Tão logo saiu do hospital após uma cirurgia para controlar uma hemorragia na cabeça, o presidente Luís Inácio Lula da Silva concedeu uma entrevista exclusiva ao programa Fantástico, da TV Globo, que aproveitou a oportunidade para fazer perguntas críticas sobre a economia e política do governo, e também resgatar a defesa da Operação Lava Jato.
Na entrevista, Lula detalhou sua queda no banheiro em outubro passado, acidente que gerou um machucado na cabeça, de onde provavelmente decorreu o sangramento identificado na semana passada. O médico Roberto Kalil confirmou que a hemorragia era uma situação grave e que havia risco de “acontecer o pior”, mas tudo correu bem e o presidente ficará em sua casa em SP nos próximos dias, aguardando nova bateria de exames no Sírio Libanês. Janja também foi entrevistada, confessando que teve medo de que Lula não saísse do hospital vivo.
Lula, que saiu de chapéu do hospital, decidiu expor os curativos na entrevista ao Fantástico. Superada a conversa sobre as condições de saúde, a jornalista Sônia Bridi perguntou se Lula acompanhou o noticiário político do país enquanto esteve internado. Foi quando o presidente respondeu que sim, citando a prisão do general Walter Braga Netto pela participação no plano de golpe de Estado em 2022.
A Braga Netto, Lula desejou amplo direito de defesa, ao contrário do que aconteceu com o presidente na Operação Lava Jato. Bridi aproveitou a deixa. A jornalista perguntou se Lula considera que não teve direito de defesa mesmo com seu caso tendo sido julgado por várias instâncias. O argumento de que o processo foi analisado e a sentença mantida em três instâncias é exatamente o mesmo usado por Deltan Dallagnol e Sergio Moro quando estes querem reafirmar que não cometeram abusos nem injustiças na Operação Lava Jato. Lula respondeu que teve seu direito de defesa cerceado.
O Fantástico, então, adicionou contexto na sequência da fala de Lula, resgatando sua história na Operação Lava Jato. A revista dominical disse que Lula só foi preso porque foi condenado em segunda instância Mais tarde, foi solto, tão logo o Supremo Tribunal Federal decidiu que prisão só deve ocorrer após o trânsito em julgado.
O programa também explicou que Lula teve seu processo anulado pelo ministro relator da Operação Lava Jato no STF, Edson Fachin, que reconheceu a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o caso. Depois, o STF também declarou Sergio Moro um juiz “parcial” para julgar Lula.
Em seguida, Bridi questionou Lula sobre como o pacote fiscal foi “mal recebido” pelo mercado e também perguntou o que o petista deixou de entregar nestes dois primeiros anos de mandato. Lula rebateu os questionamentos afirmando, no primeiro caso, que o Congresso pode ajudar a melhorar o pacote e que seu governo entregou tudo que planejou para o biênio. Ele ainda disse que o que vai mal no País são os sucessivos e indefensáveis aumentos na taxa básica de juros pelo Banco Central, até recentemente comandado pelo bolsonarista Roberto Campos Neto.
Nas redes sociais, a entrevista gerou crítica por parte de políticos e da imprensa progressista, que consideraram a edição do Fantástico uma “arapuca” para atacar a economia sob Lula e, de quebra, ressuscitar a Operação Lava Jato. A jornalista Hildegard Angel, por exemplo, sustentou que a comunicação do governo deveria ser mais estratégica na concessão de entrevistas.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, publicou no X uma mensagem explicando por que Lula teve sua presunção de inocência massacrada nos idos da Operação Lava Jato.