O ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula (PT), José Dirceu, criticou a escalada de violência da Polícia Militar de São Paulo, afirmando que a corporação “mostrou sua face, com atos de maior barbárie e desrespeito à dignidade humana”.
Dirceu também disse que nenhuma admissão pública de erro será suficiente caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não demita o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, e não implemente, de forma prática, mudanças no modelo de gestão da PM.
A escalada da violência da Polícia Militar de São Paulo mostrou sua face, com atos de maior barbárie e desrespeito à dignidade humana e sem punição exemplar para os responsáveis diretos nem para a cadeia de comando.
Confrontado com os fatos e por mero oportunismo político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumiu um mea-culpa. Reconheceu o seu erro ao não valorizar o uso das câmeras corporais no uniforme dos policiais e, embora sem mencionar diretamente os casos recentes, assumiu o óbvio; isto é, que o discurso de uma autoridade tem peso sobre o comportamento da tropa.
Apesar dos elogios que recebeu da imprensa, sejamos honestos: nenhuma admissão pública de erro será suficiente se Tarcísio não demitir o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, e se não demonstrar, na prática, mudanças no modelo de gestão da PM, no uso desproporcional da força e da visão de segurança pública baseada no poder excessivo e sem controle da polícia.
Desde os primeiros meses do governo Tarcísio de Freitas, ex-militar que designou o ex-capitão da PM e deputado federal pelo PL Guilherme Derrite, a PM passou a empregar mais violência em suas rondas policiais. Não se pode ignorar o fato de que Tarcísio sempre tratou com desdém as críticas a seu modelo de segurança, marcado pela arbitrariedade, violência excessiva e endurecimento desmedido e direcionado para pessoas negras, pobres e periféricas.
Os erros dessa política se mostram nos números do presente, mas remetem a um passado igualmente conhecido. No início, foi a chamada polícia mineira, embrião do que hoje conhecemos como milícia.
Depois veio o “Esquadrão da Morte”, organização paramilitar surgida no fim dos anos 1960 de dentro da Polícia Civil, à época comandada pelo delegado Sergio Paranhos Fleury. Na década seguinte foi criada a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) para combater opositores da ditadura militar.
Todas essas experiências, pregadas pela direita brasileira, adotaram a cultura da violência e da repressão, o assassinato indiscriminado e a violação de direitos humanos. A PM paulista segue essa tradição, incluindo a tradição de impunidade.
Para acabar com a violência policial, é preciso desmilitarizar a PM, rever o processo de formação dos policiais militares e adequar o currículo das academias a um novo conceito de policiamento que será, principalmente, de proximidade. É necessário, sobretudo, desenvolver a capacidade de inteligência não só da Polícia Civil, que faz a investigação, mas também da PM. Sem inteligência não há como combater o tráfico, hoje nosso principal problema de segurança pública.
Para mostrar que de fato se convenceu dos seus erros, Tarcísio precisa também rever o programa das câmeras corporais, profissionalizar a PM e, por fim, mas não menos importante, conter a politização indevida que avança na corporação. Farda, política e promoção pessoal de policiais são inconciliáveis para uma segurança pública efetiva.