O ex-vice-presidente da República, general da reserva e senador João Pedro Mourão (Republicanos-RS) admitiu, em entrevista ao Globo, o planejamento de um golpe “bem tabajara” durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para impedir a posse de Luís Inácio Lula da Silva (PT) em 2023:
As investigações da Polícia Federal indicam que o plano golpista não teve sucesso porque não houve aval do Alto Comando. Como vê o caso?
O Exército se baliza por três vetores: trabalhando dentro da legalidade, usando legitimidade e mantendo a estabilidade do país. O Exército não pode ser fator de instabilidade. É óbvio que uma reversão de um processo eleitoral na base da força lançaria o país num caos. Então, o Exército agiu dentro desses vetores. Foi a atitude correta do (general) Freire Gomes (que se recusou a ceder a apelos golpistas), não há o que contestar.
Mas não dá para negar que outros militares participaram da conspiração.
Mas é uma conspiração bem tabajara, conversas de WhatsApp. Em tese, houve reuniões, mas não levaram a nenhuma ação. Na linguagem militar, nós definimos como “ações táticas” tudo aquilo que há movimento. Não houve nada disso. Houve pensamento, não passou disso.
Há relatos até de carro oficial do Exército sendo utilizado.
Isso aí tudo tem que ser analisado dentro do contexto. Mas, vamos combinar, golpe não funciona assim. Golpe é como você viu aí na Síria, na Venezuela, na Turquia. É tropa na rua, é tiro, é bomba.
Seria necessário o apoio do Alto Comando, então?
Claro que seria. Como funcionaria um golpe? Você vai fazer o quê? Fechar o Congresso? Qual objetivo do golpe? Impedir a posse? Não tem nada disso. É um troço sem pé nem cabeça.
Se o Exército tivesse cedido, a instituição teria contrariado seus princípios?
A realidade é o seguinte: houve um processo eleitoral, tem uma parcela da população descrente desse processo, mas quando você soma prós e contras, o processo eleitoral foi esse. Os dois lados participaram ativamente, houve uma derrota eleitoral e tem que ser encarada dessa forma. E as Forças Armadas, como instituição de Estado, que não pertence ao governo A ou B, permaneceu à margem disso. (…)