fábricas fake news ajudam mercado sabotar economia

Moisés Mendes*, em seu Blog

Nem o estagiário do Banco Central acreditou na história de que Gabriel Galípolo teria dito que a moeda dos Brics poderia salvar o mundo da hegemonia exercida pelo dólar há décadas.

Mesmo assim, foi noticiado que a fake news sobre a fala improvável, disseminada pelas redes sociais, seria investigada pela Polícia Federal, por solicitação da Advocacia-Geral da União.

Não duvidem se espalharem que o Brasil pode adotar de novo o cruzeiro como nome da nossa moeda. Tudo pode ser dito sobre moedas, que sempre sofreram ataques especulativos. Mas agora, com as redes e suas mentiras, a extrema direita ressentida e as facções organizadas da Faria Lima, fica mais complicado.

O estagiário sabe que Galípolo não diria nada sobre moeda dos Brics nesse tom e nesse contexto, muito menos às vésperas de assumir o comando do Banco Central. Mas o mercado financeiro finge que aquilo é verdade e tenta tirar vantagem da confusão que abala os mais influenciáveis, distraídos e imbecis.

O que todos sabem, inclusive um primo do estagiário, é que chamaram Galípolo para aparecer ao lado de Lula e Haddad como tática de emergência. Para que transmitissem ao mercado financeiro que há confiança mútua e respeito.

Porque o mercado é litúrgico e cerimonioso, por ser composto de gente de famílias finas. Esse mercado cheio de escrúpulos viu, dias antes do vídeo de Lula com Galípolo e Haddad, uma outra foto, de Roberto Campos Neto com Damares Alves e Michelle Bolsonaro.

Foi num jantar definido pelos jornalões como encontro de líderes do conservadorismo. Damares e Michelle seriam duas integrantes dessa turma de expoentes conservadores que defendem arcabouços e controle absoluto da inflação com juros altos.

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O mercado, que cobra bons modos de Lula em relação a Galípolo e por isso impôs que ambos se encontrassem, se diverte vendendo que os encontros seriam equivalentes. A direita adora essas equivalências, sempre em conluio com os seus colunistas de Folha, Globo e Estadão.

Para o mercado financeiro, o jantar de Campos Neto com Damares e Michelle é do jogo das convivências e vale tanto quanto o vídeo de Galípolo com Lula.

Consideram normal que, dias antes de deixar o cargo, o presidente do Banco Central tenha se encontrado com duas figuras que não expressam conservadorismo, mas ideias e ações da extrema direita.

O mercado que desafiou Lula a gravar uma prova de que não incomodará Galípolo, porque esse mercado exige retidão e decoro, é o mesmo que aplaude o encontro de Campos Neto com figuras do bolsonarismo decadente cercado por Alexandre de Moraes.

O presidente do BC foi ao encontro da gente dele, sem a menor preocupação com o impacto da reunião. Porque, como aconteceu com Sergio Moro, ele também pode arranjar emprego no bolsonarismo. A foto com Damares e Michelle é o custo a ser pago, mas é também ostentação, na falta de um Paulo Guedes.

E assim a vida segue, agora com o mercado de bucho cheio, porque Galípolo tem o compromisso de Lula de que não será incomodado. E Campos Neto pode, daqui a pouco, correr livre para os braços do pessoal que, como ele, veste a camisa da Seleção.

O estagiário, que presta atenção a tudo, sabe que essa semana outras fake news, nas quais a Faria Lima finge acreditar para causar alvoroço com o dólar e lograr incautos, serão investigadas pela Polícia Federal.

Não vão pegar ninguém, porque disseminador de fake news no mercado financeiro não é bobo que nem mané amador do 8 de janeiro crente de que seria protagonista de um golpe.

Ninguém quebra relógios antigos na Faria Lima. Eles tentam quebrar realidades, reputações, programas de governo e expectativas para os próximos anos. Eles precisam quebrar Lula.

Nesse mercado, a mentira dolarizada é coisa para profissionais de um Estado em que até o governo está sendo sequestrado pelas facções criminosas.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).

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Last Update: 23/12/2024