No dia 27 de novembro, uma aliança de milícias lideradas pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) partiu da província de Idlib em direção à cidade de Aleppo, no norte da Síria. Eram cerca de 20 mil combatentes, com armamentos leves e drones. Não tinham tanques, aviões, mísseis nem baterias antiaéreas.
Em 8 de dezembro, o ditador Bashar al-Assad e os principais oficiais do regime fugiram do país. As Forças Armadas se dissolveram, juntamente com os 18 temidos serviços de inteligência que praticavam detenções, torturas e execuções. A ditadura da família Assad caiu após 54 anos no poder. Como foi que isto aconteceu?
Pobreza e uma ditadura cruel
Por um lado, o regime Assad perdeu toda a sua base social devido à pobreza a qual estava submetida 90% da população e à violenta repressão estatal. Em 13 anos, mais de meio milhão de sírios foram mortos, 13 milhões se tornaram refugiados e 200 mil desapareceram no cruel sistema prisional do país. Não havia qualquer perspectiva de melhoria. Seus dois principais aliados não compareceram para sua defesa: o regime russo, que está atolado na Ucrânia, e o Hezbollah, em situação semelhante, no Líbano.
Comemoração popular
Por outro lado, a ampla maioria da população apoiou a revolução. No Norte, a cada cidade liberada, milhares de jovens se uniram às chamadas milícias rebeldes. No Sul, a população retomou a auto-organização dos primeiros anos da revolução e marchou em direção à capital, ocupando delegacias de polícia e postos militares, o que a população das cidades ao redor de Damasco também fizeram.
No caminho para a capital, 400 presídios foram abertos e milhares de presos políticos foram libertados. A libertação dos presos sinalizou o compromisso da Revolução Síria com as liberdades democráticas. Refugiados sírios, no Líbano e na Turquia, começaram a voltar para seu país.
Houve comemoração em todas as cidades da Síria, nas comunidades de refugiados sírios em vários países, no Líbano e até mesmo os palestinos na Faixa de Gaza comemoraram, sob os bombardeios genocidas do Estado de Israel. O Hamas, principal organização da resistência palestina, saudou a revolução na Síria.
O líder do HTS, Abu Mohammad al-Joulani (cujo nome real é Ahmed Sharaa), indicou um membro da sua organização, Mohammad al-Bashir, para assumir o comando de um Governo de Transição, encarregado da reconstrução do país, da elaboração de uma nova Constituição, sem participação popular, e de convocar eleições livres em 18 meses.
O futuro deve pertencer ao povo sírio
A única aliança que interessa à Revolução Síria é a aliança com a classe trabalhadora e a juventude dos países árabes, para derrubar as ditaduras árabes em uma nova onda de revoluções sociais. Essa aliança começa pelo apoio incondicional à resistência palestina. Uma vitória na Palestina representará a garantia de liberdade e de melhoria de vida para a classe trabalhadora síria.
Caberá à classe trabalhadora e à juventude sírias aproveitar as liberdades democráticas para construir sindicatos livres, associações estudantis, coletivos pelos direitos das mulheres, movimentos pela reforma agrária, grupos de direitos humanos, grupos de autodefesa popular, dentre outros.
Essas organizações, centralizadas em conselhos populares locais, unidos em nível nacional, poderão disputar o futuro da Revolução Síria, rumo a uma Síria socialista, como parte de uma Federação de Países Árabes Socialistas.
Riscos imperialistas
Aprofundar a revolução. Por uma Palestina livre!
A única aliança que interessa à Revolução Síria é a aliança com a classe trabalhadora e a juventude dos países árabes, para derrubar as ditaduras árabes em uma nova onda de revoluções sociais. Essa aliança começa pelo apoio incondicional à resistência palestina. Uma vitória na Palestina representará a garantia de liberdade e de melhoria de vida para a classe trabalhadora síria.
Caberá à classe trabalhadora e à juventude sírias aproveitar as liberdades democráticas para construir sindicatos livres, associações estudantis, coletivos pelos direitos das mulheres, movimentos pela reforma agrária, grupos de direitos humanos, grupos de autodefesa popular, dentre outros.
Essas organizações, centralizadas em conselhos populares locais, unidos em nível nacional, poderão disputar o futuro da Revolução Síria, rumo a uma Síria socialista, como parte de uma Federação de Países Árabes Socialistas.
Dinastia Assad inimiga da Palestina
A derrubada da ditadura fortalece a resistência palestina?
Muitas organizações de esquerda acreditam que a queda da ditadura Assad representa um retrocesso para a resistência palestina. Leda ilusão. A dinastia Assad sempre foi inimiga dos palestinos, de sua organização, a Organização para Libertação da Palestina (OLP), e de seu líder Yasser Arafat.
O golpe militar que levou Hafez al-Assad, pai de Bashar, ao poder, em 1970, foi realizado para impedir que armas chegassem da Síria até os palestinos, que lutavam contra a monarquia jordaniana. Em 1976, as tropas sírias invadiram o Líbano para impedir a vitória da Revolução Libanesa e da OLP, contra a extrema direita maronita (em referência a um grupo cristão, baseado fundamentalmente no Oriente Médio e vinculado à Igreja Maronita).
Assad também apoiou o massacre de palestinos no campo de refugiados de Tel al-Zaatar, em 1976, e, depois, apoiou a chamada “Guerra dos Campos” (1985-1988), uma agressão militar da milícia Amal, aliada de Assad, contra os campos de refugi