Em sua primeira entrevista após receber alta hospitalar, concedida nesse domingo (15) ao Fantástico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre sua saúde e a gravidade do ferimento que teve na cabeça, sobre a trama golpista, a reforma tributária, o pacote de corte de gastos e alta nos juros.
Ao ser questionado pela jornalista Sonia Bridi se conseguiu acompanhar as notícias mais recentes, Lula comentou sobre a trama golpista que envolveu o ex-presidente Jair Bolsonaro e apoiadores do alto escalão da República e das Forças Armadas. A possibilidade de golpe incluía a tentativa de assassinato de Lula, seu vice, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Superior Tribunal Federal (STF).
“Eu fiquei acompanhando a notícia política, com muita tristeza, por saber que pessoas que passaram a vida inteira recebendo dinheiro da União para cuidar da soberania nacional estavam tramando um golpe nesse país. É muito triste. É muito triste para quem começou a brigar pela liberdade democrática ainda muito jovem, sabe? Quem participou da campanha das diretas muito jovem, que foi pra rua fazer as primeiras greves desse país muito jovem”, lamentou.
As investigações sobre a tentativa de golpe, conduzidas pela Polícia Federal, culminaram na prisão do ex-ministro e ex-candidato a vice de Bolsonaro, o general Walter Braga Neto, no último sábado (14), e no indiciamento de Bolsonaro e outros 36 golpistas, a maioria, militares.
Ele completou dizendo: “É muito triste saber que pessoas que chegaram ao cargo de general de quatro estrelas montaram uma máquina de fazer maldade nesse país e queriam dar um golpe. Eu perdi quatro eleições. Cada vez que eu perdia uma eleição, eu ia para casa chorar minhas mágoas, reclamar e me preparar. Então, é muito grave o que eles fizeram. Eu fiquei chocado. Fiquei chocado”.
Apesar da gravidade dos fatos, Lula enfatizou que os acusados devem ter “a presunção de inocência que eu não tive. Eu quero que eles tenham todo o direito de defesa. Mas se forem verdade as acusações, essa gente tem que ser punida severamente para que sirva de exemplo ao Brasil”.
Ao falar sobre sua saúde, Lula declarou: “Eu achei que estava fora de perigo, essa é a verdade. Porque a última ressonância que eu fiz mostrava que estava diminuindo a quantidade de líquido na minha cabeça. Mas era engano meu”.
Ao falar sobre a reforma tributária, Lula disse que não quer fazer uma reforma para aumentar a tributo no país e que achava que se o Brasil arrecadar corretamente os tributos já estabelecidos por lei, o Brasil vai ter arrecadação suficiente para cuidar das coisas.
O presidente disse que deve conversar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as alterações e o texto final — de casa, devido à necessidade de repouso para sua recuperação — e reforçou: “o que a gente não quer é aumento de tributo”.
Ao falar sobre o pacote de cortes de gastos, Lula argumentou que ninguém no país tem mais responsabilidade fiscal do que ele e que não é a primeira vez que ele é presidente da República. Ele já governou o país e entregueu o país crescendo 7,5%. Entregueu o país com a massa salarial mais alta desse país. Entregueu o país, sabe, numa situação muito privilegiada. É isso que eu quero fazer outra vez. E não é o mercado que tem que se preocupar com os gastos do governo. É o governo. Porque se eu não controlar os gastos, se eu gastar mais do que eu tenho, sabe quem vai pagar? O povo pobre”.
Ao falar sobre a taxa de juros, Lula criticou a alta taxa de juros — cuja alíquota sofreu nova elevação, desta vez de um ponto percentual, chegando a 12,25% ao ano, após decisão tomada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central.
“A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação. A inflação está em 4 e pouco. É uma inflação totalmente controlada. Totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia. Não é do governo federal. Então, nós vamos cuidar disso também”, destacou.
Sobre o fato de estar prestes a entrar no penúltimo ano de seu terceiro mandato, Lula salientou que em 2025 e 26, “vamos começar a colher o que nós plantamos” e que “as coisas vão acontecer nesse país. Eu estou olhando para o seu rosto, Sônia, e estou vendo o povo brasileiro. É um compromisso de honra meu. As coisas vão acontecer nesse país”, concluiu.