Fundos de investimento cristãos nos Estados Unidos, com um potencial estimado de até meio trilhão de dólares, estão pressionando grandes corporações a encerrar políticas consideradas progressistas. Segundo um levantamento da Bloomberg, esse movimento está em ascensão e reflete uma guinada conservadora no uso do capital financeiro para influenciar setores-chave da sociedade.
Investimentos com foco religioso não são uma novidade nos Estados Unidos, mas geralmente voltados para causas como direitos trabalhistas e mudanças climáticas. No entanto, a guinada conservadora fez com que esses fundos entendessem o poder de influenciar mais setores da sociedade. Como acionistas de grandes empresas, eles passam a fazer reivindicações às grandes corporações para encerrar medidas de diversidade, pró-aborto e em apoio à causa LGBT.
Fundos cristãos
A GuideStone Funds, fundada há 106 anos no Texas, é um dos maiores exemplos desse movimento. Gerenciando cerca de US$ 24 bilhões (aproximadamente R$ 149 bilhões) em ativos, a empresa é parte de uma coalizão cristã conservadora que utiliza sua influência acionária para moldar políticas corporativas.
Entre as iniciativas dessa coalizão estão o combate ao financiamento de eventos como paradas do orgulho LGBTQ+ e o custeio de viagens para abortos por empresas.
Atualmente, existem cerca de meio trilhão de dólares investidos por fundos religiosos e fundos de pensão em estados conservadores. Esse montante, segundo Will Lofland, chefe de advocacia acionária da GuideStone, confere à coalizão cristã conservadora um poder financeiro e acionário considerável para influenciar o comportamento corporativo. A coalizão inclui a Inspire Investing, a maior gestora de ETFs baseados em fé, além de tesoureiros estaduais republicanos e o grupo legal conservador Alliance Defending Freedom.
Uma das primeiras iniciativas desse movimento ocorreu em 2023, quando a coalizão apoiou uma proposta acionária contra a Microsoft sobre benefícios relacionados a cuidados reprodutivos e disforia de gênero. Embora a proposta tenha recebido apenas 1% dos votos, ela representa o início de um movimento que tende a ganhar força nos próximos anos.
Contexto conservador nos Estados Unidos
Com o retorno da extrema-direita à Casa Branca, liderada por Donald Trump, o conservadorismo nos EUA tem ganhado força. A coalizão religiosa busca expandir sua influência, reunindo-se com executivos para exigir mudanças corporativas alinhadas aos seus princípios.
“Os investidores querem honrar o Senhor com todos os seus recursos”, afirmou ele a Bloomberg.
“Eles querem que seus dólares sejam investidos de uma forma que consideram estar de acordo com os princípios de Deus.”
A influência religiosa nos negócios e na política
A relação entre capital financeiro e religiosidade não é nova. Em entrevista à TV GGN, o historiador Rodrigo de Sá Netto destacou, em seu livro O Partido da Fé Capitalista, como igrejas norte-americanas utilizam sua influência no Brasil para moldar políticas e decisões econômicas.