No programa Roda Viva, Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme “Ainda Estou Aqui”, respondeu às críticas que afirmam que o filme deveria ter abordado de forma mais ampla o impacto da ditadura militar em pessoas negras e de classes menos abastadas.
A crítica mais contundente veio do influenciador Thiago Torres, para quem a maioria da população negra e pobre do Brasil continua sob a violência policial e a repressão, mesmo após o fim da ditadura.
“O livro era sobre a minha mãe, sobre aquele período, aquele fato, mas o que é importante no filme é que mostra uma família burguesa que poderia se acomodar, como quase todas as famílias burguesas brasileiras, poderia se aproveitar da ditadura para enriquecer, com a maioria das famílias paulistanas fizeram, só que não”, começou Marcelo.
Meu pai, com 32 anos, lutou pela Reforma de Base, que é exatamente para tirar os negros da posição em que eles estavam – os negros, vulneráveis e pobres; pela Reforma Agrária na beira das estradas, o que seria fantástico; imagina, se você tem, nas estradas, pequenas fazendas de agricultura familiar que criam porco, leite, alface, e vendem para as cidades…
Cassado após o Golpe de 64, Rubens Paiva foi detido em sua casa em 20 de janeiro de 1971; levado ao DOI, foi assassinado sob tortura e seu corpo jamais foi encontrado.
O escritor também destacou que, embora o livro aborde mais profundamente interações com pessoas de diferentes estratos sociais, o filme não conseguiu abordar todas as nuances. Ele mencionou a relevância de outras figuras históricas negras e de classe trabalhadora que lideraram movimentos de resistência durante a ditadura, como Osvaldão, Marighella e Onofre Pinto.
Além disso, Marcelo citou o exemplo de Ana Dias, uma mulher negra que perdeu o marido, o sindicalista Santo Dias, torturado e morto na década de 70, e que se manteve firme na luta por justiça.
O escritor admitiu que ele aborda mais esses aspectos no livro, uma vez que jogava bola com a “galera da Favela do Pinto”. O jornalista Tom Farias rebateu. “Se fosse uma família de classe média baixa ou negra, você acha que a ditadura teria o mesmo comportamento… Ou seja, chega em sua casa, senta, dá bom dia ou boa noite, almoça com a família, joga cartas… Ou sairia arrombando portas?”
E roubando, matando, torturando, como foi com a família do Amarildo, né, como foi com a Marielle [Franco, 1979-2018], sem a menor dúvida.
Em um comentário final, Marcelo Rubens Paiva lamentou o caso de violência policial recente em São Paulo, quando um jovem foi jogado de uma ponte por um policial militar, destacando a continuidade da brutalidade e injustiça social no Brasil contemporâneo.