No lançamento de meu livro em Poços de Caldas, faltaram alguns amigos, entre os quais Adnei Pereira de Morais. No dia anterior, ele foi internado em uma UTI. Dias atrás, ele partiu.
Adnei foi líder do Grupo Gente Nova. Lutador, de família humilde, chegou em Poços em meados dos anos 60 e conquistou a todos com seu entusiasmo pela vida e pelas ações sociais. Entrou no GGN e foi eleito presidente.
Quando montamos o conjunto Fascinação, ele era o nosso bongô. Era um conjunto único, que tinha Amaral, Tomas e Netinho nos violões, Arlei no violino, eu no cavaquinho e Adnei no bongô. E, na cantoria, Adnei e Júlia.
Mais tarde, mostrando-se à altura da formação política do GGN, Tomás tornou-se presidente do Diretório Acadêmico da PUC-SP, Netinho tornou-se presidente do PCdoB em São Paulo. Ambos foram presos e Tomás conseguiu fugir e se exilar, primeiro no Chile, depois na França.
Depois, foi fazer medicina na Universidade Nacional de Brasília e voltou psiquiatra. Mas nunca abandonou a vocação pública.
Quando a redemocratização trouxe novos ventos políticos a Poços de Caldas, com Tancredo Neves eleito governador de Minas Gerais, Adnei foi nomeado prefeito. Foi uma das gestões humanizadas que conheci, das intervenções públicas visando organizar os pequenos e, principalmente, fortalecendo enormemente a Secretaria da Saúde – criada por ele quando voltou de Brasília.
Terminada sua gestão, foi trabalhar no Ministério da Saúde justo no momento do fechamento do INAMPS e da criação do SUS (Sistema Único de Saúde). Coube a ele e ao polêmico ex-deputado Carlos Mosconi me trazerem as primeiras informações sobre a grande revolução da saúde.
Na sua função, integrou a equipe da OPAS (Organização Panamericana de Saúde) para implantar sistemas públicos em repúblicas africanas.
Terminado seu período em Brasília, voltou para Poços onde, ao lado da esposa Júlia, montou consultório para atendimento da população.
Era a voz aguda nas congadas que cantávamos, enquanto o amigo Júlia era o grave profundo.
Nos últimos meses, faleceram sucessivamente Júlia, Arlei e, agora, Adnei.
O último encontro do GGN foi há alguns anos, a convite do João Amaral – que partiu pouco depois. O vírus do bolsonarismo já havia se inserido no grupo. Mas foram extremamente elegantes, especialmente comigo, não permitindo a política na reunião. Limitamos a cantar as baladas de Pacífico Mascarenhas, as cantigas mineiras, dos tempos em que éramos um punhado de jovens sonhando em mudar o país.