Depois de um mês de compras intensas, que começou com a Black Friday e continuou com a Cyber Monday, estamos entrando em dezembro com a expectativa de Natal. No entanto, é importante lembrar que a nossa cultura de consumo está consumindo o planeta. A verdade é que, sob o capitalismo, tudo é uma coleção de mercadorias que existem para atender às necessidades do mercado e não às nossas.
O consumo pode ser transformado em uma tradução fácil de felicidade e conforto, que frequentemente vem da resolução de ansiedades. As pessoas consomem suas próprias fantasias, que estão encapsuladas nos objetos. Assim, a cultura de consumo desempenha um papel profundo na definição de estilos de vida e é preciso entender a cultura de consumo não apenas como um sistema complexo, mas também como um grupo de pequenas práticas cotidianas.
No entanto, quando vivemos em uma sociedade definida pelo consumo, temos a impressão de que todos os nossos problemas serão resolvidos por meio de novas compras. Nós politizamos o consumo. É como se o ato de comprar conferisse às pessoas uma camada de cidadania ativa. Mas, precisamos encarar que em tempos de emergência climática, as soluções para mudar os rumos do planeta não acontecerão pela via do consumo.
A indústria da moda, altamente criticada por seus excessos, abusos de direitos humanos e esgotamento ambiental, luta para dar respostas às suas contribuições para a tripla crise planetária. Hoje, podemos ver que supostas “inovações” na indústria não conseguiram diminuir seu impacto no mundo. O problema está no modelo de negócio, que é antiecológico por natureza.
Para lidarmos de forma justa com a crise do clima, é importante que haja uma revisão e propostas de matrizes socioeconômicas alternativas que sejam capazes de fortalecer a capacidade de desenvolvimento local sustentável e preservar ecossistemas e culturas dentro da cadeia da moda. Estudos que olham para alternativas ao sistema produtivo hegemônico da moda apontam para o papel e o espaço ocupado pelas mulheres em suas comunidades como um importante passo.
Podemos aprender muito com saberes e práticas que demonstram a riqueza cultural, a diversidade de habilidades, as relações estabelecidas com a natureza local, que podem envolver desde a produção familiar de algodão agroecológico ou da borracha natural, que vem regenerando territórios e mantendo as florestas em pé, passando pela produção de rendas e diversos trabalhos manuais que encontram na oralidade a preservação de suas tradições.
Dentro deste contexto, eu contribuí com a valiosa pesquisa “Cultura e Clima: integrando as agendas para um futuro sustentável”, que defende a importância da cultura como agente provocador e transformador da sociedade em meio à crise climática. A cultura aqui é apresentada como um elemento fundamental na construção do bem viver das populações e um fator estruturante para o desenvolvimento de qualquer política que pretenda ser efetivamente sustentável.
Portanto, é urgente avançarmos as discussões e complexificar o paradoxo da sustentabilidade em uma indústria que continua a projetar crescimento infinito. Se quisermos criar um cenário onde a moda contribua para um mundo mais justo e preparado para enfrentar a crise climática e outros grandes desafios que nos cercam, precisamos, acima de tudo, confrontar a natureza da cultura de consumo e da cultura corporativa, ou seja, a finalidade dos negócios, e confrontar o sistema econômico em si.