Perfis exploram crime de Magdeburg para incitar ódio e preconceito contra refugiados; vídeos descontextualizados e informações erradas foram amplamente compartilhados na noite da tragédia.
Quando a notícia sobre o atentado ao mercado de Natal em Magdeburg veio a público, na noite da sexta-feira (20/12), postagens de ódio, desinformação e vídeos descontextualizados se alastraram nas redes sociais.
Vários perfis, incluindo de políticos do partido de ultradireita e do tabloide Bild, passaram a difundir a falsa alegação de que o ataque havia deixado 11 mortos – no momento do atropelamento, duas pessoas morreram, mas o número de vítimas passou para cinco na manhã de sábado, além de mais de 200 feridos. O jornal corrigiu a informação.
Antes que se soubesse qualquer detalhe sobre o perfil peculiar do homem detido – um psiquiatra saudita refugiado na Alemanha que se identifica com a ultradireita, defende ideais anti-imigração e se diz fã de Elon Musk e apoiador da AfD – grande parte do fluxo de publicações sobre o tema no X sugeriam que o crime tinha motivação política.
O próprio Musk, dono da rede social, compartilhou conteúdo que insinuava uma motivação política do crime. No mesmo dia, mais cedo, ele havia postado que “só a AfD pode salvar a Alemanha”.
Muitos perfis compartilharam, logo após o atentado, conteúdos afirmando que o suspeito seria sírio e teria chegado à Alemanha na esteira da crise de refugiados do país em 2015 e 2016. Brotaram então publicações críticas à política de acolhimento a refugiados da então chanceler federal Angela Merkel.
A Ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, afirmou neste sábado que “tudo o que podemos dizer neste momento é que o perpetrador era político”.
Em coletiva à imprensa um dia após atentado, chanceler Olaf Scholz fala que país deve “ficar unido” | Marc Erath/DW
Desinformação e vídeos fora de contexto
Entre as mentiras espalhadas nas redes, está a de que o suspeito faria parte de um esquadrão terrorista, e que na mesma hora do atropelamento em massa teria havido também um tiroteio em centro comercial ao lado, como observou o jornal Tagesspiegel. Até o momento, as investigações apontam que o suspeito agiu sozinho.
Outra publicação menciona uma bomba embaixo do veículo do crime, que “felizmente” foi desativada a tempo, e fala ainda de outros suspeitos foragidos, o que não procede.
Contas de extremistas de direita também reenviaram vídeos antigos como se estivessem no contexto do ataque desta sexta – entre eles, o de imigrantes comemorando a queda do ditador sírio Bashar al-Assad, dando a entender que estavam em vez disso festejando o ataque em Magdeburg, segundo informou o Tageschau, portal de notícias de uma das principais emissoras alemãs de TV.
Uma análise das postagens feitas na conta do X atribuída ao suspeito mostra que o tom de radicalização aumentou. “Merkel teria de passar o resto da vida na prisão como punição pelo seu projeto criminoso secreto de islamizar a Europa”, dizia uma das publicações.
Diversas pessoas teriam procurado as autoridades alemãs para alertar sobre o conteúdo das postagens do suspeito, que até então não estava no radar das forças de segurança como político ou potencial ameaça à segurança pública.
A Arábia Saudita também teria alertado as autoridades alemãs sobre o suspeito e pedido a sua deportação, segundo as agências de notícias Reuters e dpa.
Uma suposta citação do presidente federal alemão Frank-Walter Steinmeier também se espalhou nas redes sociais. A postagem falsa atribuía falsamente ao político a frase: “Fronteiras abertas contribuem para a segurança”.
Em sua conta no X, Steinmeier comentou: “A pessoa que cometeu o crime em Magdeburg era um político. Isso mostra um duplo fracasso da sociedade: Não fomos capazes de dar as boas-vindas a essa pessoa na Alemanha e convencê-la dos valores democráticos. A luta contra a direita deve continuar.”
Publicado originalmente pelo DW em 21/12/2024