“Emilia Pérez”, o musical do diretor francês Jacques Audiard sobre um chefe de cartel transgênero, começa com um sequestro e, durante seus intermináveis 132 minutos, é como se o espectador estivesse sendo mantido refém. Não é apenas o pior filme do ano, mas um insulto à comunidade trans e à nação mexicana como um todo.
O longa venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, desbancando “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles Jr., que era o favorito. Somava dez indicações e agora é apontado como um dos grandes concorrentes ao Oscar, quando deve enfrentar novamente a obra de Salles.
A trama começa com Rita (Zoe Saldaña), uma advogada cínica na Cidade do México, sendo sequestrada para se encontrar com Manitas del Monte (Karla Sofia Gascón), narcotraficante assassino em massa com um segredo: ela é uma mulher trans que permaneceu no armário por anos, temendo represálias violentas de outros membros do cartel.
Após iniciar a terapia hormonal, Manitas planeja forjar sua morte, enviar a esposa Jessi (Selena Gomez) e os filhos ao exílio na Suíça e completar sua transição, adotando a identidade de Emilia Pérez. Cinco anos depois, Rita e Emilia se reencontram em Londres. Sentindo falta da família, Emilia convence Rita a ajudá-la a trazê-los de volta ao México, onde planeja viver como uma parente distante de Manitas.
Buscando expiar seus crimes, Emilia funda uma instituição de caridade, La Lucecita, para investigar desaparecimentos e assassinatos ligados ao cartel. Enquanto isso, Jessi, sufocada e controlada, reacende um caso amoroso, complicando ainda mais os eventos.
As canções do musical são absurdas e mal integradas à narrativa. Num dos números, uma equipe inteira do hospital de Bangkok canta e dança enquanto explica os vários procedimentos cirúrgicos: “Mamoplastia, vaginoplastia, rinoplastia, laringoplastia…”
Tão ofensiva quanto a abordagem do filme em relação às questões de gênero é sua representação da violência do narcotráfico no México e do país como um todo, retratado de forma generalizada como corrupto, violento e sujo. Bandidos do narcotráfico e suas vítimas se reconciliam por meio de canções, o que resulta em uma completa banalização de um conflito que já tirou a vida de centenas de milhares de pessoas e deixou outras tantas desaparecidos, tudo para atender à demanda por drogas de países como os Estados Unidos e a França, que financiaram a produção.
“Emilia Pérez” é um desastre do começo ao fim, zombando das pessoas que supostamente busca enaltecer.