A rede de cooperativas da Reforma Agrária agrega 7 mil famílias cooperadas diretamente e outras 30 mil famílias beneficiadas. Foto: Juliana Barbosa

Por Fernanda Alcântara

A Reforma Agrária no Brasil é um problema histórico e uma política essencial para o desenvolvimento sustentável do país. Em tempos de crises climáticas e econômicas, iniciativas que mostrem que é possível construir um futuro diferente são fundamentais e, mais do que distribuir terras, a Reforma Agrária Popular é uma estratégia para garantir a soberania alimentar e fortalecer a produção de alimentos saudáveis no Brasil.

Neste sentido, as cooperativas e assentamentos de Reforma Agrária se destacam na produção de alimentos livres de agrotóxicos, na preservação ambiental e na valorização das comunidades rurais. Assim surge o Finapop, ou Financiamento Popular da Produção, como uma iniciativa inovadora e transformadora.

Por meio da plataforma, cooperativas e associações podem captar recursos de maneira direta e transparente, com apoio técnico e acompanhamento contínuo. Isso fortalece tanto a produção agroecológica quanto as redes de comercialização, consolidando um ciclo virtuoso que beneficia agricultores e consumidores.

Confira abaixo a entrevista com Luis Costa, diretor executivo do Finapop, que fala sobre como a plataforma é uma alternativa de transformação social, baseada na valorização do trabalho coletivo e na produção de alimentos que respeitam a terra e as pessoas.

O que é o Finapop? Como a plataforma tem se desenvolvido, com mais cooperativas e atraindo mais pessoas interessadas em investir?

Luis Costa: O Finapop é uma iniciativa de financiamento voltada para a produção de alimentos saudáveis, desenvolvida pelas cooperativas de Reforma Agrária, associações e empresas sociais presentes em territórios de Reforma Agrária em todo o Brasil.

As cooperativas apresentam projetos, e as pessoas, ao aplicarem seu dinheiro, têm o retorno financeiro e também um retorno de impacto social, com o incentivo na produção de alimentos saudáveis, em sistemas agroecológicos ou em transição agroecológica. Essa é a filosofia do Finapop.

Quais são as principais dificuldades que as cooperativas enfrentam para colocar os projetos em prática? Como a plataforma ajuda a resolver esses problemas?

Historicamente, o financiamento sempre foi uma pauta na luta pela Reforma Agrária. O crédito é essencial para custear a produção, montar agroindústrias, viabilizar canais de comercialização etc. Porém, os bancos tradicionais e a política pública têm se mostrado muito limitados para atender essa categoria, especialmente no caso da agricultura familiar como um todo, e, principalmente, para os agricultores familiares assentados.

O crédito, nesse contexto, surge como uma ferramenta adicional para impulsionar esses processos. A plataforma Finapop permite que centenas, hoje já milhares de pessoas, participem desse ciclo de forma coletiva. A produção gerada não apenas proporciona rendimentos para o investidor, mas também oferece uma alternativa à financeirização do mercado convencional e à especulação financeira.

Como o Finapop garante que os investimentos sejam seguros e tragam resultados para investidores e cooperativas, mesmo em cenários de crise econômica e oscilações?

Buscamos criar alternativas de financiamento baseadas em dois eixos centrais. O primeiro é estabelecer uma comunicação com as pessoas que consomem os alimentos produzidos pelas cooperativas em territórios de Reforma Agrária, mostrando que existe uma forma alternativa de fazer financiamento. O segundo eixo é o foco na produção de alimentos, especialmente em sistemas de transição agroecológica.

Esse projeto se sustenta nesses dois pilares e, para que isso funcione, as cooperativas de Reforma Agrária se organizam e operam em diferentes modelos de produção, promovendo a intercooperação.

E quais são as ações para além do financiamento que o Finapop realiza para aproximar os investidores dessas comunidades agrícolas?

Temos clareza de que o financiamento não é um fim em si mesmo, ou um “salvador da pátria”, mas uma ferramenta adicional. Ele complementa toda uma estrutura organizativa nos territórios de Reforma Agrária, não só da produção, mas também de processos de coletivização, intercooperação e estratégias estabelecidas de produção e comercialização.

A plataforma é bastante simples. A pessoa define o valor que deseja investir, a partir de R$ 100, e pode concluir tudo pela plataforma on-line, emitindo um boleto ou PIX para o pagamento. Após isso, ela começa a receber informações detalhadas sobre o projeto escolhido.

Confira parte da entrevista em vídeo:

*Editado por Solange Engelmann

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Last Update: 17/12/2024