Generais que trabalharam ou conviveram com Walter Braga Netto acreditam que o colega não aceitará ser abandonado ou traído por Jair Bolsonaro, o que pode levar o ex-ministro da Casa Civil a prestar depoimentos que impliquem ainda mais o ex-presidente no enredo da tentativa de golpe de Estado.
Segundo apuração do jornalista Marcelo Godoy, os colegas de Forças Armadas de Braga Netto vislumbraram em notas e manifestações da defesa as indiretas para Bolsonaro, que se manifestou timidamente a respeito da prisão do ex-ministro. Em novembro passado, uma mensagem divulgada à imprensa ressalva que Braga Netto foi um dos poucos que se manteve leal a Bolsonaro até o fim e ainda hoje.
“Os generais que conheceram e trabalharam com Braga Netto viram ali um recado. Braga Netto não aceitará ser abandonado, como o presidente é constantemente acusado de fazer com seus amigos e aliados. A palavra do general não parece ser fundamental, diante do contexto probatório em relação ao antigo chefe para condená-lo como beneficiário maior da trama golpista, mas ela pode ter um efeito devastador: levar a uma condenação unânime de Bolsonaro no STF”, descreveu Godoy.
O blog da jornalista e apresentadora da GloboNews, Andreia Sadi, repercutiu a manifestação de Bolsonaro sobre a prisão de Braga Netto – ele questionou como poderia haver obstrução de justiça se o inquérito policial foi concluído – como um “recado para Braga Netto ficar em silêncio”.
Sadi pontuou que, diferentemente de outro militares envolvidos no golpe, Braga Netto tem apoio político, o que reduz a tendência de sair uma delação da parte do ex-Casa Civil. “Entre militares, a avaliação é que a maior possibilidade de delação é a do general Mario Fernandes, suspeito de fazer parte de um grupo que planejou o assassinato de Lula (PT) e Alckmin”, apurou ela.
Boa parte das informações contra Bolsonaro e o núcleo duro do plano de golpe foram prestadas pelo ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, que acabou abandonado à própria sorte pelo ex-presidente. Delatado pelo ex-subordinado, Bolsonaro passou a afirmar que Cid agiu por conta própria em diversas situações. Já a defesa de Cid alega que ele apenas cumpria as ordens de Bolsonaro.
Braga Netto foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de ter participado da tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, de tentativa de golpe e Estado e de formação de organização criminosa, com “concurso material de delitos”, ou seja, com várias ações praticadas no decorrer do plano, o que poderá fazer com que várias penas sejam somadas.
“No caso de alguém como Braga Netto, as circunstâncias agravantes para cada um dos crimes de que é acusado devem elevar a pena bem acima do mínimo previsto para cada delito, podendo atingir até 30 anos de cadeia”, e sem perspectiva de anistia até o momento, pontuou Godoy.