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É curioso como os jornalões estão reagindo às notícias de denúncias contra um suposto cartel do câmbio, que opera no mercado brasileiro e provocou um salto inesperado do dólar – depois de um terrorismo sobre as contas públicas brasileiras.

O insuspeito economista e filósofo Eduardo Gianetti, em entrevista ao Estadão, foi objetivo: “Claramente, há uma reação exagerada do mercado financeiro”, afirma. “Os indicadores fiscais brasileiros, embora preocupantes, não são calamitosos. Longe disso. Nós não estamos na beira de nenhum precipício fiscal.”

Se houve uma reação exagerada, significa que foi fora do normal. Se foi fora do normal, não se pode buscar uma explicação dentro do normal. É evidente que houve uma articulação entre algumas instituições.

O tiro de partida foi dado pelo JP Morgan, anunciando a transferência de investimentos do Brasil para o México.

O que dizem do México as agências de risco?

Moody’s: Aponta preocupações relacionadas ao desgaste fiscal, crescimento econômico fraco e pressões decorrentes do suporte à Pemex, a empresa estatal de petróleo.
Fitch Ratings: Ressalta que uma recessão mais profunda nos Estados Unidos pode representar um risco significativo para a economia mexicana, dado o estreito relacionamento comercial entre os dois países.
S&P: Observa que, embora espere uma gestão macroeconômica cautelosa nos próximos anos, há desafios potenciais nas relações comerciais com os EUA, especialmente considerando possíveis novas tarifas e a revisão do acordo USMCA em 2026.

Mas o principal fator a alimentar as especulações foram, justamente, editoriais dos jornalões fazendo terrorismo sobre a situação fiscal.

O susto com a possibilidade de judicialização da questão do cartel ficou nítido nos dois jornais.

A Folha se superou, demonstrando mais uma vez a enorme falta de critério na seleção de colaboradores. Foi buscar uma mestre em jornalismo, totalmente jejuna em economia, para criticar os jornalistas que, a exemplo de Gianetti, estranharam os movimentos anômalos do mercado: “Culpar ataque especulativo ou memes pela alta do dólar é fábula em defesa do governo e acinte à checagem jornalística”.

Diz a notável sábia especialista: “Ora, a gastança sob Lula é um fato constatável por números. E até um neófito em economia sabe que um rombo fiscal impacta a confiança de investidores, reduzindo a entrada de dólares no país, além de pressionar a inflação e aumentar a demanda pela moeda dos EUA como ativo de proteção. Resultado: alta do dólar”.

E termina com uma lição de jornalismo econômico inacreditável, uma autocrítica clássica, não fosse o fato da autora não demonstrar sutilezas estilísticas.

“Quando a imprensa se deixa levar pelas ondas de narrativas, derruba um de seus pilares: a checagem. Para atribuir causalidades, jornalistas têm o dever de se ater aos fatos e ao conhecimento científico e empírico já produzido sobre o tema que abordam”.

O “conhecimento científico e empírico produzido”, segundo a notável analista, nada mais passa do que a repetição incessante de inverdades – como a que proclama o desajuste homérico das contas públicas -, que serve para amadores, como a articulista, se considerarem empoderados para abordar um tema que não dominam.

Nem se culpe a colunista. Ela apenas aproveitou um espaço dado pelo jornal em troca de uma opinião em defesa do próprio jornal. Ela entregou o que consegue entregar. A retórica raquítica é culpa da própria falta de critérios de qualidade do jornal.

De todo modo, as duas manifestações dos jornalões comprovam que entra-se em uma nova quadra da disputa econômica, na qual finalmente o crime de cartel passa a ser visto como uma possibilidade.

Não é apenas Zeca Dirceu, solicitando à Polícia Federal os dados de operações no mercado futuro da B3. Há grandes escritórios de advocacia preparando-se para ações judiciais para discutir a cartelização tanto do mercado de dívida pública quanto de crédito.

Poderá ser um capítulo relevante em direção ao amadurecimento do mercado e do capitalismo brasileiro.

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Last Update: 23/12/2024