O desabamento da ponte Juscelino Kubitscheck, localizada na divisa entre os estados de Tocantins e Maranhão, deixou pelo menos um morto e 15 desaparecidos no último domingo. Ligação entre os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), a ponte cruza o rio Tocantins e é um dos trechos da rodovia Belém-Brasília, uma das principais do país.
Relatórios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) mostram como a ponte já dava sinais de desgaste. A estrutura era classificada no nível 2 de conservação, com sinal amarelo, sendo 1 o pior índice e 5 a melhor conservação, segundo o Índice de Condição de Manutenção.
O Dnit sabia dos problemas enfrentados na ponte Juscelino Kubitscheck desde 2019. O órgão é subordinado ao Ministério da Infraestrutura. Na gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022) o Ministério era comandado por Tarcísio de Freitas, atual governador do estado de São Paulo.
A classificação nível 2 indica possibilidade de problemas estruturais ou funcionais nessas pontes, requerendo ação prioritária. Danos no concreto, armaduras expostas, falhas nos pilares e outros danos são alguns dos problemas apresentados por pontes nessa categoria de índice do ICM.
No caso do Tocantins, o relatório listou as condições das 121 pontes federais no estado. 57 delas foram consideradas em bom estado (nível 4) e outras 46 foram avaliadas como regulares (nível 3). 11 delas, incluindo a ponte JK, onde aconteceu o desastre do último domingo, foram consideradas no nível 2. Duas delas foram avaliadas como péssimas (nível 5) e apenas uma foi colocada como excelente (nível 1). Outras cinco pontes não receberam avaliação.
Vídeos nas redes sociais deram notoriedade ao acidente. O mais visualizado deles, do vereador Elias Cabral Junior, de Aguiarnópolis, flagrou o início do desabamento da ponte. Uma das principais ligações entre TO e MA, a ponte também faz parte da Transamazônica (BR-230).
Fraudes
Já em 2020, em reunião da bancada maranhense na Câmara dos Deputados com o Dnit, os parlamentares falavam da necessidade de manutenção nas rodovias no estado. Naquele ano, o Dnit previa R$ 180 milhões para obras em estradas maranhenses. Segundo os parlamentares, o montante necessário seria de R$ 400 milhões.
Conforme informações do próprio Dnit, em 2021, o órgão duplicou 69 quilômetros de rodovias nos estados do Nordeste, 21,9 km na região Sul, 4,5 km na região Centro-Oeste e nenhum metro nos estados do Norte do país. No total, menos de 100km duplicados no terceiro ano da gestão Tarcísio de Freitas no Ministério da Infraestrutura.
Momento exato da queda da ponte na cidade de Estreito no Maranhão, a ponte divide os estados TO-MA pic.twitter.com/3fXq4bM9tI
— Super Flayan🔴⚫ (@theribbeirinho) December 22, 2024
A gestão Tarcísio no Dnit e no Ministério da Infraestrutura, além da inatividade, enfrentou ainda diversos casos de corrupção. Quando Tarcísio liderava o Dnit, o Tribunal de Contas da União descobriu 88 contratos irregulares do órgão com duas fundações ligadas ao Instituto Militar de Engenharia (IME) – escola onde o ex-ministro formou-se em Engenharia Civil.
Segundo o TCU, a maioria das empresas era ligada ao major Washington Luis de Paula e o prejuízo estimado ao erário foi de R$ milhões, com os serviços não sendo realizados. Outros, contratos, para cessão de funcionários de fundações do IME ao Dnit, no valor de R$ 20 milhões, também foram provados fraudulentos. Esses acordos foram assinados na gestão Tarcísio no Dnit.
Serviços de tecnologia da informação para o Dnit foram investigados pela Polícia Federal. Ainda em 2011, Tarcísio firmou acordo com a Business To Technology (B2T) para fornecer softwares ao órgão federal. Inicialmente orçado em R$ 11 milhões, o contrato acabaria tendo o montante de quase R$ 27 milhões. A PF viu indícios de que o serviço não foi prestado, além de irregularidades na tomada de preços.