A prisão do general Eduardo Silva no sábado (14) representou um marco inédito na história brasileira. É a primeira vez que um militar do mais alto posto do Exército é detido por ordem do Judiciário em um processo liderado por civis. A ação ocorreu no contexto de investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, aumentando a pressão sobre as Forças Armadas.
Integrantes da cúpula militar buscam agora se distanciar de Silva. Segundo quatro oficiais-generais ouvidos pela Folha de S.Paulo, a detenção gerou constrangimento dentro da corporação. No entanto, eles argumentam que os atos investigados foram realizados pelo ex-ministro de Bolsonaro enquanto ele estava afastado das atividades militares, atuando como político e sem ligação direta com os quartéis.
Além disso, os laços entre Silva e a cúpula militar já haviam se enfraquecido no final de 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), quando surgiram suspeitas de que ele tentava minar a liderança do então comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, devido à resistência deste a planos golpistas. As apurações da Polícia Federal (PF) confirmaram essas desconfianças, ampliando o afastamento entre Silva e o atual comando das Forças Armadas.
Embora a prisão já fosse considerada uma possibilidade, sua realização em um sábado pegou os altos escalões do Exército de surpresa. Há também preocupações sobre o possível envolvimento de outros militares ligados a Silva, como os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, que podem vir a enfrentar acusações semelhantes.
A atual liderança das Forças Armadas tem defendido que a trama golpista foi conduzida por militares da reserva, não configurando uma ação institucional. Silva foi preso sob suspeita de obstrução de justiça, acusado de tentar acessar informações sigilosas da delação premiada de Mauro Cid através de familiares do tenente-coronel.
Ele está detido na 1ª Divisão do Exército, no Rio de Janeiro, em uma cela individual, conforme prevê o regulamento militar, que garante aos oficiais o direito de prisão em quartéis antes de uma condenação definitiva.
No entanto, caso seja considerado indigno do oficialato pelo Superior Tribunal Militar, Silva poderá ser transferido para um presídio comum. Isso só ocorrerá se ele for condenado a mais de dois anos de prisão em um processo com trânsito em julgado e com a perda de posto e patente confirmada.
O Exército, por meio de nota oficial, afirmou estar colaborando com as investigações. “A Força não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos, procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”, destacou o comunicado.