Um plano de recuperação judicial inacreditável da 123 milhas, por Eduardo Ramos
Recebo um e-mail da empresa 123 MILHAS expondo seu plano de recuperação judicial, um apelo quase comovente… – para que nós, os milhões de brasileiros prejudicados imensamente pela empresa, o aceitemos, “sob pena de não vermos um centavo sequer” do nosso dinheiro escoado por ralos, ou de má gestão, ou, na pior das hipóteses, por fraude mesmo, o que não está descartado pelo Poder Judiciário.
O e-mail alerta que além da aprovação da Justiça, nós, os perdedores, temos que votar se aceitamos ou não a “proposta”, e isso sob o peso de uma chantagem explícita:
“O plano apresentado precisa ser aprovado e votado pelos credores para depois ser homologado pela Justiça. Só assim poderemos iniciar os pagamentos.
Caso o plano não seja aprovado, o Grupo 123 entrará em falência, encerrará sua operação e venderá seus bens para liquidação das dívidas. Entretanto, neste cenário, os seus maiores ativos que são seus clientes (quase 3 milhões nos últimos meses) a sua tecnologia, inovações, pessoas, conhecimento e vantagem competitiva para oferecer os seus serviços teriam valor muito pequeno de venda.
Assim, em caso de falência, restaria a venda apenas dos bens tangíveis, como computadores e outros bens, equivalentes a apenas 0,2% do total devido, o que levaria à impossibilidade de ressarcimento da maioria dos credores.
Ou seja, ou aceitamos a excrescência que nos foi apresentada, ou “perdemos tudo”, argumenta a 123 MILHAS em seu pedido por “nossa compreensão e adesão ao plano” (sic…)
As propostas são do tipo pagamentos semestrais A PARTIR DE 6,5 ANOS APÓS A HOMOLAGAÇÃO DO ACORDO, com a vantagem extraordinária de um cashback de fantásticos 4% sobre passagens e pacotes comprados junto à empresa por esses credores. Me comovi: se eu gastar R$200.000,00 com a empresa, vejam bem, posso reaver os quase R$8.000,00 que perdi ao confiar neles como milhões de brasileiros.
Pouparei aos leitores sobre o restante do teor do tal plano. A mim, tudo soa de um CINISMO ATROZ! É como se dissessem assim: “sentimos muito por esse terrível incidente. Não nos deixem falir, por favor, queremos continuar a prestar nossos bons serviços, mas para isso, PRECISAMOS QUE VOCÊS VISTAM A ROUPA DEFINITIVA DE PALHAÇOS E, NA PRÁTICA, PERDOEM O CALOTE RECEBIDO!”
Meu voto é apenas um: falência! E seriedade da justiça na apuração dos fatos, com a devida punição de eventuais fraudadores, se essa for a conclusão da Justiça.
O plano de recuperação judicial ora apresentado é um ESCÁRNIO aos lesados pela 123 MILHAS.
Obs. link da proposta de pagamento aos credores para quem se interessar:
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