainda que de forma tímida. O Congresso Nacional, por sua vez, lavou as mãos e se nega a enfrentar o tema.
Pragmatismo discreto
Diferentemente de nomes como Duda Mendonça e João Santana, marqueteiros de campanhas anteriores de Lula, Sidônio não busca os holofotes. Formado em Engenharia e com histórico de ativismo estudantil na Universidade Federal da Bahia, migrou para a comunicação política no início dos anos 1990, tendo destaque na campanha de Lídice da Mata à prefeitura de Salvador em 1992.
Depois, foi responsável pelas campanhas ao governo da Bahia de Jaques Wagner (2006) e Rui Costa (2014), além de ter comandado a estratégia da bem-sucedida campanha de Lula à Presidência em 2022, marcada por um cenário de polarização extrema e desinformação nas redes sociais. “O desafio que tínhamos naquela eleição era fazer a verdade tão encantadora quanto a mentira”, resume ele. Na chefia da Secom, sua tarefa será “encantar” a população com a divulgação institucional do governo, em um contexto tão delicado quanto o das urnas.